A mãe de Jesus e nossa, merece ser honrada como Mãe da Misericórdia e Mãe de Misericórdia, porque experimenta e gera a Misericórdia. Maria está desde a sua concepção envolta na misericórdia infinita (preservada do pecado original), ao mesmo tempo em que o seu agir está assinalado pelo amor efetivo aos seres humanos, especialmente pelos pecadores e sofredores. Maria é a pessoa que conhece mais a fundo o mistério da misericórdia divina. A invocação “Salve Rainha, Mãe de misericórdia”, destaca a qualidade do olhar materno de Maria: “esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”, e conclui com o sentido desta sua misericórdia: “ó clemente, ó piedosa, ó doce, Virgem Maria”.
A partir do seu “eis-me aqui” e o seu “faça-se” (Lc 1,28), a misericórdia divina se faz carne e entra na história. Ela é Mãe da divina graça porque é Mãe de Deus, autor da graça. Ela nos faz compreender que Deus por pura misericórdia nos dá muitas vezes além do necessário do que seria justiça nos conceder; nos mostra que Deus nos dá além dos nossos méritos. No Magnificat, Maria louva ao Pai Misericordioso: “a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”; “socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia” (Lc 1, 50.54).
A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecia, a Padroeira do Brasil, começa em 1717 como prova concreta da misericórdia divina. Época do Brasil colonial, que estava dividido pelo “muro vergonhoso da escravatura”. Os escravos eram constantemente castigados, geralmente com açoites, a punição mais comum no Brasil Colônia. Além da escravidão, não havia liberdade política e econômica, o que impedia o crescimento do pais. Mostrando-se solidário a todos esses sofrimentos, “Nossa Senhora Aparecida se apresenta com a face negra, primeiro dividida, mas depois unida nas mãos dos pescadores”. A imagem da Imaculada Conceição encontrada, primeiro o corpo e depois a cabeça, tornou-se uma unidade de corpo e cabeça, o prenúncio da soberania, da Independência do Brasil, que seria conquistada em 7 de setembro de 1822.
A devoção mariana, vivida no horizonte da centralidade de Jesus Cristo e do Reino de Deus, é legítima e saudável. Deve ser respeitada e estimulada, para que a mãe de Jesus molde nosso coração de discípulos e missionários de Cristo, levando-nos a viver autenticamente o mistério de amor e misericórdia em nossos tempos.
Padre Gilmar Antônio Fernandes Margotto
Paróquia Nossa Senhora Aparecida
Votuporanga