Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
Uma das características fundamentais da semente é ter vida, ou capacidade para reproduzir e dar continuidade à existência da vida. Existem vidas que não reproduzem e isto pode levar à sua falência e desaparecer. Na vida humana não é diferente, porque se não é cuidada em todas as suas dimensões, ela pode secar e morrer.
Ser semente, nas dimensões humanas, significa produzir o bem a partir de compromissos assumidos em relação a todo contexto da criação. Não só defender a dignidade das pessoas, mas também preservar a natureza defendendo a ecologia, as árvores, as nascentes e ter consciência de que a natureza nunca perdoa quando ofendida.
No Evangelho temos a parábola do semeador, de alguém que foi jogar a semente na terra, mas faltaram-lhe alguns cuidados essenciais para que os resultados fossem promissores. Jogou a semente em terras que não tinham sido preparadas. Muitas secaram e morreram deixando o agricultor sem os resultados esperados.
Esta é uma parábola comparada com o anúncio da Palavra de Deus. Muitos corações a recebem, mas nem todos estão dispostos a acolhê-la. A "cova" continua vazia, sem vida e sem estímulo, porque falta preparo e adubo. É como a terra seca, que queima a semente e ela acaba ficando infértil, seca e desaparece sem vida.
Não é fácil entender a Palavra de Deus. Isto exige iluminação do Espírito Santo, deixar-se penetrar por ela e absorvê-la em toda sua integridade. A Palavra é uma semente, também misteriosa como todas as sementes, mas capaz de tocar o coração e a mente das pessoas levando-as a assumir a construção do mundo.
A semente, para dar vida, tem que passar pelo processo do "sofrimento". Talvez como a dor do parto. Ela incha e dela surge o broto, a nova vida. Toda alegria da vida passa por momentos de sofrimento, de renúncias e de despojamento, livrando-se das amarras que impedem o uso pleno da liberdade. É quase impossível ter vida saudável sacrificando nosso direito de ser livre e desimpedido para fazer o bem.