Dom Leomar Brustolin
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)
No final de ano, as pessoas pensam e se ocupam com os preparativos do próximo Natal. Para a Igreja, este é o Tempo do Advento, no qual se espera a chegada de Alguém: o Cristo. Sinais, símbolos e figuras bíblicas marcam essa espera. Nesse contexto está, de forma especial, a Virgem Maria, a mãe de Jesus. Sua presença educa o olhar do cristão para além das coisas que passam. Ela inspira uma nova perspectiva para o Natal. A cada ano, no dia 8 de dezembro, a celebração da Imaculada Conceição suscita um renovado interesse pela Vinda de Cristo. Imaculada significa sem mácula, isto é, sem mancha. A fé cristã proclama que a Mãe de Jesus foi preservada de toda mancha do pecado. Ela nasceu livre do pecado original que marca a vida de todo ser humano que vem a este mundo.
O Cristo preparou uma mãe que fosse digna dele, por isso preservou Maria de todo pecado. Tal privilégio, entretanto, não faz de Maria uma mulher distante da experiência humana. Ser livre do pecado não faz de Maria uma mulher alienada ou passiva diante da presença do mal no mundo, diante da violência da sociedade de seu tempo, diante do pecado que escraviza tanta gente. Maria é Imaculada para gerar aquele que tira o pecado do mundo. Sua participação nesse mistério é total. De sua carne e de seu sangue, nasce o Filho de Deus que é também filho de Maria. Ele é igual a nós em tudo, exceto no pecado. Ele veio porque a humanidade precisava, e ainda precisa, de um Salvador, de alguém que devolva a beleza original da vida humana.
Pecar é falhar no projeto da vida, é distrair-se da meta, é colocar-se no centro do mundo e não buscar o sentido mais profundo da vida humana: a fraternidade em torno do único Pai. Pecar é desviar o olhar, o coração, as mãos e os pés do seguimento de Jesus Cristo. É trocar a força da presença pela compra de presentes. É pensar mais em si, do que se encontrar no outro. É absolutizar o relativo, e banalizar o eterno. É preferir mais os instantes do que a plenitude, é fixar-se demais no provisório e desistir de buscar o Inefável.
Por isso Cristo veio ao mundo, para dizer que o Natal só tem sentido quando o ser humano é capaz de ver o que tem de mais belo no outro. Superando todo fechamento, o ser humano abre-se até as potências infinitas de Deus.
Dessa realidade plena, Maria é mãe e mestra. Ela viveu em um mundo marcado por contradições e dificuldades. Mas sua grandeza estava na humildade de sua experiência. Aquela Menina de Nazaré, que viveu num lugar simples e pequeno, tornou-se a mulher que todas as gerações cantam e louvam. Ela carregou em seu ventre o Menino Deus, seu corpo foi o primeiro sacrário da história, sua carne tornou-se carne de Jesus, seu olhar de mãe velou o sono daquele que tudo governa. O criador se fez criança nos braços dessa grande e humilde mulher.
Celebrar a Imaculada, às vésperas do Natal, é contemplar a Virgem de Nazaré grávida do Menino Deus, grávida de todas as esperanças de uma humanidade livre do mal e do pecado. Maria carrega o Salvador no ventre e nos braços. A humanidade precisa, mais uma vez, neste final de ano, deixar-se envolver por essa ternura da Mãe de Deus. Não podemos nos distrair. Não há crise, provação ou dificuldade que possa roubar a esperança de quem se encontrou com Jesus Cristo. Com a Imaculada, é preciso proclamar que o Natal é tempo de fazer brilhar o que há de mais belo no ser humano: a capacidade de amar e ser amado. Esse amor só pode ter uma fonte: Deus!