Silenciar-se diante do Sagrado é atitude comum a muitas experiências religiosas, inclusive no Cristianismo, e necessária no Catolicismo Romano.
Entre nós, a experiência do silêncio brota do exemplo e das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Depois de despedir as multidões, Jesus subiu à montanha, a sós, para orar. Anoiteceu, e Jesus continuava lá, sozinho”(Mt 14, 23); “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa” (Mt 5, 6).
Na oração cristã católica o silêncio é parte integrante, indispensável. A oração silenciosa, contemplativa, sem dúvida alguma, é uma nobre forma de rezar. Jesus nos aconselha: “Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que precisais, antes de vós o pedirdes”(Mt 5, 7).
A celebração da Santa Missa, com a presença de várias ou muitas pessoas, tem momentos de silêncio que ajudam na oração. Na práxis diária das paróquias e comunidades, é preciso redescobrir estes momentos e valorizá-los como meios adequados que ajudam a rezar bem, contribuindo para um diálogo eficaz com o Pai.
A celebração da Santa Missa deve ser precedida por um tempo razoável de silêncio sagrado. Para que isto se torne possível, é preciso que nos trinta minutos que precedem a Celebração Eucarística seja garantido aos fiéis as condições necessárias para este silêncio. O teste dos microfones, a afinação dos instrumentos musicais e ensaio dos cantos, a preparação do presbitério, e outras providências, devem ser realizadas com maior antecedência. Este silêncio e espaço adequado para tal é um direito do fiel orante e condição para uma efetiva participação na Ceia do Senhor.
Em algumas paróquias e comunidades tem-se o saudável costume de rezar o rosário ou uma parte da Liturgia das Horas, Laudes ou Vésperas, ou outra, antes da Santa Missa. Este é um hábito louvável e não deve ser supresso. Neste caso, estas orações, substituem o silêncio, preparando o fiel orante para a celebração da Santa Missa.
Um momento de silêncio é parte integrante do ato penitencial, precede a oração de súplica de perdão dos pecados, após o convite do sacerdote à penitência. Este silêncio é uma oportunidade para o fiel, guiado pelo Espírito Santo, contemplar-se no espelho de sua alma e averiguar com contrição os seus pecados, colocando-se humildemente diante de Deus para receber a absolvição sacerdotal.
A “oração de coleta”, que conclui os ritos iniciais e antecede a Liturgia da Palavra, é precedida por um tempo de oração silenciosa, momento oportuno para que o fiel orante recolha do seu coração, e deixe elevar ao céu, as intenções e motivações que trás consigo para a celebração da Santa Missa.
“Após as leituras, é aconselhável um momento de silêncio para meditação.” O mesmo silêncio pode ser oportuno ocorrer após a homilia. É a hora de deixar a Palavra de Deus encontrar espaço no terreno fértil do coração e da mente do fiel orante, transformando-se em oração.
Após a comunhão eucarística, “é aconselhável guardar um momento de silêncio (...)”. Tendo o fiel orante comungado o Corpo e ou o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, é o espaço singular de uma oração de ação de graças. Caso não ocorra neste momento, ele deve ser realizado antes da “oração depois da comunhão”, depois do convite do sacerdote, “Oremos”.
Após os ritos finais, bênção e despedida, o fiel orante poderia realizar uns instantes de oração silenciosa. Para que isto aconteça, é preciso que se crie o ambiente oportuno, devendo o sacristão e as outras pessoas envolvidas na organização da liturgia, aguardar um tempo para recolherem os objetos sacros, os instrumentos musicais e outros usados durante a celebração.
Como verificamos, na celebração da Santa Missa fomos perdendo, menosprezando ou ignorando estes momentos próprios de silêncio, o que interfere na harmonia da Celebração Eucarística e que de alguma forma desfigura o modo católico romano de celebrá-la. Vamos redescobrir e valorizar o silêncio na Santa Missa, nos momentos apropriados e recomendados. Assim rezaremos melhor.
+ Tomé Ferreira da Silva.
Bispo Diocesano de São José do Rio Preto/SP