No Dia de Finados visitamos os túmulos onde foram colocados os corpos dos que amamos e que já partiram. Sentimos saudades, depositamos flores, acendemos uma vela e rezamos por eles. Mas acima de tudo, reafirmamos nossa esperança, que a fé que professamos em Jesus Cristo nos aponta: a ressurreição e a vida eterna em Deus. A morte não é a última palavra e nem a separação definitiva. Como Pedro, perguntamos a Jesus: “A quem iremos, Senhor?” (Jo 6, 68). Caminhamos com Cristo e para Cristo.
A vida eterna é a plenitude da vida que Deus nos concede. “Nem olhos viram e nem ouvidos ouviram, nem mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam.” (1Cor 2,9). Para o cristão, a morte é um caminhar ao encontro de Cristo, uma entrada na vida eterna. Então, “receberemos de Deus uma habitação no céu, uma casa não construída por mãos humanas” (2Cor 5,1). A imagem bíblica da “morada” foi usada por Jesus para consolar seus discípulos diante de sua partida: “Não se perturbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas. […] Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e vos levarei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais (Jo 14, 1-2). Portanto, Jesus nos faz entender que diante da morte não há algo assustador, mas uma realidade que, de certo modo, nos é familiar. O cristão, pelo batismo, vive com Cristo, mesmo nas contradições presentes na vida. Então, de maneira plena viveremos com Deus, em Deus, com aqueles que amamos. Deus Pai nos aguarda com seu abraço acolhedor e misericordioso. Estaremos verdadeiramente “em casa”, em “nosso lar”. Nesta casa, o paraíso, Jesus Ressuscitado nos convida para o “banquete” com Ele, o noivo (cf. Mt 25,1-13), e para este encontro precisamos estar sempre prontos. O convite é feito a todos, porém, exige de nós conversão, o “traje de festa” (cf. Mt 22,12). Santo Agostinho assim falou da vida eterna: “Aí descansaremos e veremos, veremos e amaremos, amaremos e louvaremos. Eis a essência do fim sem fim.”
Portanto, nosso único caminho que trilhamos nesta terra terminará na vida plena, que Deus reserva aos que creem nele e sabem ser misericordiosos (cf. Mt 25,31-46). As obras misericórdia como um estilo de vida são o critério que o justo Juiz usará no dia do julgamento. São bem-aventurados todos os que, no caminho da vida, vão aprendendo a “sair de si”, movidos por compaixão, ao encontro dos mais necessitados. Então, sim, ouviremos: “vinde benditos de meu Pai e tomai posse do Reino para vós preparado desde a criação do mundo” (Mt 25,34), pois “todas as vezes que fizeram isto a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 40).
A visão cristã da morte é bem expressa na liturgia da Igreja: “Nele brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.” (Prefácio da Missa dos Mortos). Enfim, ao visitarmos os túmulos de nossos familiares e amigos, renovemos nossa esperança na vida plena em Deus e o compromisso de uma vida misericordiosa.
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta