Dom Jaime Spengler


17/01/2015 - 14:47
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre


No início do novo ano, desejávamos paz às pessoas que encontramos. O gesto pode, talvez, estar marcado por formalidade; mas ele certamente é repercussão de um desejo profundo que o ser humano não consegue saciar enquanto houver excluídos, marginalizados, ignorados. Não consegue também realizar enquanto se sentir ameaçado pelas forças antagônicas à vida presentes na estrutura do ser humano.

Desejamos e queremos paz. Sentimos, porém, medo. O medo é expressão de desconfiança, da falta de relações humanas sadias e equilibradas, da dificuldade de amar sem reservas e se sentir amado. Por outro lado, em que o espírito do cuidado se faz presente, existe cuidado recíproco, se promove o bem comum e se desenvolve o zelo no tocante às necessidades vitais dos indivíduos, tais como saúde, moradia, educação, desaparecem as causas do medo.

A paz é possível para pessoas de boa vontade; é possível se as instituições da sociedade demonstrarem autêntico engajamento na promoção e cuidado do bem público. Assim, torna-se viável construir e consolidar corresponsavelmente a obra da paz. Para isso, precisamos, talvez, reaprender a assumir o que somos: humanos. Somos humanos, dotados de racionalidade e capacidade de decisão; participamos radicalmente de uma mesma condição, e isto nos recorda a necessidade de fomentar e impulsionar o espírito de corresponsabilidade.

Nestes tempos conturbados, nosso povo anseia por paz. Isso pode se tornar realidade se, individual e socialmente, formos capazes de “fazer” paz e de “ser” paz; ou seja, nos responsabilizarmos pela causa da paz. Somos pacíficos ou não, ou mais ou menos pacíficos, a partir da compreensão de paz e do ser pacífico que damos a nós mesmos.

Pode-se certamente perguntar o que seja a paz e o que significa ser pacífico. No entanto, a questão, assim como se apresenta, só pode ser compreendida a partir de uma contrapergunta provocativa: quanto é que você dá à causa da paz? O que e quanto você faz por ela? Dê você a medida daquilo que é a paz e o ser pacífico, pois o que isso for depende da medida do próprio coração.

Será que a medida do coração não se alargaria, se sondássemos e acolhêssemos um novo sentido para a paz e o ser pacífico proveniente da vida, da realidade que está além da medida que damos a nós mesmos? Será que, com a ampliação do nosso coração, não começaríamos a ver a rea­lidade diferente? Não estaria sendo necessário investir vigorosamente no cultivo do coração, da intimidade do ser humano, a fim de a própria pessoa, a partir do seu desenvolvimento humano e espiritual, se tornar uma pessoa pacificada?

Sem estar impregnada de paz, sem “estar pacificado”, o indivíduo não é capaz de irradiar paz, respeito, bem-querer. Atingir o equilíbrio interior, alcançar a tão desejada paz, tornar-se pessoa pacífica, pacificada e pacificadora requer trabalho pessoal intenso. Trabalho esse que tem seu ponto de partida no seio da instituição familiar, aprofundado e promovido no seio das intuições de ensino, e pode obter auxílio precioso da fé professada.

A paz pressupõe o convívio social, a disposição para o encontro com o outro. O encontro com a diferença do outro repercute naquilo que constitui a minha identidade. Assim, o encontro com o outro é, no fundo, o encontro comigo mesmo. A experiência da vida social em paz pressupõe a busca do sentido originário do que seja o outro e eu mesmo. Assim, quando falamos em acolher o outro, não estaríamos esquecendo que somente podemos acolher o outro na medida em que acolhemos a nós mesmos? Amar o próximo como a si mesmo... Eis o fundamento da verdadeira paz e do ser pacífico!


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