Papa: “devemos defender o amor e a pureza de doar-se um ao outro”


17/01/2024 - 15:11

Prosseguindo com o ciclo de reflexões sobre “vícios e virtudes”, o Papa Francisco falou sobre o pecado da luxúria na Audiência Geral desta quarta-feira, 17. Aos fiéis presentes na Sala Paulo VI, ele citou que “os antigos Padres ensinam que, depois da gula, é o segundo ‘demônio’ que está sempre à porta do coração”.

O Pontífice afirmou que, enquanto a gula se refere à voracidade por comida, a luxúria tem como objeto “outra pessoa”. Isso leva a um “vínculo envenenado” entre os seres humanos, especialmente na área da sexualidade.

O Santo Padre pontuou que o cristianismo não condena o instinto sexual, e recordou o livro do Cântico dos Cânticos na Bíblia, “um maravilhoso poema de amor entre dois noivos”. Contudo, frisou que esta dimensão da humanidade não está isenta de perigos. Citando São Paulo em sua primeira Carta aos Coríntios (cf. 1Cor 5,1), Francisco afirma que a repreensão do autor refere-se justamente a uma gestão “pouco saudável” da sexualidade por alguns cristãos.

A experiência de apaixonar-se

Voltando-se então para a experiência de se apaixonar, o Papa disse que esta é uma das realidades mais surpreendentes na existência humana. “A maioria das canções que ouvimos no rádio é sobre isso: amores que se iluminam, amores sempre buscados e nunca alcançados, amores cheios de alegria ou que atormentam até as lágrimas”, observou.

Na sequência, ele frisou que, “se não estiver poluído pelo vício, o apaixonar-se é um dos sentimentos mais puros”. O Pontífice destacou a generosidade de uma pessoa apaixonada, que “deixa de pensar em si mesmo para se projetar completamente no outro”. “Em muitos aspetos o seu amor é incondicional, sem qualquer motivo”, completou.

Por outro lado, o Santo Padre afirmou que este amor tão poderoso é também um pouco ingênuo. “O apaixonado não conhece bem o rosto do outro, tende a idealizá-lo, está pronto a fazer promessas cujo peso não compreende imediatamente”, indicou, alertando que este “jardim de maravilhas” não está a salvo do mal e pode ser desconfigurado pela luxúria.

A luxúria deseja possuir o outro

Francisco apontou que este vício é odioso por dois motivos. O primeiro deles é por devastar as relações entre as pessoas por causa do desejo de posse, que transforma os relacionamentos em algo tóxico, sem respeito ou limites. “São amores em que faltou a castidade: virtude que não deve ser confundida com a abstinência sexual, mas sim com a vontade de nunca possuir o outro”, explicou.

“Amar é respeitar o outro, buscar a sua felicidade, cultivar a empatia pelos seus sentimentos, colocar-se no conhecimento de um corpo, de uma psicologia e de uma alma que não são os nossos, e que devem ser contemplados pela beleza de que são portadores. Amar é belo”, declarou o Papa.

Ele enfatizou que a luxúria “ataca, rouba, consome às pressas, não quer ouvir o outro, mas apenas a sua própria necessidade e prazer”, adicionando que “o luxurioso só busca atalhos: não entende que o caminho do amor deve ser percorrido devagar, e essa paciência, longe de ser sinônimo de tédio, nos permite tornar felizes as nossas relações amorosas”.

A luxúria priva o homem da liberdade

O segundo motivo pelo qual este vício é detestável relaciona-se com a “voz poderosa” que a sexualidade tem entre os prazeres humanos. “Se não for disciplinada com paciência, se não se inscrever em uma relação e em uma história onde dois indivíduos a transformam em uma dança amorosa”, alertou o Pontífice, “ela transforma-se em uma corrente que priva o homem de liberdade”.

Neste sentido, o Santo Padre citou a pornografia, uma “satisfação sem relacionamento” que pode gerar dependência. “Devemos defender o amor, a pureza de doar-se um ao outro, essa é a beleza de uma relação sexual”, exortou.

“O verdadeiro amor não possui, se doa”

Por fim, Francisco sinalizou que a batalha contra a luxúria pode ser uma tarefa para toda a vida. Entretanto, afirmou que o prêmio desta batalha é o mais importante de todos, porque consiste em preservar aquela beleza que Deus imaginou ao criar o homem e a mulher e o amor entre eles.

“Construir juntos uma história é melhor do que correr atrás de aventuras, cultivar ternura é melhor do que se curvar ao demônio da posse, o verdadeiro amor não possui, se doa, servir é melhor do que conquistar. Porque se não há amor, a vida é uma triste solidão”, concluiu.



Ultimas Matérias
Roteiro da Celebração da Partilha de Abril está disponível
Dom Moacir participará de Assembleia da CNBB
Tempo Pascal
Os Papas e a misericórdia, o segundo nome do amor
Última semana para as inscrições para as turmas de Catequese
Veja Mais