Domingo: A Perpétua Páscoa


18/04/2015 - 08:38
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)


Era o primeiro dia da semana quando Jesus ressuscitou. O Sábado, dia santificado para os judeus desde o tempo da criação, sétimo dia do descanso de Deus, foi para Cristo o dia do repouso silencioso no sepulcro, depois dos terrores da paixão acontecida na tarde de sexta-feira. Tudo estava, na verdade, recomeçando. Deus renovava todas as coisas, dava início a um novo tempo, vencia o poder do pecado e da morte, ressuscitando seu Filho único dado em sacrifício para a salvação de todos, qual novo Isaac. Ninguém poderia imaginar o milagre do Dies Domini! Nem os discípulos, nem as santas mulheres que vão ao sepulcro para encontrar um corpo morto a quem, ao menos, querem venerar com respeito e por saudade. Mas, naquele amanhecer do primeiro dia da semana, encontram o túmulo vazio, como vazio estava o universo quando Deus iniciou a obra da criação. O Senhor Ressuscitado lhes aparece vivo, fala como elas, envia-as com anunciadoras da nova realidade: Ele não permaneceu na morte, mas reina vivo.

À tarde daquele primeiro dia, Jesus miraculosamente se apresenta vivo aos discípulos no cenáculo, onde se encontravam de portas fechadas, por medo dos judeus que haviam matado cruelmente o Mestre. Nesta hora, o Senhor Ressuscitado, com o sopro de seu milagroso hálito, lhes oferece o Espírito Santo com três grandes dons: a paz, a misericórdia e a fé robustecida. Diz João que por três vezes, Jesus os saudou em sua língua materna com um Shalon Aleichem! (a paz esteja convosco). A paz é a vitória sobre o medo, pois o medo tira-nos a paz. A paz é a segurança da alma, pois é o resultado da certeza de que se está correto no pensar, nas escolhas, na fé professada. A paz é o efeito da convicção pura e forte de que Deus está presente e se assim é não há nada mais a temer, e nenhuma razão para desesperar.

A misericórdia é a expressão da suprema bondade de Deus que perdoa os pecados do humilde reconhecido de suas fraquezas e dos desejosos de recomeçar. O Ressuscitado, ao soprar sobre eles, concede-lhes o dom de perdoar e de serem perdoados. Quem é capaz de perdoar salva duas situações: a sua e a de quem é perdoado; e quem é capaz de pedir perdão, salva-se a si mesmo e a quem é sábio para perdoar. Eis o sentido do 2º Domingo da Páscoa ser chamado Domingo da Misericórdia, o dia do milagre do perdão.

Nada é mais animador para quem crê, que a existência do Sacramento da Confissão que tira o ser humano dos túmulos escuros do pecado e o introduz, só por bondade, na luz miraculosa da salvação, da tristeza de ter errado, para a alegria de ser reabilitado, mesmo sem merecimento. A absolvição sacramental é o milagre da ressurreição acontecendo no coração do pecador arrependido e disposto a iniciar tempo novo.

Tomé, não estando no primeiro domingo junto à comunidade, caiu no pecado da dúvida e no erro da desconfiança. Mas o senhor por misericórdia lhe aparece no domingo seguinte, quando novamente a comunidade está reunida. Agora o discípulo fraco de fé pode crer e dizer: Meu Senhor e Meu Deus, a mais bela profissão de fé.

A partir daquele primeiro domingo, o da ressurreição, os cristãos nunca mais pararam de se reunir dominicalmente. E só pode mesmo ver o Ressuscitado, abraçá-lo misticamente, receber sua misericórdia e o milagre estupendo da Eucaristia, quem está unido na comunidade do Ressuscitado.


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