Catedral Nossa Senhora Aparecida Votuporanga-SP |
A tentação é uma grande oportunidade para o autoconhecimento, pois nos permite conhecer as limitações e os pontos fracos do nosso relacionamento com Deus e com os outros. Somos, geralmente, tentados naquilo que são nossas brechas; nesse sentido, a Palavra nos chama à atenção: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, prepara a tua alma para a provação” (Eclo 2,1).
Não podemos nos desesperar diante da tentação ou provação, mas devemos ficar firmes e constantes, crendo que tudo ocorre segundo a Providência de Deus. Por isso, é preciso suportar as tentações sem perturbações e com ação de graças. Deus está conosco diante da tentação, precisamos contar com Sua presença, contudo, Ele nos garante: “Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar” (1Cor 10,13). É necessário suportar a tentação com paciência e humildade.
E assim, o Catecismo da Igreja nos ensina que para vencermos a tentação precisamos da graça de Deus e da virtude da fortaleza. Afirma: “A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza nos torna capazes de vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as perseguições. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e o sacrifício de sua vida para defender uma causa justa. “Minha força e meu canto é o Senhor” (Sl 118,14). “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33)”. (1808).
O que dizem os santos sobre a tentação?
Os santos também nos ajudam a entender o sentido da tentação em nossa vida e nos abre um caminho de compreensão para ficarmos firmes em Deus quando a tentação bater a nossa porta. São João Maria Vianney esclarece: “As pessoas mais tentadas são aquelas que estão prontas, com a graça de Deus, a sacrificar tudo pela salvação de suas pobres almas, que renunciam a todas as coisas que a maioria das pessoas buscam ansiosamente. E não é um demônio só que as tenta, mas milhões de demônios procuram armar-lhes ciladas.” Quaresma, tempo favorável para vencermos as nossas tentações e crescermos na intimidade com Deus.
Por Padre Reinaldo Cazumbá, via Canção Nova
Tenho refletido nestes últimos dias o que de fato está acontecendo com muitos de nós, com muitas de nossas Comunidades, paróquias e grupos de oração, que parecem que aos poucos começaram a entrar num certo tipo de Esfriamento Espiritual. Já não mais rezam como rezavam no início, já não partilham e colocam tudo em comum como colocavam, as reuniões carismáticas de oração se tornou um verdadeiro grupo de cantos, no qual não vemos e experimentamos a presença do Espírito, não mais vemos os dons sendo exercidos como eram antigamente…
Parece que a dificuldade em rezar se acentuou nas pessoas, e que somente aquele breve momento de oração antes de dormir se tornou suficiente para a pessoa dizer que esteve com Deus, e que naquele dia conseguiu rezar…Parece que por vezes o entendimento da misericórdia de Deus se tornou apoio para rezarmos pouco; “afinal de contas Deus é Misericordioso e sabe que não conseguimos rezar hoje…” – Geralmente essa tem sido as nossas desculpas.
Quando programamos um determinado tempo para rezar parece que a nossa oração não avança, parece que a nossa cabeça está tão cheia de coisas que “patinamos na oração“. Algumas pessoas são ainda capazes de dizer que coisas deste tipo acontecem porque na verdade estamos amadurecendo em nossa vida de oração, estamos progredindo e por isso não vamos sentir o entusiasmo do começo, o fervor dos inícios, pois estas coisas são para os iniciantes. Mas o problema que vejo e que me assusta, é que por vezes, nossa espiritualidade passa mesmo por tempos de “secura”, tempos de deserto, que nos ajudam a amadurecer; mas o que muitas pessoas estão vivendo é na verdade um ESFRIAMENTO ESPIRITUAL achando que estão vivendo um tempo de deserto…
Existe uma grande diferença entre ESFRIAMENTO e DESERTO.
O papa Bento XVI escreveu que a experiência de deserto e vazio nos ajuda a “redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida”. Com isso entendo que após um período de DESERTO, a pessoa logo voltará a experimentar a graça do que é ser de Deus, e assim a sua vida de oração terá novos e bons frutos… Mas não é isso que tenho visto, e nem é isso o que as pessoas tem partilhado comigo.
Existe até mesmo um grande desejo de ser de Deus, de fazer a vontade Dele; mas é como se a pessoa não conseguisse se mover, não conseguisse avançar; e mesmo sabendo que é preciso rezar, a pessoa não reza! E se reza, reza pouco achando que fez o suficiente!
Já não vemos mais nossos grupos de oração cheios como eram! E muitos dizem que é porque cresceram muito os grupos de oração e as pessoas se espalharam; mas vejo que se espalharam tanto que não conseguimos nem mais achá – las, porque os grupos de oração tem estado vazios, as equipes dos grupos não mais existem direito, e quando ainda tentam se reunir sempre tem aquela pessoa que parece que gosta de colocar um fardo e começa a dar palpites, do tipo que: não precisam se reunir toda a semana, que não precisam rezarem juntos, e ainda jogam a responsabilidade – que na verdade é por causa da preguiça espiritual deles – em Deus, dizendo que Deus escuta a cada um de suas próprias casas e que a equipe pode rezar sem precisarem se reunir….Oh boca infeliz!!!
Quando as coisas começam a se tornar muito burocráticas, e aqui não estou falando de ORGANIZAÇÃO, estou falando de burocracia, na qual quando uma pessoa que esta sendo chamada por Deus para partilhar a Palavra para os irmãos, se colocar à serviço, rezar na intercessão, vem uns e outros dizer que ela não pode, porque precisa passar por 2 meses de curso interno, fazer 12 apostilas, e ficar acompanhando 1 ano quem esta à frente da equipe para ela aprender, e só depois ela pode começar a servir, um grande absurdo! E vocês acham que estas coisas não acontecem?!
Meu irmão e minha irmã, a verdadeira renovação só pode acontecer individualmente ou em grupo se existir a força da Oração! Sem Oração não existirá um avivamento dos dons, dos carismas, não haverá uma renovação em sua vida e nem na vida da sua família! Deus é Deus, Ele não se deixa enganar! Não tente fingir para Deus que você tem rezado! Ele conhece você, e como você tem caminhando…E não basta dizer que Deus conhece o seu coração, porque desejo de mudança não converte ninguém! O desejo de mudança regado pela oração ai sim faz toda a diferença!
No nosso Catecismo ( Catecismo da Igreja Católica ) existem palavras vivas, cheias da sabedoria do céu e da igreja, que nos ensina o caminho que precisamos seguir!
No numero 2697 o CIC nos diz: “A oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento. Nós, porém, esquecemo-nos daquele que é nossa Vida e nosso Tudo.“
Isso é uma grande verdade! Nos encontramos com Deus, recebemos do Seu amor e do Seu perdão, Deus nos deu um novo coração e sabemos mesmo que recebemos um novo coração de Deus! Somente que a vida que foi depositada neste novo coração vai aos poucos ficando sufocada, aos poucos este coração vai ficando pesado, parece que a vida deste coração novo que nos foi dado vai passando por uma agonia, até chegar a morte desse coração novo!
E por que isso acontece?
“A oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento.“ Exatamente porque não rezamos! Porque não priorizamos Deus, as coisas de Deus, os momentos de estar com Deus! O coração novo só será novo sempre, se, eu e você, mantivermos nossa vida de oração; porque é somente por meio da oração que nos encontramos com Deus! Meu irmão e minha irmã NÃO há outro caminho sem ser a oração! Mas por vezes até começamos bem o nosso caminho, mas com o passar do tempo o que de fato acontece conosco que vamos desanimando?? O CIC também nos ajuda a entender o que acontece: “Nós, porém, esquecemo-nos daquele que é nossa Vida e nosso Tudo.“, e novamente vamos deixando de priorizar Deus!
O Catecismo, nos ilumina ainda mais quando diz: “É preciso se lembrar de Deus com mais freqüência do que se respira”. Mas não se pode orar “sempre”, se não se reza em certos momentos, por decisão própria…” (CIC 2697)
Meu Deus quanta VIDA há neste trecho! Olha o que o CIC nos ensina: “Mas não se pode orar “sempre”, se não se reza em certos momentos, por decisão própria…”
Você e eu não seremos homens e mulheres que estamos em constante oração se nós não PARARMOS em certos momentos para REZAR! Não podemos entrar nas atividades que nos consomem em nosso dia a dia se não pararmos por vezes para rezarmos, e ainda de preferencia a sós, você e Deus! Mesmo que as suas atividades sejam muitas e sejam para a evangelização, se você não PARAR para REZAR em certos momentos, você não conseguirá ser uma pessoa que se pode dizer que reza sempre!
Eu, como missionário da Comunidade Canção Nova, trabalho 100% para a Evangelização, se eu não parar para REZAR em certos momentos, eu não estarei rezando com a minha vida! Padre Jonas Abib é o nosso maior exemplo de um homem que trabalha muito e muito mesmo; mas não deixa NUNCA de rezar! Mesmo com sua idade avançada, e mesmo que não tenha o mesmo vigor físico que há 10 anos atrás, lá está o meu querido Padre Jonas rezando, rezando….
Padre Jonas entendeu e nos ensina em sua própria vida que: ” A oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento.”
Portanto, se você por qualquer motivo que seja está desanimado, está percebendo que você tem se tornado frio espiritualmente, se você percebeu que seu grupo de oração já não tem mais o ânimo e nem as experiências do Espírito na qual tinham no passado; é o momento da Oração na vida de vocês! É o momento de PARAR e se programar como daqui para frente você conduzirá a sua vida de oração com Deus, ou a vida de oração do seu grupo, da sua pastoral…É o momento de rezar de verdade!
Me desculpe se me delonguei nesta partilha, mas meu coração anseia pelo AVIVAMENTO, meu coração anseia pelo Espírito Santo; e sei que isso só acontecerá se voltarmos a Rezar!
Com isso aprendi que um dos primeiros pontos deste ESFRIAMENTO ESPIRITUAL que percebo que estamos vivendo, é consequência da falta de Oração! Voltemos a rezar, nos empenhemos! Certamente os frutos logo virão!
Oremos:
“Enviai Senhor sobre nós o Vosso Espírito Santo, e renovai a face de toda a terra!”
Deus abençoe você!
Por Danilo Gesualdo, via Livres de Todo Mal
Natal é um acontecimento festivo, alegre, com troca de presentes e muitas luzes. Tudo isto para ressaltar o anúncio do anjo: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lucas 2,10-11). Todas as manifestações externas, por mais grandiosas e belas que sejam, ainda são insuficientes para celebrar o mistério do Natal, isto é, Deus veio habitar entre nós e o sinal é “um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12).
Outra atitude fundamental para celebrar o Natal é o silêncio. Os textos bíblicos não falam de silêncio, mas fazem silêncio. A sobriedade e a brevidade dos relatos bíblicos impressionam. São breves dados e quase nada de falas, tudo reduzido a uma extrema simplicidade. Como dizemos com frequência: “não tem palavras para explicar”.
Pode-se caracterizar duas espécies fundamentais de silêncio: um que podemos chamar de ascético ou natural e o outro podemos chamar de sobrenatural. O silêncio ascético ou natural é realizado de muitas formas. Uma forma é a que busca o silêncio exterior em lugares e ambientes com menos ruídos, menos pessoas. Lugares privilegiados são aqueles que proporcionam o contato com a natureza. Também há o silêncio ascético interior que busca serenar o coração, a mente e o corpo. A espiritualidade da quietação do coração busca diminuir a influência da razão para dar lugar à oração. Encontramos esta busca em muitas religiões. O homem se impõe conscientemente o silêncio.
Vivemos imersos, as vinte quatro horas do dia, em barulhos e numa vida desenfreada. O período que antecede o Natal, também por coincidir com o final do ano, acelera ainda mais o ritmo. Toda esta agitação pode desviar o foco e impedir de viver o essencial. Desafiador é tomar a atitude de fazer silêncio. Romper com a lógica e a onda da maioria e aquietar-se. Fazer silêncio para provocar um encontro com Deus e com as pessoas.
A outra modalidade de silêncio é que podemos chamar de sobrenatural. Ela é provocada pelo contato com Deus. Um silêncio originado da manifestação ou da teofania de Deus. Aqui a iniciativa é de Deus e não do homem. O primeiro silêncio é do homem que quer conquistar Deus; o segundo é do homem que foi conquistado por Deus. A presença Dele faz calar o homem. Um silêncio marcado pelo assombro, adoração, alegria, e às vezes, até de temor.
No Natal fazemos silêncio sobrenatural diante misteriosa maneira escolhida por Deus para chegar a nós rompendo toda lógica humana. A grandeza de Deus é manifestada na fragilidade de uma criança, num presépio, num lugar singelo. Deus se revela sob o seu contrário. Escondendo a grandeza na pequenez, a força na fraqueza, a majestade na humildade. O homem moderno se lamenta com frequência do silêncio de Deus, mas não se dá conta de que Deus cala exatamente por que ele fala, porque não é suficientemente humilde para escutá-lo. Deus fala ao homem também com o seu silêncio; com isso o reconduz à verdade.
Acolhamos este grito que se eleva do Natal: Deus se despojou da sua tremenda majestade; não apavora mais, não quer apavorar; agora é Emanuel – Deus-conosco. Cale-se toda a terra, ajoelhe-se e O adore.
Por Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Isaías 9,1). Esse fato narrado pela Palavra de Deus aconteceu há mais de dois mil anos, no entanto, atualiza-se todos os dias. É Ele o motivo que nos faz celebrar o Natal, pois uma Luz brilhou em meio às trevas!
Há um clima diferente no ar, votos de felicidade, mãos estendidas, confraternizações e brilhos estão por todos os lados! Nas ruas, casas e lojas, por onde quer que andemos, as luzes piscam entre cores e formas, convidando-nos à celebração. Elas iluminam e encantam, trazem um colorido especial às realidades que, durante o ano, foram se tornando comuns e opacas pela rotina do dia a dia. As roupas e os adereços também ganham destaque nesta época; afinal, a moda no Natal é brilhar!
O que celebramos no Natal?
Somos envolvidos pela correria do comércio. Os presentes, as viagens e tantas outras realidades próprias do fim de ano fazem-nos viver um tempo diferente. Mas será que estamos mesmo celebrando o Natal? Ou seja, será que estamos celebrando o nascimento de Jesus, o Deus que se fez Menino, nascido da Virgem Maria, que veio habitar em meio a nós?
Ele é a verdadeira Luz que brilhou para o povo que andava nas trevas. Ele veio para nos salvar e fazer de nós participantes da Sua vida divina. Trouxe-nos a grande e esperada libertação; por isso celebramos Seu nascimento! Mas será que em nossos dias, tão agitados e interativos, temos tido tempo para tomarmos consciência dessa verdade?
Penso que, celebrar o Natal sem nos deixar envolver pela ternura do amor de Deus, expresso no nascimento de Cristo, é como participar de uma festa sem conhecer os anfitriões e nem o motivo da comemoração. Você está presente, come, bebe, admira a decoração, observa os convidados, mas não tem porque se alegrar, vive tudo de maneira superficial, indiferente. E tenho certeza que não é isso que Deus espera de nós justo na festa do Seu nascimento.
Lugar que Deus escolheu para nascer
Precisamos recordar com urgência o motivo da celebração do Natal, e nos prepararmos com dignidade para esta festa, sem nos deixarmos levar pelo clima externo do consumismo.
Mesmo que isso seja um grande desafio em nossos dias, é preciso fazermos nossa parte como cristãos! Aquela Luz que brilhou na Terra, há mais dois mil anos, é Jesus, a mesma Luz que deseja, hoje, iluminar nossa vida, dissipando toda espécie de trevas que o pecado nos incutiu.
Lembremo-nos de que, nosso coração é o lugar que Deus escolheu para nascer, pois somos únicos diante d’Ele. No entanto, como Pai amoroso que é, o Senhor continua a respeitar nossa liberdade e espera darmos o primeiro passo na direção certa, para que Sua luz entre em nossa vida.
É preciso abrir o coração para Cristo iluminar
Sem abertura de coração, a luz de Cristo não pode iluminar nossa vida! Ou seja: sem nos decidirmos a amar, perdoar, a sermos justos e dedicados, bondosos, alegres e pacíficos, não há como celebrarmos o nascimento de Deus em nós. Sendo assim, o Natal passa a ser mais uma festa sem sentido. Não basta presépios, Missa do Galo, troca de presentes e ceias fartas para o Natal acontecer, é preciso tomar a decisão de uma vida nova, pautada nos ensinamentos de Cristo, que nos conduzem às atitudes concretas e coerentes, à vivência da fé durante todos os dias do ano.
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Isaías 9,1). Ainda hoje existem muitos que caminham nas trevas do pecado, e Jesus deseja iluminá-los por meio de nós. Tenhamos a coragem de testemunhar o amor de Deus, a partir dos pequenos acontecimentos e das escolhas do nosso dia a dia. É esse o tempo favorável para uma vida nova! A luz brilhou em meio às trevas, veio reacender a esperança e nos dar a certeza de que, já não estamos sozinhos. Deus está conosco, Ele é o Emanuel! Sua luz nos contagia e aquece, por isso, abramos nossos corações e tenhamos a coragem de sermos faróis no mundo, levando, com a nossa vida, a luz que é Cristo, aos corações sedentos de amor e paz.
Assim, celebraremos o Natal, a festa verdadeira da Luz!
Por Dijanira Silva
A luz de uma história tricentenária brilhou mais forte no dia 12 de outubro. Na origem dessa história, três pescadores simples: homens com uma fé enraizada lançaram suas redes e encontraram a imagem de Nossa Senhora Aparecida, iniciando, assim, a devoção à Padroeira do Brasil. Três séculos de significativos momentos, inúmeros, que alimentam sentimentos e uma convicção: mais que simples marca temporal, há muito a ser celebrado nestes 300 anos de devoção.
O fenômeno religioso e evangelizador de Aparecida comprova a presença qualificada, com força educativa, da Mãe Maria na vida do povo brasileiro. Reconheça-se: considerando toda a história, apenas um ser humano teve a capacidade de atravessar os séculos mantendo a força para inspirar diálogos e congregar pessoas. É Maria, a Mãe de Deus, a filha predileta do Pai, a esposa do Espírito Santo.
Nos mais de dois mil anos de cristianismo, Nossa Senhora sempre inspirou a evangelização. Na história de muitos povos, a exemplo dos latino-americanos, a presença de Maria chegou antes mesmo dos missionários. Assim, ao redor da Mãe, o povo se reúne para rezar e viver em fraternidade. E consolidam-se na interioridade dos incontáveis devotos as marcas da misericordiosa piedade, com força para amalgamar corações, famílias e grupos de diferentes pessoas. Uma congregação pela força do silêncio que, muitas vezes, se contrasta com o habitual palavrório de diversas espiritualidades contemporâneas.
A devoção mariana contribui, nesse sentido, para desenvolver o gosto pela verdade. E onde falta quem desempenhe a tarefa de proclamar a Palavra, a presença de Maria, compreendida sempre como Mãe e Discípula, ensina, gera confiança, produz convicções em torno dos valores do Evangelho. Consequentemente, promove milagrosas conversões, que contemplam a reconquista da inteireza física, humana e espiritual.
Mulher admirável, exemplar por sua escuta amorosa de Deus, que se transforma em obediência geradora de vida, Maria inspira cada pessoa a também ouvir o Criador – caminho que leva à clarividência necessária para compreender a realidade. A presença da Mãe de Deus, nesse sentido, não é simplesmente um refúgio, mas uma escola. Causa admiração e impacta saber que, a partir dos seus mais de mil títulos, Maria, com a sua simplicidade, entra na história de diferentes povos, culturas, línguas, nações. Contribui, desse modo, para que todos tenham a oportunidade de viver o Evangelho.
A devoção mariana promove, assim, o exercício qualificado da cidadania e cultiva o
compromisso com a solidariedade fraterna. Maria é, admiravelmente, discípula e mestra. Seu discipulado começa quando assume a maternidade divina, após ser escolhida por Deus-Pai. Ela oferece o seu “sim” e torna-se Mãe do Verbo Encarnado, Jesus Cristo, o único Salvador. E na condição de Mãe, Maria enobrece os corações.
É intercessora e protetora. Nossa Senhora também é mestra, pois ensina todos a escutarem e a acolherem o chamado de Cristo: “Vem e segue-me.” Sua presença, desse modo, é orientação para que cada pessoa se torne discípulo de Cristo. Por isso, muito mais que a simples contagem de tempo, celebrar 300 anos de bênçãos em Aparecida – em cada santuário mariano, mundo afora, pequeno ou grande – é celebrar a configuração de uma escola.
Em Aparecida, essa escola congrega mais de 12 milhões de peregrinos, todos os anos. São corações tocados pela presença de Maria, na força simbólica da pequenina imagem da Padroeira do Brasil. A imagem de Nossa Senhora Aparecida, em diálogo com o olhar do peregrino, letrado ou simples, provoca ondas que se propagam na interioridade. Um fenômeno que gera conversão – a competência mística que possibilita enxergar o que é
invisível, e muitas vezes indescritível por palavras. A força do diálogo com Deus se estabelece a partir da fé.
A Padroeira do Brasil, Maria, a Mãe de Jesus, em Aparecida, essa escola de 300 anos, é
maestria que educa com beleza, singeleza e ternura, em rede com outros santuários marianos, permitindo ao povo brasileiro, para além da devoção, experiências que ajudam a consolidar o Evangelho de Cristo na vida. Louvado seja Deus por essa escola tricentenária, que reorienta, promove a cidadania, com a singular força da fé.
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O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália).