Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
Durante a 52ª Assembléia Geral da CNBB, no início de maio, os bispos, entre vários outros assuntos, se debruçaram sobre a questão agrária, que é um dos temas que mais conflitos tem gerado na história do Brasil. O mesmo tema já foi assunto dos bispos em outras ocasiões, sendo que em 1980, em meio à onda de ocupações de terra e aos clamores por reforma agrária, a CNBB publicou o documento “Igreja e problemas da Terra”.
De lá para cá, a sociedade brasileira passou por várias mudanças, sendo as mais significativas o fim do regime militar e a promulgação da Constituição de 1988, que afirmou a legitimidade da propriedade rural na medida em que é produtiva, preserva o meio ambiente e mantém relações de trabalho legais. Infelizmente, porém, a atual política agrária ignora “todo ordenamento do direito de propriedade estabelecido constitucionalmente e segue os ditames da concentração do capital e do dinheiro no campo”, privilegiando o agronegócio voltado para a exportação em detrimento da produção de alimentos saudáveis, da ecologia sustentável e de uma estrutura agrária igualitária. A dicotomia – terra de negócio x terra de trabalho – “retoma a centralidade da estrutura agrária brasileira neste século com a emergência de um ciclo histórico de forte predomínio político e ideológico da auto denominada economia do agronegócio”.
Neste início de século, novos conflitos estão emergindo no meio rural, com destaque para o conflito entre povos indígenas e pequenos agricultores, muitas vezes incentivado por grandes proprietários de terra e grupos com interesses econômicos e ideológicos. Ao lado deste aparecem os ataques contra as comunidades quilombolas, contra os assentados e contra os agricultores familiares.
No documento agora publicado, “A Igreja e a questão agrária brasileira no início do século XXI”, os bispos denunciam “o acúmulo insustentável da riqueza, a concentração das terras, a devastação ambiental e a violência contra as pessoas, as comunidades e as populações de nossas terras”. Ao mesmo tempo se posicionam claramente contra o trabalho escravo, a favor da “necessidade de preservar o meio ambiente nos seus biomas” e “contra a degradação dos mananciais de água e a sua poluição”.
Conscientes da nossa missão de bispos, convocamos “os seguidores e seguidoras de Jesus Cristo, bem como todas as pessoas com sentimentos humanísticos e comprometidas com os valores éticos, para que nos fortaleçamos uns aos outros, unindo-nos numa grande corrente para sermos fiéis a novas relações e cuidados com a terra e com toda a natureza”.
Na esperança de que este documento seja acolhido por nossas comunidades, promova o diálogo e motive as autoridades a uma eficaz ação para resolver os conflitos em curso, invocamos a benção de Deus sobre todos.