Catedral Nossa Senhora Aparecida Votuporanga-SP |
Você já se perguntou qual o significado das cinzas na Quarta Feira de Cinzas? De onde vem essa prática? Por que as cinzas na minha testa ou na minha cabeça? O padre ou ministro falam algo para mim neste momento, mas não entendo muito bem.
Bom, convido você a fazer uma caminhada comigo pela história. A Igreja Católica caminha junto com a história, não é um ser isolado da realidade. Já no Antigo Testamento, também chamado de Primeiro Testamento, os livros da Bíblia escritos antes da vinda de Jesus já falavam das cinzas. O livro de Ester, por exemplo, fala de um tal Mardoqueu, que se veste de saco e se cobre de cinzas quando fica sabendo do decreto do Rei Asuer I. Jó também se veste de saco e cheio de arrependimento se cobre de cinzas. Alguns exemplos tirados do Antigo Testamento demonstram que as pessoas compreendiam o que as cinzas simbolizavam: dor, morte, penitência, arrependimento.
E alguém pode perguntar: e o Novo Testamento, também chamado Segundo Testamento, continuou a prática das cinzas? Sim. No tempo de Jesus, a prática das cinzas continua em vigor. Temos um exemplo no evangelho de Mateus, no qual Jesus fala de cidades que se converteram e usaram as cinzas para seu arrependimento. (Cf. Mt 11,21).
A Igreja Católica, desde os primeiros tempos, continuou a prática do uso das cinzas com o mesmo simbolismo. Desde o ano 160 depois da ressurreição de Cristo, um famoso teólogo chamado Tertuliano fala da virtude do cristão: "ser penitente vestir de saco rude e cobrir de cinzas". Sabe-se que num determinado momento existiu uma prática que consistia no sacerdote impor as cinzas em todos aqueles que deviam fazer penitência pública. As cinzas eram colocadas quando o penitente saía do confessionário.
No período medieval, por volta do século VIII, as pessoas que estavam para morrer eram deitadas no chão sobre um tecido de saco coberto de cinzas. O sacerdote benzia a pessoa com água benta dizendo-lhe: "Recorda-te que tu és pó e em pó te converterá". O penitente respondia: "Sim". Era uma forma simbólica de mostrar que o penitente estava arrependido.
Com o passar do tempo, a distribuição das cinzas foi associada ao início da Quaresma, período de preparação de quarenta dias antes da Páscoa da Ressurreição. Na nossa liturgia atual da Quarta-Feira de Cinzas utilizamos cinzas feitas com os ramos de palmas distribuídos no ano anterior no Domingo de Ramos. O sacerdote abençoa as cinzas e as impõe na fronte de cada fiel traçando com essas o Sinal da Cruz. Logo em seguida, diz: "Recorda-te que és pó e em pó te converterás" ou então "Arrependei e crede no Evangelho". A nossa vida só tem sentido se estamos em sintonia com o projeto de Deus, sem Ele somos criaturas que negam o seu Criador, perdemos assim a dignidade dos filhos e filhas de Deus.
É um tempo de preparação propício para revermos nossas ações. Aproveitemos a Quaresma compreendendo o significado das cinzas na nossa vida. Somos passageiros, não temos morada permanente aqui na terra e isso faz com que nós reflitamos com nossas atitudes, a nossa vida toda entregue nos planos de Deus. Ele quer o melhor para nós. Ele não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e volte à vida.