Artigos Litúrgicos
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Deus está conosco diante da tentação

A tentação é uma grande oportunidade para o autoconhecimento, pois nos permite conhecer as limitações e os pontos fracos do nosso relacionamento com Deus e com os outros. Somos, geralmente, tentados naquilo que são nossas brechas; nesse sentido, a Palavra nos chama à atenção: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, prepara a tua alma para a provação” (Eclo 2,1).

Não podemos nos desesperar diante da tentação ou provação, mas devemos ficar firmes e constantes, crendo que tudo ocorre segundo a Providência de Deus. Por isso, é preciso suportar as tentações sem perturbações e com ação de graças. Deus está conosco diante da tentação, precisamos contar com Sua presença, contudo, Ele nos garante: “Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar” (1Cor 10,13). É necessário suportar a tentação com paciência e humildade.

E assim, o Catecismo da Igreja nos ensina que para vencermos a tentação precisamos da graça de Deus e da virtude da fortaleza. Afirma: “A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza nos torna capazes de vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as perseguições. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e o sacrifício de sua vida para defender uma causa justa. “Minha força e meu canto é o Senhor” (Sl 118,14). “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33)”. (1808).

O que dizem os santos sobre a tentação?

Os santos também nos ajudam a entender o sentido da tentação em nossa vida e nos abre um caminho de compreensão para ficarmos firmes em Deus quando a tentação bater a nossa porta. São João Maria Vianney esclarece: “As pessoas mais tentadas são aquelas que estão prontas, com a graça de Deus, a sacrificar tudo pela salvação de suas pobres almas, que renunciam a todas as coisas que a maioria das pessoas buscam ansiosamente. E não é um demônio só que as tenta, mas milhões de demônios procuram armar-lhes ciladas.” Quaresma, tempo favorável para vencermos as nossas tentações e crescermos na intimidade com Deus.

Por Padre Reinaldo Cazumbá, via Canção Nova

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Preciso voltar a rezar!

Tenho refletido nestes últimos dias o que de fato está acontecendo com muitos de nós, com muitas de nossas Comunidades, paróquias e grupos de oração, que parecem que aos poucos começaram a entrar num certo tipo de Esfriamento Espiritual. Já não mais rezam como rezavam no início, já não partilham e colocam tudo em comum como colocavam, as reuniões carismáticas de oração se tornou um verdadeiro grupo de cantos, no qual não vemos e experimentamos a presença do Espírito, não mais vemos os dons sendo exercidos como eram antigamente…

Parece que a dificuldade em rezar se acentuou nas pessoas, e que somente aquele breve momento de oração antes de dormir se tornou suficiente para a pessoa dizer que esteve com Deus, e que naquele dia conseguiu rezar…Parece que por vezes o entendimento da misericórdia de Deus se tornou apoio para rezarmos pouco; “afinal de contas Deus é Misericordioso e sabe que não conseguimos rezar hoje…” – Geralmente essa tem sido as nossas desculpas.

Quando programamos um determinado tempo para rezar parece que a nossa oração não avança, parece que a nossa cabeça está tão cheia de coisas que “patinamos na oração“. Algumas pessoas são ainda capazes de dizer que coisas deste tipo acontecem porque na verdade estamos amadurecendo em nossa vida de oração, estamos progredindo e por isso não vamos sentir o entusiasmo do começo, o fervor dos inícios, pois estas coisas são para os iniciantes. Mas o problema que vejo e que me assusta, é que por vezes, nossa espiritualidade passa mesmo por tempos de “secura”, tempos de deserto, que nos ajudam a amadurecer; mas o que muitas pessoas estão vivendo é na verdade um ESFRIAMENTO ESPIRITUAL achando que estão vivendo um tempo de deserto…

Existe uma grande diferença entre ESFRIAMENTO e DESERTO.

O papa Bento XVI escreveu que a experiência de deserto e vazio nos ajuda a “redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida”. Com isso entendo que após um período de DESERTO, a pessoa logo voltará a experimentar a graça do que é ser de Deus, e assim a sua vida de oração terá novos e bons frutos… Mas não é isso que tenho visto, e nem é isso o que as pessoas tem partilhado comigo.

Existe até mesmo um grande desejo de ser de Deus, de fazer a vontade Dele; mas é como se a pessoa não conseguisse se mover, não conseguisse avançar; e mesmo sabendo que é preciso rezar, a pessoa não reza! E se reza, reza pouco achando que fez o suficiente!
Já não vemos mais nossos grupos de oração cheios como eram! E muitos dizem que é porque cresceram muito os grupos de oração e as pessoas se espalharam; mas vejo que se espalharam tanto que não conseguimos nem mais achá – las, porque os grupos de oração tem estado vazios, as equipes dos grupos não mais existem direito, e quando ainda tentam se reunir sempre tem aquela pessoa que parece que gosta de colocar um fardo e começa a dar palpites, do tipo que: não precisam se reunir toda a semana, que não precisam rezarem juntos, e ainda jogam a responsabilidade – que na verdade é por causa da preguiça espiritual deles – em Deus, dizendo que Deus escuta a cada um de suas próprias casas e que a equipe pode rezar sem precisarem se reunir….Oh boca infeliz!!!

Quando as coisas começam a se tornar muito burocráticas, e aqui não estou falando de ORGANIZAÇÃO, estou falando de burocracia, na qual quando uma pessoa que esta sendo chamada por Deus para partilhar a Palavra para os irmãos, se colocar à serviço, rezar na intercessão, vem uns e outros dizer que ela não pode, porque precisa passar por 2 meses de curso interno, fazer 12 apostilas, e ficar acompanhando 1 ano quem esta à frente da equipe para ela aprender, e só depois ela pode começar a servir, um grande absurdo! E vocês acham que estas coisas não acontecem?!

Meu irmão e minha irmã, a verdadeira renovação só pode acontecer individualmente ou em grupo se existir a força da Oração! Sem Oração não existirá um avivamento dos dons, dos carismas, não haverá uma renovação em sua vida e nem na vida da sua família! Deus é Deus, Ele não se deixa enganar! Não tente fingir para Deus que você tem rezado! Ele conhece você, e como você tem caminhando…E não basta dizer que Deus conhece o seu coração, porque desejo de mudança não converte ninguém! O desejo de mudança regado pela oração ai sim faz toda a diferença!

No nosso Catecismo ( Catecismo da Igreja Católica ) existem palavras vivas, cheias da sabedoria do céu e da igreja, que nos ensina o caminho que precisamos seguir!

No numero 2697 o CIC nos diz: “A oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento. Nós, porém, esquecemo-nos daquele que é nossa Vida e nosso Tudo.“

Isso é uma grande verdade! Nos encontramos com Deus, recebemos do Seu amor e do Seu perdão, Deus nos deu um novo coração e sabemos mesmo que recebemos um novo coração de Deus! Somente que a vida que foi depositada neste novo coração vai aos poucos ficando sufocada, aos poucos este coração vai ficando pesado, parece que a vida deste coração novo que nos foi dado vai passando por uma agonia, até chegar a morte desse coração novo!

E por que isso acontece?

“A oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento.“ Exatamente porque não rezamos! Porque não priorizamos Deus, as coisas de Deus, os momentos de estar com Deus! O coração novo só será novo sempre, se, eu e você, mantivermos nossa vida de oração; porque é somente por meio da oração que nos encontramos com Deus! Meu irmão e minha irmã NÃO há outro caminho sem ser a oração! Mas por vezes até começamos bem o nosso caminho, mas com o passar do tempo o que de fato acontece conosco que vamos desanimando?? O CIC também nos ajuda a entender o que acontece: “Nós, porém, esquecemo-nos daquele que é nossa Vida e nosso Tudo.“, e novamente vamos deixando de priorizar Deus!

O Catecismo, nos ilumina ainda mais quando diz: “É preciso se lembrar de Deus com mais freqüência do que se respira”. Mas não se pode orar “sempre”, se não se reza em certos momentos, por decisão própria…” (CIC 2697)

Meu Deus quanta VIDA há neste trecho! Olha o que o CIC nos ensina: “Mas não se pode orar “sempre”, se não se reza em certos momentos, por decisão própria…”

Você e eu não seremos homens e mulheres que estamos em constante oração se nós não PARARMOS em certos momentos para REZAR! Não podemos entrar nas atividades que nos consomem em nosso dia a dia se não pararmos por vezes para rezarmos, e ainda de preferencia a sós, você e Deus! Mesmo que as suas atividades sejam muitas e sejam para a evangelização, se você não PARAR para REZAR em certos momentos, você não conseguirá ser uma pessoa que se pode dizer que reza sempre!

Eu, como missionário da Comunidade Canção Nova, trabalho 100% para a Evangelização, se eu não parar para REZAR em certos momentos, eu não estarei rezando com a minha vida! Padre Jonas Abib é o nosso maior exemplo de um homem que trabalha muito e muito mesmo; mas não deixa NUNCA de rezar! Mesmo com sua idade avançada, e mesmo que não tenha o mesmo vigor físico que há 10 anos atrás, lá está o meu querido Padre Jonas rezando, rezando….

Padre Jonas entendeu e nos ensina em sua própria vida que: ” A oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento.”

Portanto, se você por qualquer motivo que seja está desanimado, está percebendo que você tem se tornado frio espiritualmente, se você percebeu que seu grupo de oração já não tem mais o ânimo e nem as experiências do Espírito na qual tinham no passado; é o momento da Oração na vida de vocês! É o momento de PARAR e se programar como daqui para frente você conduzirá a sua vida de oração com Deus, ou a vida de oração do seu grupo, da sua pastoral…É o momento de rezar de verdade!

Me desculpe se me delonguei nesta partilha, mas meu coração anseia pelo AVIVAMENTO, meu coração anseia pelo Espírito Santo; e sei que isso só acontecerá se voltarmos a Rezar!

Com isso aprendi que um dos primeiros pontos deste ESFRIAMENTO ESPIRITUAL que percebo que estamos vivendo, é consequência da falta de Oração! Voltemos a rezar, nos empenhemos! Certamente os frutos logo virão!

Oremos:

Enviai Senhor sobre nós o Vosso Espírito Santo, e renovai a face de toda a terra!

Deus abençoe você!

Por Danilo Gesualdo, via Livres de Todo Mal

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É Natal

Natal é um acontecimento festivo, alegre, com troca de presentes e muitas luzes. Tudo isto para ressaltar o anúncio do anjo: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lucas 2,10-11). Todas as manifestações externas, por mais grandiosas e belas que sejam, ainda são insuficientes para celebrar o mistério do Natal, isto é, Deus veio habitar entre nós e o sinal é “um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12).

Outra atitude fundamental para celebrar o Natal é o silêncio. Os textos bíblicos não falam de silêncio, mas fazem silêncio. A sobriedade e a brevidade dos relatos bíblicos impressionam. São breves dados e quase nada de falas, tudo reduzido a uma extrema simplicidade. Como dizemos com frequência: “não tem palavras para explicar”.

Pode-se caracterizar duas espécies fundamentais de silêncio: um que podemos chamar de ascético ou natural e o outro podemos chamar de sobrenatural. O silêncio ascético ou natural é realizado de muitas formas. Uma forma é a que busca o silêncio exterior em lugares e ambientes com menos ruídos, menos pessoas. Lugares privilegiados são aqueles que proporcionam o contato com a natureza. Também há o silêncio ascético interior que busca serenar o coração, a mente e o corpo. A espiritualidade da quietação do coração busca diminuir a influência da razão para dar lugar à oração. Encontramos esta busca em muitas religiões. O homem se impõe conscientemente o silêncio.

Vivemos imersos, as vinte quatro horas do dia, em barulhos e numa vida desenfreada. O período que antecede o Natal, também por coincidir com o final do ano, acelera ainda mais o ritmo. Toda esta agitação pode desviar o foco e impedir de viver o essencial. Desafiador é tomar a atitude de fazer silêncio. Romper com a lógica e a onda da maioria e aquietar-se. Fazer silêncio para provocar um encontro com Deus e com as pessoas.

A outra modalidade de silêncio é que podemos chamar de sobrenatural. Ela é provocada pelo contato com Deus. Um silêncio originado da manifestação ou da teofania de Deus. Aqui a iniciativa é de Deus e não do homem. O primeiro silêncio é do homem que quer conquistar Deus; o segundo é do homem que foi conquistado por Deus. A presença Dele faz calar o homem. Um silêncio marcado pelo assombro, adoração, alegria, e às vezes, até de temor.

No Natal fazemos silêncio sobrenatural diante misteriosa maneira escolhida por Deus para chegar a nós rompendo toda lógica humana. A grandeza de Deus é manifestada na fragilidade de uma criança, num presépio, num lugar singelo. Deus se revela sob o seu contrário. Escondendo a grandeza na pequenez, a força na fraqueza, a majestade na humildade. O homem moderno se lamenta com frequência do silêncio de Deus, mas não se dá conta de que Deus cala exatamente por que ele fala, porque não é suficientemente humilde para escutá-lo. Deus fala ao homem também com o seu silêncio; com isso o reconduz à verdade.

Acolhamos este grito que se eleva do Natal: Deus se despojou da sua tremenda majestade; não apavora mais, não quer apavorar; agora é Emanuel – Deus-conosco. Cale-se toda a terra, ajoelhe-se e O adore.

Por Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo

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O motivo que nos faz celebrar o Natal

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Isaías 9,1). Esse fato narrado pela Palavra de Deus aconteceu há mais de dois mil anos, no entanto, atualiza-se todos os dias. É Ele o motivo que nos faz celebrar o Natal, pois uma Luz brilhou em meio às trevas!

Há um clima diferente no ar, votos de felicidade, mãos estendidas, confraternizações e brilhos estão por todos os lados! Nas ruas, casas e lojas, por onde quer que andemos, as luzes piscam entre cores e formas, convidando-nos à celebração. Elas iluminam e encantam, trazem um colorido especial às realidades que, durante o ano, foram se tornando comuns e opacas pela rotina do dia a dia. As roupas e os adereços também ganham destaque nesta época; afinal, a moda no Natal é brilhar!

 

O que celebramos no Natal?

Somos envolvidos pela correria do comércio. Os presentes, as viagens e tantas outras realidades próprias do fim de ano fazem-nos viver um tempo diferente. Mas será que estamos mesmo celebrando o Natal? Ou seja, será que estamos celebrando o nascimento de Jesus, o Deus que se fez Menino, nascido da Virgem Maria, que veio habitar em meio a nós?

Ele é a verdadeira Luz que brilhou para o povo que andava nas trevas. Ele veio para nos salvar e fazer de nós participantes da Sua vida divina. Trouxe-nos a grande e esperada libertação; por isso celebramos Seu nascimento! Mas será que em nossos dias, tão agitados e interativos, temos tido tempo para tomarmos consciência dessa verdade?

Penso que, celebrar o Natal sem nos deixar envolver pela ternura do amor de Deus, expresso no nascimento de Cristo, é como participar de uma festa sem conhecer os anfitriões e nem o motivo da comemoração. Você está presente, come, bebe, admira a decoração, observa os convidados, mas não tem porque se alegrar, vive tudo de maneira superficial, indiferente. E tenho certeza que não é isso que Deus espera de nós justo na festa do Seu nascimento.

 

Lugar que Deus escolheu para nascer

Precisamos recordar com urgência o motivo da celebração do Natal, e nos prepararmos com dignidade para esta festa, sem nos deixarmos levar pelo clima externo do consumismo.

Mesmo que isso seja um grande desafio em nossos dias, é preciso fazermos nossa parte como cristãos! Aquela Luz que brilhou na Terra, há mais dois mil anos, é Jesus, a mesma Luz que deseja, hoje, iluminar nossa vida, dissipando toda espécie de trevas que o pecado nos incutiu.

Lembremo-nos de que, nosso coração é o lugar que Deus escolheu para nascer, pois somos únicos diante d’Ele. No entanto, como Pai amoroso que é, o Senhor continua a respeitar nossa liberdade e espera darmos o primeiro passo na direção certa, para que Sua luz entre em nossa vida.

 

É preciso abrir o coração para Cristo iluminar

Sem abertura de coração, a luz de Cristo não pode iluminar nossa vida! Ou seja: sem nos decidirmos a amar, perdoar, a sermos justos e dedicados, bondosos, alegres e pacíficos, não há como celebrarmos o nascimento de Deus em nós. Sendo assim, o Natal passa a ser mais uma festa sem sentido. Não basta presépios, Missa do Galo, troca de presentes e ceias fartas para o Natal acontecer, é preciso tomar a decisão de uma vida nova, pautada nos ensinamentos de Cristo, que nos conduzem às atitudes concretas e coerentes, à vivência da fé durante todos os dias do ano.

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Isaías 9,1). Ainda hoje existem muitos que caminham nas trevas do pecado, e Jesus deseja iluminá-los por meio de nós. Tenhamos a coragem de testemunhar o amor de Deus, a partir dos pequenos acontecimentos e das escolhas do nosso dia a dia. É esse o tempo favorável para uma vida nova! A luz brilhou em meio às trevas, veio reacender a esperança e nos dar a certeza de que, já não estamos sozinhos. Deus está conosco, Ele é o Emanuel! Sua luz nos contagia e aquece, por isso, abramos nossos corações e tenhamos a coragem de sermos faróis no mundo, levando, com a nossa vida, a luz que é Cristo, aos corações sedentos de amor e paz.

Assim, celebraremos o Natal, a festa verdadeira da Luz!

Por Dijanira Silva

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Aparecida: Uma escola de 300 anos

A luz de uma história tricentenária brilhou mais forte no dia 12 de outubro. Na origem dessa história, três pescadores simples: homens com uma fé enraizada lançaram suas redes e encontraram a imagem de Nossa Senhora Aparecida, iniciando, assim, a devoção à Padroeira do Brasil. Três séculos de significativos momentos, inúmeros, que alimentam  sentimentos e uma convicção: mais que simples marca temporal, há muito a ser celebrado nestes 300 anos de devoção.

O fenômeno religioso e evangelizador de Aparecida comprova a presença qualificada, com força educativa, da Mãe Maria na vida do povo brasileiro. Reconheça-se: considerando  toda a história, apenas um ser humano teve a capacidade de atravessar os séculos mantendo a força para inspirar diálogos e congregar pessoas. É Maria, a Mãe de Deus, a filha predileta do Pai, a esposa do Espírito Santo.

Nos mais de dois mil anos de cristianismo, Nossa Senhora sempre inspirou a evangelização. Na história de muitos povos, a exemplo dos latino-americanos, a presença de Maria chegou antes mesmo dos missionários. Assim, ao redor da Mãe, o povo se reúne para rezar e viver em fraternidade. E consolidam-se na interioridade dos incontáveis devotos as marcas da misericordiosa piedade, com força para amalgamar corações, famílias e grupos de diferentes pessoas. Uma congregação pela força do silêncio que, muitas vezes, se contrasta com o habitual palavrório de diversas espiritualidades contemporâneas.

A devoção mariana contribui, nesse sentido, para desenvolver o gosto pela verdade. E onde falta quem desempenhe a tarefa de proclamar a Palavra, a presença de Maria, compreendida sempre como Mãe e Discípula, ensina, gera confiança, produz convicções em torno dos valores do Evangelho. Consequentemente, promove milagrosas conversões, que contemplam a reconquista da inteireza física, humana e espiritual.

Mulher admirável, exemplar por sua escuta amorosa de Deus, que se transforma em obediência geradora de vida, Maria inspira cada pessoa a também ouvir o Criador – caminho que leva à clarividência necessária para compreender a realidade. A presença da Mãe de Deus, nesse sentido, não é simplesmente um refúgio, mas uma escola. Causa admiração e impacta saber que, a partir dos seus mais de mil títulos, Maria, com a sua simplicidade, entra na história de diferentes povos, culturas, línguas, nações. Contribui, desse modo, para que todos tenham a oportunidade de viver o Evangelho.

A devoção mariana promove, assim, o exercício qualificado da cidadania e cultiva o
compromisso com a solidariedade fraterna. Maria é, admiravelmente, discípula e mestra. Seu discipulado começa quando assume a maternidade divina, após ser escolhida por Deus-Pai. Ela oferece o seu “sim” e torna-se Mãe do Verbo Encarnado, Jesus Cristo, o único Salvador. E na condição de Mãe, Maria enobrece os corações.

É intercessora e protetora. Nossa Senhora também é mestra, pois ensina todos a escutarem e a acolherem o chamado de Cristo: “Vem e segue-me.” Sua presença, desse modo, é orientação para que cada pessoa se torne discípulo de Cristo. Por isso, muito mais que a simples contagem de tempo, celebrar 300 anos de bênçãos em Aparecida – em cada santuário mariano, mundo afora, pequeno ou grande – é celebrar a configuração de uma escola.

Em Aparecida, essa escola congrega mais de 12 milhões de peregrinos, todos os anos. São corações tocados pela presença de Maria, na força simbólica da pequenina imagem da Padroeira do Brasil. A imagem de Nossa Senhora Aparecida, em diálogo com o olhar do peregrino, letrado ou simples, provoca ondas que se propagam na interioridade. Um fenômeno que gera conversão – a competência mística que possibilita enxergar o que é
invisível, e muitas vezes indescritível por palavras. A força do diálogo com Deus se estabelece a partir da fé.

A Padroeira do Brasil, Maria, a Mãe de Jesus, em Aparecida, essa escola de 300 anos, é
maestria que educa com beleza, singeleza e ternura, em rede com outros santuários marianos, permitindo ao povo brasileiro, para além da devoção, experiências que ajudam a consolidar o Evangelho de Cristo na vida. Louvado seja Deus por essa escola tricentenária, que reorienta, promove a cidadania, com a singular força da fé.

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O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália).

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15 simples atos de caridade de que costumamos esquecer
Vamos espalhar a caridade!

1. Sorrir

Um cristão sempre é alegre. Às vezes podemos nem perceber, mas, ao sorri, aliviamos a carga dos que estão ao nosso redor: na rua, no trabalho, em casa, na faculdade. A felicidade do cristão é uma bênção para os outros e para si mesmo.

2. Agradecer

Nunca se acostume a receber as coisas, mesmo “porque você precisa” ou “porque tem direito” a elas. Receba tudo como um presente, mesmo se estiver pagando por isso. Agradeça sempre. A pessoa agradecida é mais feliz.

3. Recordar às pessoas o quanto você as ama

Você sabe que os ama. Mas… e eles? Carinho, abraços e palavras nunca são demais. Se Jesus não tivesse se feito carne, nós jamais teríamos entendido que Deus é amor.

4. Cumprimentar essas pessoas que você vê diariamente

O porteiro, a faxineira, a recepcionista, o vizinho. Ao cumprimentá-los, você lhes recorda o quanto são importantes e o quanto você os valoriza.

5. Escutar a história das pessoas sem preconceito

O que pode nos tornar mais humanos que saber escutar? Cada história que lhe contam o unem mais aos outros: seus filhos, seu cônjuge, seu chefe, o professor, suas preocupações e alegrias. Você sabe que não são só palavras, mas partes da sua vida que precisam ser compartilhadas.

6. Parar para ajudar

Não interessa se é um problema de matemática, uma simples pergunta ou alguém com fome na rua. Ajuda nunca é demais. Todos nós precisamos uns dos outros.

7. Motivar as pessoas

Sabe aquele amigo que não anda muito bem? Tente arrancar um sorriso dele, para aliviar seu desânimo e ver que nem tudo na vida é ruim. É sempre bom saber que existe alguém que nos ama e que está ao nosso lado.

8. Comemorar as qualidades e conquistas dos outros

Nunca deixe de celebrar as alegrias das pessoas que convivem com você, suas qualidades, conquistas, boas ações. Simples frases como “Parabéns!”, “Fico feliz por você”, “Você fica bem com essa cor”, podem alegrar o dia de uma pessoa.

9. Doar as coisas que você não usa

Vale a pena fazer uma faxina no armário e separar algumas coisas para a doação. Isso ajuda a valorizar o que temos, engrandece nosso coração e pode fazer outras pessoas felizes.

10. Ajudar para que outra pessoa descanse

Isso pode ser vivido especialmente nas famílias. Você pode começar a fazer a tarefa de outra pessoa para que ela possa descansar, ou antes de que ela lhe peça ajuda. A vida fica mais leve quando nos ajudamos mutuamente nas responsabilidades cotidianas.

11. Corrigir com amor

Corrigir é uma arte. Muitas vezes nos encontramos em situações com as quais não sabemos lidar. O melhor método é o amor. O amor não somente sabe corrigir, mas também perdoar, aceitar e seguir em frente. Não tenha medo de corrigir e ser corrigido, isso é uma demonstração de que os outros gostam de você e querem que você seja melhor.

12. Ser detalhista com os que estão perto de você

Se você sabe do que aquela pessoa gosta, por que não aproveitar isso para fazê-la feliz? Tudo o que é dado com amor é melhor. Sair de si mesmo e pensar nos outros é maravilhoso e alegra o coração.

13. Limpar o que você usa em casa

Na vida familiar, isso é essencial para não sobrecarregar ninguém. Faça a sua parte, e faça com carinho. Você se sentirá alegre e em paz com isso.

14. Ajudar os outros em suas dificuldades

Carregar uma sacola, ajudar uma pessoa a atravessar a rua, pagar o almoço para alguém… São muitos detalhes ao seu alcance, e as pessoas não vão se esquecer do bem que você fez a elas. Demonstre que você ainda acredita na humanidade.

15. Ligar para os seus pais

Talvez você more sozinho ou inclusive já tenha sua própria família. No entanto, seus pais ainda se emocionam ao ver que você se lembra deles. Estar atento ao que eles precisam ou simplesmente ligar para saber como estão é algo que não custa muito e é um gesto de gratidão enorme. Por Catholic Link via Aleteia
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Permanecei Firmes
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


Estamos nos últimos domingos do ano litúrgico. Celebramos o penúltimo deste ano, chamado de ano C, o XXXIII Domingo do Tempo Comum. E junto com a clausura do ano litúrgico, aqui na nossa amada Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, antecipada em uma semana neste ano, estaremos celebrando a Festa da Unidade Arquidiocesana e o fechamento da Porta da Misericórdia em nossa Catedral. A antecipação da Festa da Unidade se justifica por que quis o Papa Francisco que todos os Senhores Cardeais estivessem em Roma nos dias 19 e 20 de novembro para o Consistório Público de criação de novos padres cardeais, e de encerramento da Porta Santa da Basílica Vaticana de São Pedro. Isso nos ajuda também a solenizar ainda mais a conclusão do Ano Santo aqui em nossa Arquidiocese.

A Palavra de Deus deste domingo convida-nos a meditar no fim último do homem, no seu destino além da morte. A meta final, para onde Deus nos conduz, faz nascer em nós a esperança e a coragem para enfrentar as adversidades e lutar pelo Advento do Reino.

Na Primeira Leitura, o Profeta Malaquias fala do juízo final com acentos fortes: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha”. (Ml 3, 19). O texto não pretende incutir medo, falando do “fim do mundo”, mas fortalecer a esperança em Deus para enfrentar os dramas da vida e da história; esperança que devemos ter ainda hoje, apesar do que vemos.

Na Segunda Leitura, São Paulo (2Ts 3, 7-12) fala da comunidade de Tessalônica, perturbada por fanáticos que pregavam estar próximo o fim do mundo. Por isso, não valia a pena continuar trabalhando. Paulo diz: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer”. (2Ts 3, 10).

O trabalho é o meio ordinário de subsistência e o campo privilegiado para o desenvolvimento das virtudes humanas: a rijeza, a constância, o otimismo por cima das dificuldades. A fé cristã impele-nos, além disso, a comportar-nos como filhos de Deus, a viver um espírito de caridade, de convivência, de compreensão, a tirar da vida o apego à nossa comodidade, a tentação do egoísmo, a tendência para a exaltação pessoal, a mostrar a caridade de Cristo e os seus resultados concretos de amizade, de compreensão, de afeto humano, de paz. Pelo contrário, a preguiça, a ociosidade, o trabalho mal acabado trazem graves consequências. “A ociosidade ensina muitas maldades” (Eclo 33, 29), pois impede a perfeição humana e sobrenatural do homem, debilita-lhe o caráter e abre as portas à concupiscência e a muitas tentações.

No Evangelho, Jesus (Lc, 21, 5-19) alerta sobre os falsos profetas: “Cuidado para não serdes enganados…” (Lc 21, 8). Diante das catástrofes, Jesus exorta à esperança: não ter medo… Esses sinais de desagregação do mundo velho não devem assustar, pelo contrário, são anúncios de alegria e esperança de que um mundo novo está por surgir. “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se, ergam a cabeça, porque a libertação está próxima”. (Lc 21, 28).

Jesus nos recorda que nossa existência é breve, tão fugaz. Àqueles que se encantavam com o aspecto majestoso do Templo, o Senhor recordou que tudo passa. Isso vale ainda hoje: para a nossa casa bonita, para o nosso carro, para o nosso dinheiro, nossa profissão, as pessoas às quais amamos, os projetos que temos, a nossa própria vida: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”! Aqui, o Senhor não deseja ser um desmancha-prazeres, não nos quer arrancar o gosto de viver; deseja tão somente recordar que nossa vida deve ser vivida na perspectiva da eternidade, daquilo que é definitivo. Haverá um momento final, haverá um juízo do Senhor sobre a história humana e sobre a história de cada um de nós, quando, então, ficará claro o que serviu e o que não serviu, o que teve valor ante os olhos de Deus e o que não passou de ilusão e falsidade. Nunca esqueçamos disso: nossa vida caminha para esse momento final, o mais importante de todo nosso caminho existencial. Haverá, sim, um juízo de Deus: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”. Este juízo, porém, será discriminatório: pode significar vida ou morte, salvação ou condenação!

Num mundo como o atual, que nos quer fazer perder de vista o essencial e nos quer fazer esquecer que caminhamos para o encontro com Cristo como um rio corre para o mar, vale-nos, então, o conselho de São Paulo, a que vivamos decentemente, trabalhando pelo pão cotidiano, sem viver à toa, mas construindo a vida com a dignidade de cristãos. O Senhor Jesus nos previne que não é fácil: o mundo não nos amará, porque seus pensamentos não são os do Cristo – e isto mais que nunca é claro hoje, numa sociedade consumista, paganizada, amante do conforto e da imoralidade, onde cada um vive do seu modo, como se Deus não existisse… Ouçamos a advertência tão sincera e franca de Cristo: “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. Todos vos odiarão (= vos amarão menos, não vos terão entre seus amigos) por causa do meu nome. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”!
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A Igreja e a Unidade
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


No dia 9 de novembro, a Igreja celebra a festa, o aniversário, da dedicação da Basílica de Latrão, a Catedral do Papa, Bispo de Roma, chamada “a primeira entre todas as Igrejas; ou seja, a Igreja-mãe de Roma”. Surgiu no século IV e é dedicada ao Divino Salvador. Foi levantada, em Roma, pelo imperador Constantino. A festa é celebrada em toda a Igreja como o sinal de unidade com o Papa. Após a paz constantiniana se tornou a moradia do Papa. Numerosos e importantes concílios ecumênicos tiveram lugar nela. A dedicação daquela Basílica marcou a passagem e a saída da assembleia cristã, do interior das catacumbas para o esplendor das basílicas.

A Igreja de Roma (isto é, a Arquidiocese de Roma) é a Igreja de Pedro e de Paulo, é a Igreja que preside à todas as outras dioceses do mundo, é a mais venerável de todas as Igrejas da terra. Santo Inácio de Antioquia referia-se a ela, lá pelo ano 97, com indizível veneração. Numa carta que endereçou aos cristãos romanos, o santo Bispo de Antioquia escrevia: “À Igreja objeto de misericórdia na magnificência do Pai altíssimo e de Jesus Cristo seu único Filho, amada e iluminada na vontade daquele que conduz à realização todas as coisas que existem, segundo a fé e o amor de Jesus Cristo nosso Deus, à mesma que também preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna da máxima beatitude, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza e colocada acima das demais na caridade, que possui a lei de Cristo e o nome do Pai”.

O Papa, como Bispo de Roma, é cabeça do Colégio dos Bispos e sinal visível da unidade da Igreja na fé e na caridade. É por isso que hoje nos unimos à Igreja de Roma na festa da Dedicação, da consagração da sua Catedral, a basílica do Latrão. A Catedral de cada diocese é a Igreja do Bispo, sucessor dos Apóstolos. Quanto mais importante é a Catedral do Bispo de Roma, sucessor de Pedro. Por isso, ela é considerada a “Mãe de todas as Igrejas da Cidade e do mundo”. Assim sendo, essa festa convida-nos também a rezar pela Igreja de Deus que está em Roma e pelo seu Bispo, Papa Francisco. Convida-nos a estreitar nossos laços com Roma e o Papa, retomando nossa consciência do papel que ele tem como Vigário de Pedro, a quem Cristo confiou sua Igreja.

Num mundo tão complexo, com tantas ideias, opiniões e modas, num cristianismo que vê surgir tantos grupos religiosos diversos reafirmemos nossa comunhão firme, profunda e convicta com a Igreja de Roma e seu Bispo, a quem o Cristo entregou de modo particular as chaves do Reino e deu a missão de confirmar na fé os irmãos. A comunhão com Roma é garantia de estar naquela comunhão que Cristo sonhou para a sua Igreja; é garantia de permanecer na fé apostólica, transmitida uma vez por todas, é garantia de não cair num tipo de cristianismo alheio àquilo que o Senhor Jesus pensou e estabeleceu.

As Igrejas são o lugar de reunião dos membros do novo Povo de Deus, que se congregam para rezar juntos. Mas são sobretudo o lugar em que encontramos Jesus, real e substancialmente presente na Sagrada Eucaristia; está presente com a sua Divindade e com a sua Santíssima Humanidade, com o seu Corpo e a sua Alma. “Ali nos vê e nos ouve, e nos socorre como socorria aqueles que chegavam, necessitados, de todas as cidade e aldeias” (Mc 6,32).

O templo sempre foi considerado entre os judeus como lugar de uma particular presença de Deus. No deserto, Deus manifestava-se na Tenda do encontro, onde Moisés falava com o Senhor, como se fala com um amigo; nesses instantes, a coluna de nuvem – sinal da presença divina – descia e detinha-se à entrada da Tenda (Ex 33,7-11). Era o lugar onde estará presente o meu Nome, o Ser infinito e inefável, para escutar e atender os seus fiéis. Quando Salomão construiu o Templo de Jerusalém, pronunciou estas palavras na festa da sua dedicação: “É possível que Deus habite verdadeiramente sobre a Terra? Porque se o céu e os céus dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei! Mas atende Senhor meu Deus, à oração do Teu servo e às suas súplicas; ouve o hino e a oração que o teu servo faz hoje na Tua presença, para que os teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, da qual disseste: “O meu nome estará nela”, Israel, em tudo o que te pedirem neste lugar; sim, tu a ouvirás do lugar da tua morada no céu” (1Rs 8,27-30).

Contudo, a Igreja é a Comunidade: “Vós sois a construção de Deus. Acaso não sabeis que sois santuário de deus e que o Espírito de Deus mora em vós? O santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário!” Nossos templos são chamados de “igreja” porque são casas da Igreja, espaço sagrado no qual a Igreja-Comunidade se reúne num só Espírito Santo para, unida ao Filho Jesus, elevar o louvor de glória ao Pai, sobretudo na Eucaristia. Assim, celebrar a dedicação de uma igreja-templo é recordar que nós somos Igreja-Comunidade, Corpo de Cristo, templo verdadeiro de Deus, pleno do Espírito Santo. Santo Agostinho recordava: “A dedicação da casa de oração é festa da nossa comunidade. Mas, nós mesmos somos a Casa de Deus. Somos construídos neste mundo e seremos solenemente dedicados no fim dos tempos!” Nós – cada um de nós – somos pedras vivas, pedras vivificadas pelo Espírito, para formarmos um só edifício espiritual, isto é, um edifício no Espírito Santo.

Na unidade com o Bispo de Roma na festa da dedicação da Catedral de São João de Latrão, vivamos a nossa comunhão importante e necessária para que continuemos a evangelizar com convicção. Para que o mundo creia, “que todos sejam um”.
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Caminhamos para vós, Senhor
No Dia de Finados visitamos os túmulos onde foram colocados os corpos dos que amamos e que já partiram. Sentimos saudades, depositamos flores, acendemos uma vela e rezamos por eles. Mas acima de tudo, reafirmamos nossa esperança, que a fé que professamos em Jesus Cristo nos aponta: a ressurreição e a vida eterna em Deus. A morte não é a última palavra e nem a separação definitiva. Como Pedro, perguntamos a Jesus: “A quem iremos, Senhor?” (Jo 6, 68). Caminhamos com Cristo e para Cristo.

A vida eterna é a plenitude da vida que Deus nos concede. “Nem olhos viram e nem ouvidos ouviram, nem mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam.” (1Cor 2,9). Para o cristão, a morte é um caminhar ao encontro de Cristo, uma entrada na vida eterna. Então, “receberemos de Deus uma habitação no céu, uma casa não construída por mãos humanas” (2Cor 5,1). A imagem bíblica da “morada” foi usada por Jesus para consolar seus discípulos diante de sua partida: “Não se perturbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas. […] Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e vos levarei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais (Jo 14, 1-2). Portanto, Jesus nos faz entender que diante da morte não há algo assustador, mas uma realidade que, de certo modo, nos é familiar. O cristão, pelo batismo, vive com Cristo, mesmo nas contradições presentes na vida. Então, de maneira plena viveremos com Deus, em Deus, com aqueles que amamos. Deus Pai nos aguarda com seu abraço acolhedor e misericordioso. Estaremos verdadeiramente “em casa”, em “nosso lar”. Nesta casa, o paraíso, Jesus Ressuscitado nos convida para o “banquete” com Ele, o noivo (cf. Mt 25,1-13), e para este encontro precisamos estar sempre prontos. O convite é feito a todos, porém, exige de nós conversão, o “traje de festa” (cf. Mt 22,12). Santo Agostinho assim falou da vida eterna: “Aí descansaremos e veremos, veremos e amaremos, amaremos e louvaremos. Eis a essência do fim sem fim.”

Portanto, nosso único caminho que trilhamos nesta terra terminará na vida plena, que Deus reserva aos que creem nele e sabem ser misericordiosos (cf. Mt 25,31-46). As obras misericórdia como um estilo de vida são o critério que o justo Juiz usará no dia do julgamento. São bem-aventurados todos os que, no caminho da vida, vão aprendendo a “sair de si”, movidos por compaixão, ao encontro dos mais necessitados. Então, sim, ouviremos: “vinde benditos de meu Pai e tomai posse do Reino para vós preparado desde a criação do mundo” (Mt 25,34), pois “todas as vezes que fizeram isto a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 40).

A visão cristã da morte é bem expressa na liturgia da Igreja: “Nele brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.” (Prefácio da Missa dos Mortos). Enfim, ao visitarmos os túmulos de nossos familiares e amigos, renovemos nossa esperança na vida plena em Deus e o compromisso de uma vida misericordiosa.

Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta
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Recordando aqueles que nos precederam
O cristão, na fé em Cristo Jesus, celebra a vida como dom de Deus. Pela mesma fé no Senhor ressuscitado, recorda também todos os entes queridos que o precederam.

A morte sempre foi um mistério para o ser humano. Ao longo da história, muitos tentaram resolver este mistério com a força do intelecto, através do pensamento e das correntes filosóficas. Mas diante da morte, nós podemos também ter uma atitude de contemplação, que não busca resolver o mistério, mas fazê-lo viver. Lá onde vive o mistério, se abre também o espaço para a fé, que é relação com Deus, com aqueles que nós amávamos. Os que partiram passaram a porta da misericórdia, para receber o abraço da ternura do Pai misericordioso, mas a presença deles pode continuar viva no nosso coração.

É a ressurreição de Cristo a lente pela qual cada cristão deve ler a vida e a morte. Não é leitura cristã se não parte da ressurreição. A experiência da morte se faz presente na vida de cada um de nós toda vez que somos tocados ou feridos pela perda de um amigo ou de um familiar.

É uma experiência que pode despertar em nós interrogações, rebelião interior por não aceitar a perda que traz dor e sofrimento, ainda que de forma passageira. A dor que atinge o nosso coração pode ser provocada pela separação da pessoa amada, pelo sofrimento a que é acometida na enfermidade, pela sensação de não tê-la amado o suficiente. Diante da morte, também, podemos manifestar gratidão a Deus e aos nossos entes queridos por termos tido a oportunidade de vivermos ao lado deles, por tudo aquilo que deles recebemos e pelo testemunho de fé que nos deixaram.

Celebrar o dia de todos os fiéis defuntos nos faz recordar que a vida é uma peregrinação, que tem continuidade para além da dimensão terrena se a olharmos sob a luz da nossa fé na vitória de Jesus sobre a morte. “Quando se sabe que o poder da morte foi vencido, quando o milagre da ressurreição e da vida nova ilumina o mundo da morte, não se pretende a eternidade desta vida e não se exige dela o tudo ou nada, mas se agarra aquilo que ela dá; coisas boas e ruins, importantes ou não, alegrias e dor… nos contentamos do tempo que toca a cada um e não se atribui caráter de eternidade às coisas desta terra…” (D. Bonhoeffer).

Por Dom José Gislon – Bispo de Erexim
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Pais, filhos, família
Dom Genival Saraiva
Bispo emérito de Palmares (PE)
Administrador Apostólico da Arquidiocese da Paraíba


No calendário vocacional do mês de agosto, ao celebrar o segundo Domingo, a Igreja no Brasil procura dar ao Dia dos Pais uma significação que vai além de uma comemoração que apenas contemple lazer, confraternização, beijos, abraços, almoços, bolos, presentes. Embora legítima, essa forma de expressão de reconhecimento não deixa de ser limitada; em alguns casos, pode se tornar vazia de sentido, se lhe falta a face da verdade da convivência no dia a dia. A paternidade e a maternidade constituem uma vocação universal por ser inerente à condição humana. Mesmo assim, pessoas abdicam dessa vocação por muitas razões, entre as quais está o Reino de Deus, como ensina Jesus.

Falar de paternidade e de maternidade significa falar de filiação, é óbvio. No Dia dos Pais, antes mesmo de os filhos comemorarem-no, cabe aos próprios pais tomarem consciência de sua vocação e da forma como a vivenciam, porque vocação diz respeito ao plano de Deus. A vocação tem a linguagem da realização pessoal. Não teria sentido uma vocação, enquanto projeto e experiência de vida, se ela não tornasse a pessoa feliz. É muito oportuno que cada pai veja-se sob esse aspecto, a fim de que sua vocação seja confirmada pelos fatos. Se for o caso, o modo de ser pai deve ser repensado, diante do que está sendo a face de sua vida e sua vocação. Se isso acontece, provavelmente, não está sendo considerado este outro elemento que, necessariamente, está associado a qualquer vocação - o serviço; no caso da paternidade - o serviço à vida. O filho é a primeira pessoa a quem o pai deve servir. Esse serviço começa desde o momento da concepção, mediante os devidos cuidados com sua gestação no ventre materno, e se prolonga, no tempo, até o último instante da respiração do filho neste mundo. Por experiência, todos sabem que contratempos da vida chegam a distanciar pais e mães de seus filhos mas, na verdade, não os distanciam de seu coração.

Por sua vez, os filhos vivem o Dia dos Pais com a linguagem do sentimento, da afetividade, da emoção. Com efeito, comumente, a leitura mais imediata de uma pessoa, diante de algo que toca o seu coração, é feita pela ótica da emoção; no entanto, esta não pode nortear posicionamentos definidores de vida porque esse é o papel da razão, da inteligência, faculdade com a qual Deus distinguiu o ser humano, dentre as demais criaturas. De conformidade com sua idade, é necessário que, na comemoração desse dia, os filhos usem a inteligência que Deus lhes deu e, assim, identifiquem a razão da felicidade e do bem-estar no relacionamento paterno ou o porquê da distância e da separação. De fato, o Dia dos Pais, de um lado, sensibiliza o coração dos filhos, e, de outro, deve interpelar a sua mente, no contexto de um relacionamento concreto.

Em razão da sensibilidade pastoral da Igreja, a comemoração do Dia dos Pais ocorre no início da realização da Semana Nacional da Família, estendendo-se, este ano, do dia 14 ao dia 21 de agosto. Essa Semana será comemorada à luz do tema “Misericórdia na Família: Dom e Missão”, tendo como inspiração e apelo o Jubileu da Misericórdia. É uma oportunidade para que a família reencontre-se com sua vocação. A Pastoral Familiar de cada Paróquia chega às famílias com muitas iniciativas, como o livreto a “Hora da Família” que “quer nos envolver nesse clima da misericórdia divina, com vistas à missão”.

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XVII Congresso Eucarístico Nacional
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)


Está acontecendo, de 15 a 21 de agosto, o XVII Congresso Eucarístico Nacional. Desta vez, é celebrado na Arquidiocese de Belém, no Pará, “Portal da Amazônia.” Embora, geograficamente distante de nossa Diocese, mais de 3.700 km, este evento une toda a Igreja presente no Brasil. É uma convocação a celebrar o grande mistério da Eucaristia, expressão máxima da vida cristã, em cada comunidade, em cada Diocese, em toda a Igreja. A Eucaristia manifesta plenamente cada Igreja Particular e, também, a Igreja na sua universalidade.

O tema escolhido faz voltar nosso olhar, mais uma vez, para a realidade e a vida eclesial presente na Amazônia, com suas alegrias e desafios: “Eucaristia e partilha na Amazônia missionária”. O lema espelha o espírito, o dinamismo eucarístico e missionário da vida cristã, tendo como texto bíblico inspirador, os Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35). “E o reconheceram no partir do pão” (Lc 24, 35).

Toda nossa Diocese quer estar em comunhão com o Congresso Eucarístico. Em primeiro lugar para juntos professarmos nossa fé e celebrarmos a comunhão que formamos, como povo de Deus peregrino na história, no mesmo Cristo. “Nós te acolhemos presente entre nós. Ao recebermos teu Corpo e teu Sangue, mostra-nos a força redentora de teu sacrifício”, diz a oração do Congresso. Professamos mais uma vez, nossa fé na presença real de Cristo na Eucaristia: “Porque sob a forma de pão é o corpo que te é dado, e sob a forma de vinho, é o sangue que te é entregue.” (Das Catequeses de Jerusalém, séc. IV).

A Igreja celebra a Eucaristia como memória viva de Deus que age com fidelidade e misericórdia em nosso favor, não somente recordando um fato do passado, mas tornando o único sacrifício de Cristo na cruz atual, presente no hoje de cada comunidade que se reúne. Jesus partiu o pão. O pão é ele mesmo. Partiu a si mesmo, deu-se aos discípulos e a nós. Eucaristia é dar-se a si mesmo pelo bem dos outros. O dom recebido, daquele que se oferece a nós, nos move fazermo-nos dom para o bem do mundo. Sem a memória do sacrifício da cruz, a Eucaristia torna-se superficial, uma celebração aburguesada de uma ceia. Ela recorda e inclui a paixão do mundo, dos crucificados da história.

Mas o dinamismo da Eucaristia está, também, na comunhão que formamos como comunidade de fé, no mesmo Cristo, que nos une a todos.Pela participação no único corpo eucarístico do Senhor, a comunidade deve se tornarcada vez mais unida. Assim, a celebração eucarística une as comunidades e ensina o perdão e a misericórdia. Esta comunhão é sempre missionária, voltada para fora. Nos move a sermos missionários, como diz a oração do Congresso: “Tu és partilha de vida e salvação para a vida do mundo. Abre nossos corações para compartilhar com todos os nossos bens. Ensina-nos a testemunhar, amar, servir e proteger a vida, aprendendo a lição do Altar.”
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Família e Igreja: lugares da misericórdia
Família e Igreja: lugares da Misericórdia

A misericórdia é marca do agir de Deus e modo de manifestar-se a nós. E nossa Família e Igreja devem continuar sendo lugares da manifestação da bondade divina. Em cada família e em cada comunidade eclesial o Pai Celeste deseja ver concretizada a sua misericórdia para buscar e acolher aqueles que, em algum momento, se fragilizaram, se magoaram, se afastaram das condições de ter uma vida digna e plena. Aqueles que foram feridos ou que se causaram feridas, a partir das escolhas feitas, dos caminhos trilhados.

Na parábola do filho pródigo do Evangelho de Lucas 15, o Pai oferece-lhe a casa, o alimento, a bebida, a libertação da situação de penúria onde seu erro o colocara, a cura de sua enfermidade física e de seu sofrimento. O filho pródigo encontra no coração do Pai Misericordioso o lugar da reconstrução de sua vida. Assim o filho tem, no Pai misericordioso, dois braços para acolhê-lo e enlaça-lo, que reencontram o que estava perdido e devolvam a vida ao que estava morto. Cada pessoa deveria ter, na Igreja e na Família, estes dois braços, e encontrar este abraço. Igreja e Família, quando se tornam extensão do abraço misericordioso do Pai, são os lugares onde o filho perdido pode ser reencontrado e recuperado.

Deus deu à Igreja e à Família as condições necessárias para exercerem esta missão. Nos sacramentos da Igreja vemos a concretização deste abraço que acolhe, que gera comunhão, que devolve a dignidade e a capacidade de agir, que cura a ferida do corpo e da alma, que renova a aliança e consagra para uma missão de cuidar a partir do cuidado recebido. No batismo somos acolhidos pelo Pai como membros regenerados de sua família. Na Eucaristia ele nos oferece o banquete, ele nos traz de volta à comunhão consigo e com os outros. Na Crisma Ele nos unge, Ele nos levanta, Ele nos faz colaboradores de sua missão de cuidar do seu projeto. Na reconciliação e na Unção Ele nos cura, nos trata. Devolve a paz. No Matrimônio e na Ordem Ele nos torna capazes de manifestar, nas alianças de amor e de cuidado com a humanidade sua própria aliança.

As relações familiares devem estar fundamentadas no amor que vem de Deus, para que a família possa realmente ser comunidade onde cada um é amado e respeitado. Fundamental para a própria sociedade, a família assim alicerçada contribui de modo essencial para a harmonia e a construção da vida humana. Hoje, infelizmente, é tão comum o drama de famílias que sofrem pela separação dos pais ou pela conduta dos genitores, prejudicial à comunidade do lar. Diante disso, cabe a nós, primeiramente, oferecer o auxilio de nossa oração, seja pelos que se preparam para constituir família, seja pelas famílias que sofrem, pelos filhos e pelos cônjuges. Cabe a comunidade eclesial apoiar as famílias para que se desenvolvam sempre mais no amor, possam superar dificuldades, restaurar os elementos fraturados, renovar o compromisso e o dom recíproco. "Deixar “de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para viver feliz.”(Papa Francisco).

Pe.Gilmar Antônio Fernandes Margotto
Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida
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Fraternidade e Meio Ambiente
Dom Demétrio Valentini
Bispo Emérito de Jales


Como poucas vezes, a Campanha da Fraternidade aponta para realidades tão concretas. Mesmo com a evidente abrangência do seu tema central - o planeta terra visto como “casa comum” - a Campanha aborda a questão do saneamento básico, em torno do qual vai desdobrando os seus objetivos. Neste sentido, a Campanha sobre o planeta terra, mantém os pés no chão. E centra suas propostas de atuação em torno do saneamento básico.

Dava para imaginar que a Campanha nos levasse a abordar as grandes questões, que o despertar da consciência ecológica vem levantando com insistência em nosso tempo. De tal modo que nos sentiríamos contemplando do alto de um satélite a girar velozmente em torno do nosso globo terrestre.

Sem desconhecer a problemática ecológica, que jaz como pano de fundo de toda a Campanha, os objetivos específicos insistem em abordar aspectos práticos do saneamento básico. Começa por apresentar o saneamento básico como um direito de todos os cidadãos. Mas um direito a ser conseguido pelo trabalho e esforço comum.

Percebe-se então qual a intuição central que levou os promotores da Campanha a insistir no saneamento básico. É que ele se constitui num objetivo que decorre da consciência política dos cidadãos, que despertam para urgir a implementação do saneamento básico, e que por sua vez, a abordagem deste assunto leva a aprofundar esta consciência, para assim ter a força para realizar este objetivo.

Encontramos aqui um desafio, que cabe ser colocado no contexto da Campanha deste ano. Acontece que as obras de saneamento básico exigem vultosos recursos financeiros, cujos resultados não aparecem tão claramente. Os políticos não gostam de aplicar recursos no saneamento básico, pois preferem obras que dão mais visibilidade, que lhes rendam mais reconhecimento.

A Campanha deste ano pretende incentivar os investimentos em saneamento básico, mostrando as consequências positivas que decorrem de políticas guiadas para o bem comum da população. Um dos objetivos específicos desta Campanha propõe “apoiar e incentivar os municípios para que elaborem e executem o seu Plano de Saneamento Básico”.

A Campanha quer, portanto, despertar uma consciência política, que garanta respaldo às boas iniciativas em torno de projetos de saneamento básico. E assim levar à superação dos critérios superficiais de avaliação das administrações municipais.

Outro posicionamento se refere a eventuais projetos de privatização dos serviços de saneamento básico. Pois dada a importância deste assunto, o Estado não pode se eximir de administrá-lo diretamente, como política pública a ser assumida pelo Estado. Daí o claro posicionamento contrário às tentativas de privatizar os serviços de saneamento básico.

Temos, portanto uma Campanha com amplos horizontes na sua temática central, mas com propostas bem concretas de implementação dos seus objetivos. Um tema amplo, do tamanho de nosso planeta. Mas com propostas bem concretas, que nos levam a perceber melhor a importância de urgir políticas públicas voltadas para o saneamento básico, que tem tanta incidência na vida das pessoas.

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CF 2016
Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba


Durante a Quaresma a Igreja no Brasil intensifica a Campanha da Fraternidade (CF), com o objetivo de incentivar os empreendimentos de caráter humanitário e cristão, levando o povo a construir o bem comum. No Evangelho, Jesus demonstra atitudes concretas voltadas à solução de conflitos de interesses. O que Ele mesmo vive, tenta fazer com que nós vivamos também: o amor ao Pai e ao próximo. Daí decorre a vida fraterna, solidária, serviçal. O processo gradativo da evangelização importa na responsabilidade de todos, unindo seus esforços em função da promoção da dignidade da vida humana.

A CF 2016 traz a vasta temática da água. Sugestivamente cita o profeta Amós 5, 24: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, e traz como lema: “casa comum, nossa responsabilidade”. A segurança hídrica vincula-se a políticas públicas voltadas à saúde e à educação da população. Se quisermos qualidade de vida é preciso reeducar-nos para obtê-la, garantindo os recursos hídricos. Importa no saneamento básico, na preservação dos mananciais, evitando o assoreamento, a poluição dos rios e dos oceanos, o gerenciamento da distribuição da água para uso humano, animal, produção agrícola, etc. A água possui um valor incalculável pelos benefícios que traz, contudo esse bem é finito e escasso. A vida no planeta está ameaçada por falta d’água tratada. Não podemos desperdiçá-la.

O programa “Viva Água”, plano emergencial de enfrentamento à estiagem, do Governo do Estado da Paraíba, em curso, prevê práticas que solucionam efetivamente o grave problema da falta d’água e estabelece ações preventivas de convivência no semiárido. Nossa população precisa envolver-se nessa política hídrica estrutural, política de preservação e cuidado sustentável. Note-se que a temática da CF 2016 abrange a Quaresma porque, na esfera espiritual, cuidar dos recursos da natureza significa favorecer à vida saudável, à vida em abundância (Jo 10, 10). Isso importa em evitar doenças endêmicas que se proliferam pela escassez de água e de alimento. Jesus vinculou as obras de misericórdia às práticas da vida qualificada: dar de beber e de comer a quem tem sede e fome. Não obstante a recessão socioeconômica pela qual passamos, o projeto Viva Água garante as etapas de investimentos em obras orçadas em R$ 133 milhões, em diversos sistemas de abastecimento, sobretudo em localidades de carência absoluta. Incluídas barragens subterrâneas e de terra, trincheiras, poços artesianos, etc. Concomitantemente, o saneamento básico.

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Quaresma da Misericórdia
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará


O ritmo da vida cristã é marcado pelos tempos litúrgicos, com os quais o mesmo mistério de Cristo, Morto e Resuscitado, se descortina diante dos olhos da fé, sempre rico e fecundo, de modo a alimentar todos os homens e mulheres de fé. Como numa dança sublime, este ritmo é marcado por tempos mais fortes, como acontece agora com a Quaresma que se inicia. Queremos entrar numa quarentena especial e receber o remédio advindo da penitência, revendo corajosamente os rumos de nossa existência. É oportunidade preciosa para refazer as nossas escolhas, tendo como ponto de referência o fato de que Deus nos ama de verdade. A prova é o envio de seu Filho amado, que se abaixou, visitando todas as profundezas do mistério humano, para iluminar-lhes todos os recantos, resgatando os que foram feitos escravos do pecado, a fim de viverem a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. "Não percamos este tempo de Quaresma favorável à conversão! Pedimos pela intercessão materna da Virgem Maria, a primeira que, diante da grandeza da misericórdia divina que lhe foi concedida gratuitamente, reconheceu a sua pequenez (Cf. Lc 1, 48), confessando-se a humilde serva do Senhor" (Cf. Lc 1, 38) (Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2016).

Na Bula de proclamação do Jubileu, o Papa fez o convite para que "a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus" (Misericordiae Vultus, 17). Com efeito, ensina o Papa, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo, mas cada cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio. Assim, o primeiro apelo é dirigido a cada pessoa que professa a fé, no sentido de tomar a peito a caminhada quaresmal, abrindo-se ao convite da Igreja, acolhendo as propostas de jejum, mortificação, oração intensa e caridade ativa.

A Quaresma começa na Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, quando acorremos ao gesto simbólico e tão forte que é a imposição das cinzas, com o qual queremos dizer que sem Deus nós nos tornamos pó da terra, cinza! Vá à Igreja na Quarta-feira de Cinzas quem quiser fazer o caminho da Quaresma, pois o ponto de chegada será o ressurgir com Cristo na Páscoa, saindo do pó do sepulcro dos pecados, para viver a vida nova, com o Senhor Jesus, no coração da Igreja. "Convertei-vos e crede no Evangelho!" "Lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar!" São as palavras fortes e positivamente provocantes que a Igreja nos dirige na abertura da Quaresma.

A Quaresma é vivida com a Bíblia nas mãos e no coração. É tempo privilegiado e textos abundantes e ricos, oferecidos pela Igreja para a nossa edificação. Nossa Arquidiocese oferece os textos do "Retiro Popular", com roteiros de leitura orante da Palavra de Deus tirada do Evangelho de São Lucas, proclamado na maior parte das celebrações litúrgicas do ano em curso. E se trata do Evangelho da Misericórdia, com narrativas ricas de conteúdo, para nos abrirmos ao amor de Deus, que nos ama de verdade!

A Quaresma é tempo especial de oração. Uma das manifestações da fé é a capacidade de olhar para o alto e para dentro, para entrar em comunhão profunda com Deus. Oração se faz no silêncio interior do diálogo com Deus. Oração se faz com a liberdade concedida pelo Espírito Santo, que vem em auxílio de nossa fraqueza. Oração se faz com as palavras aprendidas ao colo de nossos pais, assim como muitas preces feitas por pessoas inspiradas, que se tornaram mestres e mestras no relacionamento com o Senhor. Oração se faz, e este é seu ponto mais alto, quando o culto verdadeiro e completo é prestado ao Pai, no Espírito Santo, pelo amor infinito de Cristo, que se oferece por nós na Eucaristia, renovação de seu Sacrifício. A Missa é o cume e a fonte de nossa vida cristã.

Quaresma é tempo especial de caridade. Toca o coração a força com que o Papa Francisco quer fazer de todos nós, nesta Quaresma, homens e mulheres banhados na Misericórdia: "A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia. É um milagre sempre novo que a misericórdia divina possa irradiar-se na vida de cada um de nós, estimulando-nos ao amor do próximo e animando aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual. Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz em atos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo. No pobre, a carne de Cristo torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga, a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós. É o mistério inaudito e escandaloso do prolongamento na história do sofrimento do Cordeiro Inocente, sarça ardente de amor gratuito na presença da qual podemos apenas, como Moisés, tirar as sandálias (Cf. Ex 3, 5); e mais ainda, quando o pobre é o irmão ou a irmã em Cristo que sofre por causa da sua fé" (Mensagem Quaresmal 2016).

Para nós, no Brasil, o convite à Caridade e à Fraternidade assume um rosto desafiador neste ano. Realizaremos a partir da Quarta-feira de Cinzas uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, com o tema "Casa comum, nossa responsabilidade", e o lema bíblico "Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca" (Amós 5, 24). Nosso olhar se abre para uma grave necessidade de saneamento básico para nossa população. Sabemos que sua falta é fonte de tantas enfermidades e desconforto para o povo. Tomamos consciência, cada dia mais, do quanto somos igualmente responsáveis pelo nosso ambiente. Para responder a este grave desafio, queremos unir igrejas, diferentes expressões religiosas e pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico. Assim, responderemos com atos e fatos ao apelo do Papa Francisco para o cuidado com a "Casa Comum", que nos foi dada por Deus.
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Iniciamos a Quaresma!
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


Iniciamos a Quaresma! E já neste primeiro domingo nós nos colocamos neste tempo de caminhar para bem celebrar a santa Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus é o centro da Quaresma: é para nos unir a Ele no seu deserto que entramos neste caminho; é para ter seus sentimentos e atitudes e poder e, assim participar plenamente da celebração de Sua Páscoa, que iniciamos este caminho de quarenta dias de combate! Somos chamados a viver com seriedade o tempo quaresmal, a colocarmo-nos espiritualmente a caminho para crescer no conhecimento de Jesus, conhecimento ungido pelo Santo Espírito, conhecimento que ultrapassa de muito o simples conhecimento adquirido pelos estudos. Deste conhecimento bendito, falou-nos a oração da Missa do Primeiro Domingo da Quaresma, que pede a Deus: “que ao longo desta Quaresma possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa”.

Neste início de Quaresma, a liturgia faz-nos pensar no caminho para a Páscoa. Isto porque o tempo quaresmal não é um fim em si mesmo, mas é caminho de luta e combate espiritual para bem celebrarmos, com o coração dilatado, a Páscoa do Senhor, a maior de todas as festas cristãs. Na primeira leitura deste domingo, o Deuteronômio (26, 4-10) apresenta-nos o rito de oferta das primícias da colheita: ao apresentar ao Senhor Deus o fruto da terra, o israelita piedoso confessava que pertencia a um povo de estrangeiros e peregrinos, vindos do Pai Jacó, que não passava de um arameu errante. O israelita fiel recordava diante de Deus a história de Israel, história de escravidão e de libertação: “Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito... Ali se tornou um povo grande, forte e numeroso. Os egípcios nos oprimiram. Clamamos ao Senhor... e o Senhor ouviu a nossa voz e viu a nossa opressão... E o Senhor nos tirou do Egito... E conduziu-nos a este lugar e nos deu esta terra... Por isso eu trago os primeiros frutos da terra que tu me deste, Senhor”.

Éramos ninguém e o Senhor nos libertou, deu-nos uma vida nova – eis o resumo da história e da experiência de Israel! Esta também é a nossa experiência como Igreja, Novo Israel: “Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo”. Também a nossa história é de libertação: éramos escravos, todos nós, do grande Faraó, o Pecado que nos destrói e destrói o mundo. Mas Deus enviou o seu Filho numa carne de pecado (numa natureza sujeita às consequências do pecado): Ele desceu a este mundo e entrou na nossa miséria, até a morte, a nossa morte. É o que nos anuncia a segunda leitura deste domingo, da Carta de Paulo aos Romanos (10, 8-13).

Deus o arrancou da morte; ressuscitou-o e fez dele Senhor e Cristo, e quem nele crer e confessá-lo como Senhor na sua vida encontra a salvação; encontra um novo modo de viver, encontra a paz, encontra já, agora, a comunhão com Deus e, depois, a Vida eterna! Assim, Israel nasceu da Páscoa do deserto; a Igreja nasceu da Páscoa de Cristo. Israel era escravo, atravessou o mar e o deserto e tornou-se um povo livre para o Senhor. Nós éramos escravos, éramos ninguém, atravessamos as águas do Batismo com Cristo, e ainda que caminhemos neste deserto da vida, somos um povo livre para o Senhor nosso Deus.

O Evangelho (Lc 4, 1-13), apresentando-nos as tentações de Jesus, nos ensina a combater: ele venceu Satanás ali, onde Israel fora vencido: Israel pecou contra Deus murmurando por pão; Jesus abandonou-se ao Pai e venceu; Israel pecou adorando o bezerro de ouro; Jesus venceu recusando dobrar os joelhos diante da proposta de Satanás; Israel pecou tentando a Deus em Massa e Meriba; Jesus rejeitou colocar Deus à prova. Nas tentações de Cristo estão simbolizadas as nossas tentações: a concupiscência da carne (o prazer e a satisfação desregrada dos sentidos), a concupiscência dos olhos (a riqueza e o apego aos bens materiais) e a soberba da vida (o poder e o orgulho autossuficiente e dominador).

Jesus foi tentado como sinal de nossas tentações, tentado por nossa causa, por amor de nós. Ele foi tentado como nós, para que nós vençamos como Ele! Ele foi tentado não somente naqueles quarenta dias. O Evangelho diz que “terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno”. A tentação de Jesus foi até a cruz, quando Ele, no combate final, colocou toda a vida nas mãos do Pai e pelo Pai foi ressuscitado, tornando-se causa de vida e ressurreição para nós que nele cremos, que O seguimos, com Ele combatemos e O proclamamos Senhor ressuscitado.

Portanto, Quaresma é para nós um tempo de conversão e renovação em preparação à Páscoa. É tempo de rasgar o coração e voltar ao Senhor. Tempo de retomar o caminho e de se abrir à graça do Senhor, que nos ama e nos socorre. É um tempo sagrado para aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã. E nós somos convidados pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas tentações, que frequentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.
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Combate à indiferença
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte


A indiferença é incontestável ameaça à paz e, por isso, o Papa Francisco faz o convite-convocação: "Vence a indiferença e conquista a paz". Essa interpelação, tema do Dia Mundial da Paz 2016, diz respeito a todos os cidadãos. Exige redobrada atenção por parte dos diferentes segmentos da sociedade. Não se trata de um movimento simples e qualquer, mas da capacidade para o diálogo, que vai além de simples conversa e está distante dos conchavos interesseiros. Trata-se de caminho para nova cultura.

A indiferença é espessa camada a ser removida, com muito esforço, para dar lugar à fluidez da escuta e sensibilidade que fazem nascer no coração humano a competência para eleger, em todas as circunstâncias, o outro como prioridade. Por isso, se equivocam dirigentes, governantes e todos os que escolhem, decidem e operam na contramão do diálogo. Os prejuízos são enormes e facilmente constatáveis: a vergonhosa exclusão social, a perpetuação dos esquemas de corrupção e a manipulação do que é bem comum em benefício de interesses particulares. O resultado é uma terrível mediocridade na atuação de dirigentes e governos, sem lucidez para encontrar soluções e saídas. Consequentemente, a paz segue ameaçada.

É óbvio concluir que a falta de diálogo provocada pela indiferença é um problema grave. Trata-se de carência comum a vários ambientes – parlamentos, muitas vezes cenários de poucos e ineficazes entendimentos; diversos ambientes de trabalho e famílias. A falta do diálogo, alimentada e alimentadora da indiferença, tudo envenena. A indiferença comprova a carência de sabedoria na condução da vida. É sinal da perda de rumo e da incompetência que impede exercícios responsáveis e inventivos na atuação profissional e cidadã.

Situações desoladoras resultam desse verdadeiro veneno: os desperdícios, a perda de oportunidades para avanços e progressos, o recrudescimento de grupos, a disputa entre pessoas, famílias, nações. Ninguém fica isento de pagar um alto preço, que inclui o aumento da violência. Ela nasce também das revoltas e da dor da indiferença sofrida pelos mais pobres, por quem não tem voz e vez. E não adiantam esquemas de segurança, isolamentos que desenham segregações, ou portas fechadas para tratar em mesas restritas os assuntos que dizem respeito ao interesse do bem comum.

Nesse contexto, a vida de todos, indistintamente, é temperada pelos espectros de incertezas e desconfianças que descompassam corações, inteligências e vivências. Não há, assim, outro caminho, senão acolher, efetiva e urgentemente, a convocação de investir na superação da indiferença, particularmente pela prática sincera e permanente do diálogo, compreendido como escuta prioritária do outro, antes de qualquer juízo e decisão. Isso envolve a conduta pessoal e também transformações nas dinâmicas institucionais. É mudança cultural capaz de introduzir uma novidade na esfera de entendimentos e de deixar aparecer a luz da sabedoria, que permite encontrar saídas para as crises. Uma luminosidade apropriada para oferecer respostas aos muitos questionamentos, soluções para problemas e dar nova configuração aos cenários sociais, políticos e culturais.

Vale acolher a instigante convocação feita pelo Papa Francisco, "Vence a indiferença e conquista a paz", que se torna ainda mais forte pela exemplaridade de suas atitudes – em permanente diálogo com todas as pessoas, com a cultura contemporânea – e também por sua simplicidade cativante. Acolher essa convocação significa admitir que a indiferença globalizada é um inimigo comum a ser combatido e vencido com urgência. Esse embate inclui indispensavelmente o empenho pessoal de todos. Raciocínio lógico e simples é considerar que se cada pessoa enfrenta a indiferença e luta pela paz, alcança-se grande impacto positivo na qualidade dos relacionamentos e valiosas soluções para as crises governamentais, institucionais, familiares e de relações humanas. Há um caminho a ser trilhado para qualificar-se como agente de combate à indiferença na sociedade: buscar aproximar-se de Deus. O Papa Francisco lembra que a indiferença em relação a Deus supera a esfera íntima e espiritual do indivíduo e traz consequências para a esfera pública e social. De modo interpelante, Francisco acrescenta que o esquecimento e a negação de Deus induzem o homem a não reconhecer qualquer norma que esteja acima de si. Isso produz crueldade e violência. Assim, para edificar um mundo melhor, é hora de vencer a indiferença que ameaça a paz.
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A boa notícia
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


A liturgia da Igreja apresenta neste final de semana o discurso de Jesus na Sinagoga de Nazaré, início de seu ministério de anúncio da Boa Nova, antepondo o prólogo do Evangelho de São Lucas (Lc 1, 1-4.14-21), onde o autor conta ter decidido escrever de modo ordenado os acontecimentos da vida do Senhor, para que os cristãos leitores de seu texto verifiquem a solidez dos ensinamentos recebidos. Seu trabalho foi fruto de um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio. Somos levados a sério! E o evangelista põe no início do ministério público de Jesus o seu “programa”. Trata-se de um manifesto público!

Jesus age com o poder de Deus, pois o Espírito Santo está sobre ele. Não realiza apenas uma obra humana ou, quem sabe, política, mas a revelação do projeto de Deus. Sua missão é acolher misericordiosamente todos os homens e mulheres de todos os tempos para libertá-los. Realiza-se a profecia de Isaías e se inicia na história da humanidade um tempo novo, chamado de “ano da graça do Senhor”. Quem salva a humanidade é o Espírito do Senhor e não as eventuais decisões dos poderes do mundo. Até o momento presente, onde se reconhece o Senhor Jesus Cristo, é possível afirmar de novo que “hoje se cumpriu a escritura” (Cf. Lc 4, 21). Então, a pregação de Jesus na Sinagoga de Nazaré se transforma em história de todos aqueles que o escutam e acolhem sua palavra.

A novidade é perene e tem força para mudar a vida de todas as gerações e em toda a extensão do universo. Trata-se nada menos do que a iniciativa de Deus, que é Pai e Filho e Espírito Santo, vindo ao encontro da humanidade, tocando nos pontos mais sensíveis de sua história elencados na Sinagoga de Nazaré, trazendo sentido novo, rumo e salvação. Deus se compromete e aguarda a liberdade humana, à qual cabe decidir-se pelo seguimento de Jesus ou sua rejeição. Recolhamo-nos, geração de hoje, atentos à Palavra de Deus, buscando na força da pregação de Jesus a forma diferente para viver neste mundo.

O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção! A novidade vem do alto. Sabemos que “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm descendo do Pai das luzes, que desconhece fases e períodos de sombra” (Tg 1, 17), que derrama abundantemente sua graça e sua paz. A primeira novidade do tempo que se inaugura com Jesus Cristo é o dom, a consagração, a unção. Caem por terra todas as pretensões humanas de alcançar, com as próprias forças, aos píncaros da verdade e da graça. Faz-se necessário estar abertos para receber a unção! Jesus Cristo, o ungido do Pai, abre a tempo do Espírito Santo atuando em toda parte! Antes de tudo é um ato de abertura e de acolhida da graça, mais do que uma conquista. Feitos novas criaturas, em Cristo, resta-nos suplicar esta efusão do Espírito Santo, se queremos ser pessoas diferentes e fazer diferente o nosso mundo.

Jesus veio para anunciar a Boa-nova aos pobres. A Boa Notícia vai às periferias geográficas e existenciais do mundo. São pessoas que se abrem à ação de Deus, despojadas de pretensões. Muitas delas, humanamente nem têm mais o que perder! O amor de Deus alcança os mais pobres e distantes e, para chegar até lá, envolve a todos os que se encontram nas estradas da vida. Por isso, o amor de Deus não exclui ninguém! Todos são destinatários e têm a vocação da pobreza radical, que é reconhecer-se carente de Deus e de sua paternidade.

“Enviou-me para proclamar a libertação aos cativos... e para libertar os oprimidos”, diz o Senhor. Basta olhar ao nosso redor, para identificar as antigas e recentes formas de escravidão e cativeiro, desde as barbáries expostas pelos meios de comunicação até aquelas mais escondidas, mas concretas e presentes bem perto de nós. Certamente já ouvimos falar em cativeiro doméstico, sequestros, exigência de pagamento para resgates, para depois chegar ao medo reinante nas grandes cidades. E que dizer dos sistemas econômicos excludentes e opressores? E os cativeiros se multiplicam, quando são criados pelas próprias pessoas, escravas do dinheiro, dos vícios, da procura desenfreada do prazer, a sede incontrolável do poder, ou outras formas que se aninham numa palavra moderna e dolorosa, corrupção e suas tramas e tramoias hoje impressas na vida social, entrevendo anos e anos para a restauração de relações confiáveis entre pessoas e instituições. Pois bem, a libertação é de novo proclamada a este que é o nosso mundo e só se encontra em Jesus Cristo!

E Jesus veio para anunciar aos cegos a recuperação da vista! Cegos se aproximaram de Jesus e a cegueira, entendida em tempos antigos como maldição e castigo, torna-se ponto de partida para uma graça infinitamente maior, a salvação. Em Jericó “Jesus parou e mandou que lhe trouxessem o cego. Quando ele chegou perto, Jesus perguntou: ‘Que queres que eu te faça?’ O cego respondeu: ‘Senhor, que eu veja’. Jesus disse: ‘Vê! A tua fé te salvou’. No mesmo instante, o cego começou a enxergar de novo e foi seguindo Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo deu glória a Deus” (Lc 18, 40-43). As muitas cegueiras físicas, psicológicas ou morais podem ser apresentadas ao Senhor. Trata-se de reconhecê-las e pedir com confiança! Para todos nós, vale ainda a recomendação do Apocalipse: “Compra também um colírio para curar os teus olhos, para que enxergues” (Ap 3, 17)!

Jesus veio “para proclamar um ano da graça do Senhor”. O tempo, com a sua vinda, já não é como um badalar implacável de horas insones que muitas vezes nos assustam. O tempo é oportunidade, é graça! Com a vinda do Salvador, inaugurou-se este ano perene da graça. Surge a oportunidade quando o coração se abre! E a Igreja, em sua sabedoria, ainda nos oferece experiências ímpares, adequadas a cada geração que passa por esta terra. Agora, por convocação do Papa Francisco, este ano é de “Jubileu da Misericórdia”. Fomos apresentados ao Senhor da anistia plena, o Pai das Misericórdias! Nossos pecados podem ser lavados no Sangue redentor de Jesus Cristo! O Espírito Santo foi enviado para o perdão dos pecados! Tudo fala de perdão, reconciliação, cura, graça, boa notícia!
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A Igreja acontece nas comunidades
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)


Durante cinco anos e meio tive a alegria de ser Bispo na Diocese de Santa Cruz do Sul. Gostei de trabalhar junto com as comunidades e também com os padres, muitos dos quais foram meus colegas no seminário. A partir de março, deverei me transferir para a Diocese de Sinop, no Mato Grosso, onde trabalhei como padre missionário por 10 anos. Vou com a mesma disposição com que cheguei a Santa Cruz do Sul em julho de 2010, atendendo o pedido do querido Papa Francisco, sabendo que a minha missão é evangelizar: Evangelizare misit me.

Um dos principais trabalhos do Bispo é animar as lideranças e fortalecer as comunidades. E é isto que procurei fazer aqui e deverei continuar a fazer no Mato Grosso, uma vez que a fé cristã é professada e alimentada na comunidade. Conforme afirmação do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude: “o discípulo de Cristo não é uma pessoa isolada em uma espiritualidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros”.

No documento “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”, a CNBB afirma que “a palavra comunidade significa a união intima ou a comunhão das pessoas entre si e delas com o Deus Trindade. Essa comunhão se realiza fundamentalmente pelo Batismo e pela Eucaristia” (n 170). E mais: “a comunidade cristã é a experiência de Igreja que acontece ao redor da casa”. Ela se caracteriza como casa da Palavra, casa do pão e casa da caridade. É na comunidade que “o discípulo escuta, acolhe e pratica a Palavra”. É também na comunidade que ele se alimenta da Eucaristia como “sacramento de comunhão e reconciliação”. E é ainda na comunidade que ele entra numa nova dimensão, que é “a relação com Deus e com o próximo: a dimensão do amor como ágape” (n 183).

As comunidades se agregam entre si e constituem a paróquia. As paróquias se congregam e formam a Diocese. O conjunto de todas as dioceses busca seu princípio de unidade na Diocese de Roma, cujo bispo é o Papa. É assim que nós, a partir da participação na comunidade, somos Igreja Católica e formamos o Novo Povo de Deus.

Em 2016, o Povo de Deus congregado nas comunidades católicas da Diocese de Santa Cruz do Sul está sendo convidado a avaliar a sua fidelidade ao projeto de Jesus Cristo e rever a forma de iniciar os seus membros na fé cristã, através da Assembleia Diocesana de Pastoral nos dias 14 e 15 de novembro. Até lá, cada comunidade e cada paróquia deverá fazer a sua avaliação em base ao projeto de Jesus Cristo.

Reafirmemos o nosso compromisso com a comunidade de fé, ajudando-a a ser “casa da Palavra, casa do Pão e casa da Caridade”. E em comunhão com as outras comunidades, assumamos o trabalho missionário para que a Palavra de Jesus Cristo seja conhecida e vivida em todo o mundo.
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Nosso Batismo e o de Jesus
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.


A Festa do Batismo do Senhor, celebrada no domingo depois da Epifania, encerra o ciclo das Festas da Manifestação do Senhor, o ciclo de Natal. Comemoramos o Batismo de Jesus por São João Batista nas águas do rio Jordão. Sem ter necessidade do batismo de penitência de João em preparação à vinda do Messias, Jesus quis submeter-se a esse rito tal, como se submetera às demais observâncias legais que também não O obrigavam, mas que adquire o caráter de manifestação, pois nesse momento a Trindade se manifesta.

O Pai apresenta, manifesta a Israel o Salvador que Ele nos deu, o Menino que nasceu para nós: “Tu és o meu Filho amado; em ti ponho o meu bem-querer”, ou, segundo a versão de Mateus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”! (3,17). Estas palavras contêm um significado muito profundo: o Pai apresenta Jesus usando as palavras do profeta Isaías, que ouvimos na primeira leitura da missa. Mas, note-se: Jesus não é somente o Servo; ele é o Filho, o Filho amado! O Servo que o Antigo Testamento anunciava é também o Filho amado eternamente! No entanto, é Filho que sofrerá como Servo, que deverá exercer Sua missão de modo humilde e doloroso.

Às margens do Jordão, Jesus foi ungido com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, aquele que as Escrituras prometiam e Israel esperava. Agora, Ele pode começar publicamente a missão de anunciar e inaugurar o Reino de Deus. Esta missão Ele começou desde que se fez homem por nós; agora, no entanto, vai manifestar-se publicamente, primeiro a Israel e, após a ressurreição, a toda a humanidade. É na força do Espírito Santo que Ele pregará, fará Seus milagres, expulsará o mal e inaugurará o Reino; é na força do Espírito que Ele viverá uma vida de total e amorosa obediência ao Pai, e doação aos irmãos até a morte, e morte de cruz.

O Senhor desejou ser batizado, diz Santo Agostinho, “para proclamar com a sua humildade o que para nós era uma necessidade”. Com o batismo de Jesus, ficou preparado o Batismo cristão, diretamente instituído por Jesus Cristo e imposto por Ele como lei universal no dia da sua Ascensão: Todo poder me foi dado no céu e na terra, dirá o Senhor; ide, pois, ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 18-19).

E Jesus já começa cumprindo sua missão na humildade: Ele entra na fila para ser batizado por João. Ele, que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-se solidário conosco; Ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! “João tentava dissuadi-lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus se humilhasse, se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na glória, mas na humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas para propor, não para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai indica a Jesus, eis o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos cristãos, e não há outro!

O Batismo de João não é o sacramento do Batismo: era somente um sinal exterior de que alguém se reconhecia pecador e queria preparar-se para receber o Messias. Ao ser batizado no Jordão, Jesus é ungido com o Espírito Santo para a missão. Esta unção será plena na ressurreição, quando o Pai derramará sobre ele o Espírito como vida da sua vida. Então – e só então – Ele, pleno do Espírito Santo que o ressuscitou, derramará este Espírito, que será também seu Espírito, sobre nós, dando-nos uma nova vida.

O Batismo de Jesus leva-nos à meditação sobre o nosso batismo. A importância do Sacramento que nos inseriu na Igreja. Quem de nós recorda a data de seu batismo? Recordamos o nascimento carnal, mas desconhecemos o dia em que nascemos para Deus e nos tornamos “Participantes da natureza divina (...) somos, realmente, filhos de Deus!”.

“Graças ao Sacramento do Batismo tu te converteste em templo do Espírito Santo: não te passe pela cabeça – exorta São Leão Magno – afugentar com as tuas más ações um hóspede tão nobre, nem voltar a submeter-te à servidão do mal, porque o teu preço é o sangue de Cristo”.

Na Igreja, ninguém é um cristão isolado. A partir do Batismo, o cristão passa a fazer parte de um povo, e a Igreja apresenta-se como a verdadeira família dos filhos de Deus. O Batismo é a porta por onde se entra na Igreja. “E na Igreja, precisamente pelo Batismo, somos todos chamados à santidade” (LG 11 e 42), cada um no seu próprio estado e condição. O chamado à santidade e a consequente exigência de santificação pessoal são universais: todos, sacerdotes e leigos, estamos chamados à santidade; e todos recebemos, com o Batismo, as primícias dessa vida espiritual que, por sua própria natureza, tende à plenitude. É importante lembrar o caráter sacramental do Batismo “certo sinal espiritual e indelével” impresso na alma no momento (Dz, 852). É como um selo que exprime o domínio de Cristo sobre a alma do batizado. Cristo tomou posse da nossa vida no momento em que fomos batizados. Ele nos resgatou do pecado com a sua Paixão e Morte.

Portanto, Batismo é nascimento para uma vida nova e é compromisso de seguir Jesus Cristo como discípulo missionário. A água batismal não pode secar tão rapidamente de nossa fronte! Os cristãos primitivos eram batizados adultos e, ao pedirem o Batismo, sabiam que eram candidatos ao martírio. E mesmo assim, queriam ser batizados para se tornarem filhos de Deus! “Somos chamados filhos de Deus e o somos de fato!”
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Ano da Misericórdia
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


O Papa Francisco decidiu proclamar um “jubileu extraordinário”, com início no dia 8 de dezembro, centrado na misericórdia de Deus. “Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: ‘Sede misericordiosos como o Pai’, e isto especialmente para os confessores”, disse na homilia da celebração penitencial a que presidiu na Basílica de São Pedro, na abertura da iniciativa “24 horas para o Senhor”.

O Santo Padre explicou que a iniciativa nasceu da sua intenção de tornar “mais evidente” a missão da Igreja de ser “testemunha da misericórdia”. O Papa defendeu que “ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus”, e que a Igreja “é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém”. “As suas portas estão escancaradas para que todos os que são tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Quanto maior é o pecado, maior deve ser o amor que a Igreja manifesta aos que se convertem”.

Francisco destacou na sua homilia, no encontro penitencial, a importância de viver a misericórdia de Deus, através do sacramento da Reconciliação, como “sinal da bondade do Senhor” e do “abraço” de Jesus. “Ser tocados com ternura pela sua mão e plasmados pela sua graça permite que nos aproximemos do sacerdote sem medo por causa das nossas culpas, mas com a certeza de ser acolhidos por ele em nome de Deus”. O Papa sublinhou que o julgamento de Deus é o da “misericórdia”, numa atitude de amor que “vai para lá da justiça”, e desafiou os fiéis a não ficar pela “superfície das coisas”, sobretudo quando está em causa uma pessoa.

O tema da misericórdia está muito presente no atual pontificado e que já como bispo Jorge Mario Bergoglio tinha escolhido como lema “miserando atque eligendo”, uma citação das homilias de São Beda, o Venerável, que, comentando o episódio evangélico da vocação de São Mateus, escreve: “vidit ergo Iesus publicanum et quia miserando atque eligendo vidit, ait illi Sequere me” (Viu Jesus um publicano, e como olhou para ele com um sentimento de amor e lhe disse: Segue-me). Esta homilia é uma homenagem à misericórdia divina. Uma tradução do lema poderia ser: “Com misericórdia olhou para ele e o escolheu”.

No primeiro Ângelus após a sua eleição, há dois anos, o Santo Padre dizia que: “Ao escutar misericórdia, esta palavra muda tudo. É o melhor que podemos escutar: muda o mundo. Um pouco de misericórdia faz o mundo menos frio e mais justo. Precisamos compreender bem esta misericórdia de Deus, este Pai misericordioso que tem tanta paciência” (Ângelus, 17 de março de 2013).

Em 17 de novembro de 2013, o Papa surpreendeu dezenas de milhares de pessoas reunidas no Vaticano com a sugestão de um “medicamento espiritual” para as suas vidas, distribuindo numa caixa própria, a “Misericórdina”.

Também este ano, no Ângelus de 11 de janeiro, disse: “Estamos vivendo no tempo da misericórdia. Este é o tempo da misericórdia. Há tanta necessidade hoje de misericórdia, e é importante que os fiéis leigos a vivam e a levem aos diversos ambientes sociais. Adiante!”. Já na sua mensagem para esta Quaresma de 2015, o Papa Francisco deixou votos de que as paróquias e comunidades católicas se tornem “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”. Aliás, este será o tema principal de sua mensagem para o 49º Dia Mundial da Paz.

No Jubileu, as leituras para os Domingos do Tempo Comum serão extraídas do Evangelho de Lucas, chamado “o evangelista da misericórdia”. Dante Alighieri o definia “scriba mansuetudinis Christi”, “narrador da mansidão de Cristo”. Algumas das parábolas mais conhecidas escritas por ele são as da ovelha perdida, a da moeda perdida e a do pai misericordioso.

A Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII em 1300. Ele planejou um jubileu por século. A partir de 1475, para possibilitar que cada geração vivesse pelo menos um Ano Santo, o jubileu ordinário passou a acontecer a cada 25 anos. Um jubileu extraordinário pode ser realizado em ocasião de um acontecimento de particular importância.

Até hoje, foram 26 anos santos ordinários. O último foi o jubileu de 2000. Quanto aos jubileus extraordinários, o último foi o de 1983, convocado por João Paulo II pelos 1.950 anos da Redenção.

Este Ano Santo iniciou-se na Solenidade da Imaculada Conceição e será concluído no dia 20 de novembro de 2016. A abertura do Jubileu coincidiu com o cinquentenário do encerramento do Concílio Ecuménico Vaticano II, que ocorreu em 1965 e, por isso, reveste este Ano Santo de um significado especial, encorajando a Igreja a prosseguir a obra iniciada no Concílio.
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Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do Rio Preto/SP

Algumas experiências antropológicas são comuns à pessoa humana, como o nascer e o morrer; culturalmente ritualizadas, adquirem caráter “sagrado”. A celebração anual da vida de cada pessoa recorda o seu nascimento, marca o tempo de sua existência “mundana” e histórica, com um sentimento indescritível, fruto da confluência de encantamento, júbilo e ação de graças.

A celebração dos 2015 anos do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, em 25 de dezembro, pode provocar na pessoa humana o sentimento de uma “estupefação sagrada”, resultante do encontro do deslumbramento, do louvor e da gratidão. É “inaudito” o mistério da encarnação de Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo. Não é um fato incompreensível, situa-se além do comum entendimento; não é prisioneiro das estruturas cognitivas, mas se contemplado e vivido na fé, pode ser razoavelmente acolhido e humanamente celebrado.

A extensão e a intensidade do natal profano, que começa na segunda quinzena de outubro e termina na primeira quinzena de janeiro, obscurece a celebração anual do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. No Brasil, a festa originalmente religiosa sofre um processo de secularização, patrocinado pelo comércio, encontrando terreno fértil nas novas gerações que não receberam ou receberam de modo incompleto a transmissão da fé cristã.

Vivemos a realidade descrita no prólogo do evangelho de São João, ao falar de Jesus, Palavra de Deus: “Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram” (Jo 1, 9-11).

O Natal é a memória litúrgica e a recordação histórica do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, ocorrido há 2015 anos, em Belém, na Judéia (cf Mt 1, 18-25; Lc 2, 1-7). “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade”(Jo 1, 14).

Jesus não é uma pessoa qualquer, há algo de singular nele, é Deus: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus”(Jo 1, 1). Em Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus se introduz no mundo, faz história. Vem para iluminar a pessoa humana dominada pela treva do pecado: “Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la”(Jo 1, 4-5).

Manifesta ou não, há uma rejeição à pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram”(Jo 1, 9-11). Esta recusa, na maioria das vezes, é fruto de uma ignorância, parcial ou total, da pessoa e da missão de Nosso Senhor Jesus Cristo: o Divino Salvador que nos liberta da escravidão do pecado.

Quem se reconhece pecador e acolhe a Nosso Senhor Jesus Cristo, torna-se filho de Deus: “A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que creem no seu nome. Estes foram gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1, 12-13). Por ele recebemos a vida de Deus, conhecemos a Deus: “De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça. (…) Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer” (Jo 1, 16.18).

Como pecadores em conversão, aproximemo-nos da celebração litúrgica do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com “temor e tremor” sagrado ajoelhemo-nos diante do único e insubstituível Salvador, Deus que vem em nosso socorro. Para isso, não temamos dizer não àquilo que no natal secular contraria a fé e se torna um obstáculo para a vida de Deus em nós.

Feliz e santo Natal! Abençoado e feliz Ano Novo! Amplexo e todo bem!
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Natal: celebrar a paz
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)


Diante dos cenários mundiais e das suas complexidades, mais do que nunca é preciso viver o Natal como oportunidade para celebrar a paz. Os votos natalinos, os projetos que nascem nesta festa, precisam ser transformados em propósitos e compromissos com a paz. E a concretização dessas metas assumidas só será possívela partirda referência fundamental da celebração de hoje: Jesus Cristo. Prescindir da pessoa que é a razão do Natal significa a precipitação de processos, por falta de consistência e grandeza. Não se conquista a paz simplesmente transcrevendo as intenções e indicações nos papéis documentais. Afinal, essas metas e promessas habitualmente não são cumpridas ou efetivadas.

Fóruns, conferências, reuniões, cúpulas, tantos outros mecanismos de congregação de representantes e debatedores não têm força para garantir avanços mais significativos rumo à paz. A dificuldade em efetivar a convivência pacífica relaciona-se coma carência generalizada do sentido de alteridade. Na atualidade,os indivíduos não exercitam a fundamental competência que rege a fé cristã como princípio determinante: a consideração da importânciado outro. O que de fato tem contado mais é a preocupação com os próprios interesses, a manutenção de comodidades, o desânimo para fazer avançar projetos capazes de mudar os rumos da sociedade.

Celebrar o Natal como compromisso de trabalhar pela paz contribui para corrigir esses descompassos. Exige a capacidade de dar centralidade existencial à pessoa de Jesus Cristo. O nascimento de Jesus é o selo que patenteia a marca maior de Deus:o seu amor. É a oferta feita pelo Pai Misericordioso de seu Filho amado, o Salvador. A consideração de sua vinda ao encontro da humanidade e a generosidade de sua oferta incondicional são desconcertantes e têm força para vencer toda lógica do egoísmo e da mesquinhez.

O Natal hoje celebrado está balizado pela sapiencial indicação da vivência da misericórdia, meta do Ano Santo Extraordinário convocado pelo Papa Francisco. É oportunidade para se viver experiências novas capazes de fazer com que cada pessoa seja instrumento de promoção da paz. Sem o exercício da misericórdia os povos não encontrarão o caminho da paz, os inimigos não se abraçarão e não se conseguirá vencer a terrível “globalização da indiferença”, apontada pelo Papa como um grande mal deste tempo.

Este Natal merece ecoar como voz forte nos corações pela singularidade de ser celebrado no horizonte da misericórdia. Francisco acentua que com o Jubileu da Misericórdia quer “convidar a Igreja a rezar e trabalhar para que cada cristão possa maturar um coração humilde e compassivo, capaz de anunciar e testemunhar a misericórdia, de ‘perdoar e doar’, de abrir-se ‘àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática’, sem cair ‘na indiferença que humilha, no hábito que anestesia o espírito e o impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói’”. O Natal é, pois, o compromisso sério e inarredável de todo aquele que crê em Cristo garantir que onde houver cristãos haverá um oásis de misericórdia.

Quando cada pessoa assumir o compromisso de cultivar um coração misericordioso será então possível avançar na conquista efetiva da paz. O programa de vida de quem quer contribuir com a construção de um mundo pacífico inclui a compaixão e a solidariedade. Vive-se um tempo oportuno para cultivar esses valores, pois o Natal é a mais terna expressão da misericórdia de Deus, que vem ao nosso encontro. Pela coragem da experiência de cultivar a proximidade com outras pessoas é que se pode fazer do Natal fecunda celebração da paz.

Os pactos e acordos de representantes e dirigentes de nações, de grupos ou de segmentos variados da sociedade não substituirão jamais a inscrição da misericórdia como fundamento da aliança entre pessoas, com força para irmanar corações. Cultivada a misericórdia,nascerá um mundo pacífico. Deus oferece seu Filho Amado para que no Natal se celebre a paz.
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Santo Natal
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém (PA)

Multiplicam-se os cumprimentos de Natal e Ano Novo, votos que expressam os melhores desejos e augúrios, nascidos daquela reserva de amor e sensibilidade plantada por Deus e nosso coração. Não são diferentes as palavras e os gestos que a Igreja quer levar a todos os homens e mulheres de boa vontade, amados do Senhor.

Um dos privilégios da vida do Bispo, pastor visível da Igreja, é o contato com pessoas e grupos diferentes, constatando os diversos modos de preparação para o Natal, em sua maior parte muito edificantes. Nesta semana, presidi a Santa Missa no Abrigo João Paulo II, em Marituba, nesta Arquidiocese de Belém. Este Abrigo se localiza na antiga Colônia de Hansenianos, visitada por São João Paulo II quando veio a Belém. Ali, sacerdotes, religiosos e religiosas, médicos, funcionários e muitas pessoas envolvidas no acompanhamento dos irmãos e irmãs enfermos, dão testemunho da caridade vivida.

Para minha agradável surpresa, estava ali presente um casal que celebrou o Sacramento do Matrimônio há poucos dias, levando ao abrigo os presentes que constavam de sua lista de matrimônio. Aos amigos participantes da festa de casamento, pediram que qualquer presente fosse para o Abrigo João Paulo II! Gesto criativo, sinal de maturidade cristã, Natal acontecendo nos presentes que chegavam aos hansenianos.

Ao final da Missa, um interno do Abrigo, Jorge da Silva, assim se expressou numa linda e profunda mensagem de Natal, que faço minha, de coração:

“Maria, Maria... Não temas, Maria. Bendita foste tu aos olhos de Deus, pois conceberás e darás à luz um filho e o chamarás Jesus, o Salvador do mundo. Com estas palavras, chega ao ventre daquela simples mulher aquele que do mundo seria o Salvador, aquele que nasceria sob o fardo do capim, sob o olhar dos animais, mas traria em sua sina uma sentença já decretada, sofrer por mim, por você e por todos nós, sem escolher caminho ou estrada. Sua missão: semear a paz e a verdade, implantar o amor em cada coração, sem olhar defeito ou perfeição, pois todo o seu martírio por nós nos traria a salvação. Hoje comemoramos este nascimento com festas, banquetes, confraternizações. E suas dores, o martírio, que por nós passou, lembramo-nos de agradecer? Às vezes, sim, às vezes não, mas este Jesus hoje renasce em nossos corações, e a ele devemos a nossa salvação. Contudo, busquemos ser um pouco como ele neste Natal, semeando a paz, aprendendo a perdoar, estendendo as mãos aos sofridos, sem em recompensa pensar, pois a recompensa merecida, dos altos céus ele nos dará! Que este Natal seja para nós também um novo renascer, o renascer para uma nova vida sem ódio, sem mágoas, sem rancor. Que nossas mãos estejam sempre estendidas para amparar o pobre, o rico, o branco, o preto e o mendigo sofredor. Um feliz e abençoado Natal a toda a direção, funcionários e amigos do Abrigo João Paulo II. São os votos sinceros e todos os residentes”.

Não é difícil imaginar a emoção que tomou conta do meu coração e de todas as pessoas presentes. A beleza das faces, algumas machucadas pela enfermidade, mas todas enfeitadas com a graça de Deus, ofereceu o tom adequado para a o Natal antecipado! Sabedoria pura é saber que o Natal não é uma fábrica de ilusões, pois o Filho de Deus que veio até nós e assumiu nossa carne veio para dar a sua vida. Um hanseniano corajoso e poético ao mesmo tempo transita entre as palavras salvação, martírio, paz, vida, com mais coragem e liberdade do que muitas vezes somos capazes. O apelo pungente é a buscarmos ser parecidos como Jesus, semeando paz, aprendendo a perdoar, nova vida, sem ódio, sem mágoas. O espaço em que estas palavras ressoavam poderia ser apenas de dor, mas eram de esperança e de partilha, alegria incontida de quem sabe o que é Natal!

Ali, o convite à partilha generosa de recém-casados capazes de dar e não guardar presentes era um espetáculo discreto, silencioso e eloquente. Vale o apelo a que o Natal que celebramos seja de verdade a festa do amor, da verdade, partilha sincera, gestos de amor que se espalhem por toda parte. Nós cristãos temos o dever de testemunhar a grandeza da bondade de Deus que apareceu entre nós. O mundo sedento de amor misericordioso tem o direito à nossa resposta corajosa e sincera.

Celebramos o Natal do Jubileu da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco e celebrado em toda a Igreja. Alegra-nos saber que muitas pessoas já estão bebendo na fonte da misericórdia, o Sacramento da Penitência, a magnífica efusão do perdão, oferecido por Deus a todos os que o buscam. As muitas portas santas, abertas das catedrais aos santuários, dos leitos dos enfermos às celas das prisões, e os muitos jubileus a serem celebrados nos próximos meses, sejam para todos sinal do amor de Deus. Afinal, ele nos ama de verdade!

Aproxima-se o ano novo de 2016. Nele, recebemos o convite do Papa a praticar justamente as obras de misericórdia, presentes que daremos especialmente aos mais sofredores: "As obras de misericórdia são as ações caridosas pelas quais vamos em ajuda do nosso próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar, consolar, confortar, são obras de misericórdia espirituais, como perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporais consistem nomeadamente em dar de comer a quem tem fome, albergar quem não tem teto, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os mortos. Entre estes gestos, a esmola dada aos pobres é um dos principais testemunhos da caridade fraterna e também uma prática de justiça que agrada a Deus." (Catecismo da Igreja Católica 2447)

Desejo a todas as pessoas que compartilham com a Igreja o sonho da paz na terra e para alcançá-la querem dar glória a Deus nas alturas, que este seja Natal de Fé, celebrado na Igreja e na Família.
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Natal: a ternura de Deus nos abraça!
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)


Dentro de mais alguns dias, os sinos das igrejas estarão anunciando o nascimento do menino Jesus. Dessa forma irão repetir o anúncio feito pelo anjo do Senhor na noite do nascimento do filho de Maria, numa pequena gruta nos arredores de Belém: “Trago para vocês uma alegre notícia: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,10-11).

Na preparação para o Natal, em sintonia com o Ano Santo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, fomos motivados a nos deixarmos tocar pela ternura de Deus que deseja nos abraçar. Esta ternura se manifestou na visita do anjo a Maria e na visita de Maria a Isabel. E se manifestou, sobretudo, no nascimento do Menino Jesus, através dos atos da sua vida terrena e no momento em que, pregado na cruz, rezou: “Pai perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34).

Com as missas de Natal, a Igreja no Brasil também dará por encerrado o Ano da Paz. No dizer do nosso Papa, “as muitas luzes, enfeites, árvores luminosas e até presépios, são pura maquiagem se não vierem acompanhadas de gestos e atitudes de paz”. Por isso, renovo o convite a aproveitarmos as festividades do Natal para promovermos a paz na família, na comunidade e também na sociedade. Deixemo-nos tocar pelo canto da paz entoado pelos anjos na noite do nascimento de Jesus: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado” (Lc 2,14).

Uma das condições da paz é o perdão. Por isso, é impossível celebrar o Natal quando se tem ódio no coração ou se não formos capazes de perdoar aos que nos magoaram. Diz o Papa que “o perdão das ofensas é um imperativo de que não podemos prescindir”. E, mais: “deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz”.

Aproveitemos os dias do Natal para celebrar nas comunidades e confraternizar nas famílias. Não nos aconteça em deixar passar os dias do Natal sem celebrarmos com a comunidade. E, imbuídos do espírito do Sínodo dos Bispos sobre a Família, valorizemos a presença das pessoas idosas e das crianças nas comemorações do Natal em família. Não permitamos que nossos avós se sintam excluídos das comemorações natalinas. Também não permitamos que o Natal das crianças se reduza a presentes e brinquedos. Lembremos a elas que o personagem central do Natal é o menino Jesus e não o Papai Noel.

Aproveito, assim, a oportunidade que me é concedida para desejar a todos, homens e mulheres, jovens e crianças, idosos e doentes, um feliz e abençoado Natal. Que o menino Jesus, junto com Maria, a Mãe da Misericórdia, a todos abençoe e proteja. Feliz Natal!
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Com a imaculada, esperar o natal
Dom Leomar Brustolin
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)


No final de ano, as pessoas pensam e se ocupam com os preparativos do próximo Natal. Para a Igreja, este é o Tempo do Advento, no qual se espera a chegada de Alguém: o Cristo. Sinais, símbolos e figuras bíblicas marcam essa espera. Nesse contexto está, de forma especial, a Virgem Maria, a mãe de Jesus. Sua presença educa o olhar do cristão para além das coisas que passam. Ela inspira uma nova perspectiva para o Natal. A cada ano, no dia 8 de dezembro, a celebração da Imaculada Conceição suscita um renovado interesse pela Vinda de Cristo. Imaculada significa sem mácula, isto é, sem mancha. A fé cristã proclama que a Mãe de Jesus foi preservada de toda mancha do pecado. Ela nasceu livre do pecado original que marca a vida de todo ser humano que vem a este mundo.

O Cristo preparou uma mãe que fosse digna dele, por isso preservou Maria de todo pecado. Tal privilégio, entretanto, não faz de Maria uma mulher distante da experiência humana. Ser livre do pecado não faz de Maria uma mulher alienada ou passiva diante da presença do mal no mundo, diante da violência da sociedade de seu tempo, diante do pecado que escraviza tanta gente. Maria é Imaculada para gerar aquele que tira o pecado do mundo. Sua participação nesse mistério é total. De sua carne e de seu sangue, nasce o Filho de Deus que é também filho de Maria. Ele é igual a nós em tudo, exceto no pecado. Ele veio porque a humanidade precisava, e ainda precisa, de um Salvador, de alguém que devolva a beleza original da vida humana.

Pecar é falhar no projeto da vida, é distrair-se da meta, é colocar-se no centro do mundo e não buscar o sentido mais profundo da vida humana: a fraternidade em torno do único Pai. Pecar é desviar o olhar, o coração, as mãos e os pés do seguimento de Jesus Cristo. É trocar a força da presença pela compra de presentes. É pensar mais em si, do que se encontrar no outro. É absolutizar o relativo, e banalizar o eterno. É preferir mais os instantes do que a plenitude, é fixar-se demais no provisório e desistir de buscar o Inefável.

Por isso Cristo veio ao mundo, para dizer que o Natal só tem sentido quando o ser humano é capaz de ver o que tem de mais belo no outro. Superando todo fechamento, o ser humano abre-se até as potências infinitas de Deus.

Dessa realidade plena, Maria é mãe e mestra. Ela viveu em um mundo marcado por contradições e dificuldades. Mas sua grandeza estava na humildade de sua experiência. Aquela Menina de Nazaré, que viveu num lugar simples e pequeno, tornou-se a mulher que todas as gerações cantam e louvam. Ela carregou em seu ventre o Menino Deus, seu corpo foi o primeiro sacrário da história, sua carne tornou-se carne de Jesus, seu olhar de mãe velou o sono daquele que tudo governa. O criador se fez criança nos braços dessa grande e humilde mulher.

Celebrar a Imaculada, às vésperas do Natal, é contemplar a Virgem de Nazaré grávida do Menino Deus, grávida de todas as esperanças de uma humanidade livre do mal e do pecado. Maria carrega o Salvador no ventre e nos braços. A humanidade precisa, mais uma vez, neste final de ano, deixar-se envolver por essa ternura da Mãe de Deus. Não podemos nos distrair. Não há crise, provação ou dificuldade que possa roubar a esperança de quem se encontrou com Jesus Cristo. Com a Imaculada, é preciso proclamar que o Natal é tempo de fazer brilhar o que há de mais belo no ser humano: a capacidade de amar e ser amado. Esse amor só pode ter uma fonte: Deus!

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A Imaculada Conceição
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


Hoje celebramos a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, ou seja, honramos o privilégio singular concedido por Deus à Virgem Maria preservando-a da herança do pecado original, por ter sido a escolhida para a Mãe do Filho de Deus encarnado. Por ser um importante dogma da nossa Fé, tem uma comemoração especialíssima no calendário católico.

A doutrina do pecado original foi bem explicada por São Paulo: “Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo,...” (Rm 5,12). “Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores” (Rm 5,19). E chegamos à doutrina da Redenção, também ensinada pelo Apóstolo: “Assim como da falta de um só resultou a condenação de todos os homens, assim também da obra de justiça de um só (Cristo), resultou para todos os homens a justificação que traz a vida” (Rm 5,18).

Este pecado original, em Adão uma falta voluntária, nos outros homens se constitui na privação da graça divina, que havia sido concedida a toda a humanidade na pessoa do primeiro homem. A graça, por ele perdida para si e para todos os seus descendentes, foi recuperada pelo segundo Adão, Jesus Cristo, pela sua Redenção, que nos alcança através do Batismo.

Ora, Deus havia prometido, no momento do pecado de Adão, que uma mulher com o seu filho, o futuro Salvador, venceria completamente o demônio. Não teria, pois, nenhum pecado. Não teria, em nenhum instante, a menor privação da graça divina.

Por isso, essa mulher especial, Maria, escolhida para a Mãe do Redentor, foi saudada pelo Anjo mensageiro de Deus com as palavras: “Ave, ó cheia de graça..., bendita entre as mulheres”, portanto, sem pecado. A Redenção de Cristo a atingiu, de modo preventivo, preservando-a, por privilégio único, do pecado que atinge a todos os homens.

É esse, pois, o dogma da Imaculada Conceição, que celebramos: Maria, desde a sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada de toda mancha do pecado original.

A Imaculada Conceição de Maria tem muito a ver com o Brasil. Em 1646, o Rei Dom João IV, reunido com as Cortes gerais do Reino, consagrou a Nossa Senhora da Conceição Portugal e todos os seus domínios, nos quais estava incluído o Brasil, ainda dependente da nação portuguesa. Em 1717, ocorreu a milagrosa pesca da Imagem de Nossa Senhora da Conceição, por três pescadores, imagem que começou logo a ser intitulada de “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”, fonte de muitas bênçãos para a nossa pátria. Em 1904, a Imagem da Aparecida foi solenemente coroada, por mandado do Papa São Pio X, com uma coroa de ouro cravejada de 40 brilhantes que lhe fora oferecida pela Princesa Isabel. E em 1930, atendendo a uma solicitação do Episcopado Brasileiro, o Papa Pio XI declarou Nossa Senhora da Conceição Aparecida Padroeira Principal do Brasil, proclamação essa oficialmente ratificada pelo governo brasileiro da época.

Hoje, de modo especial, quando o Papa Francisco abre a Porta Santa e inaugura o Ano Jubilar da Misericórdia, saudamos nossa Rainha Imaculada como Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa. Salve!
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O SILÊNCIO NA MISSA
Silenciar-se diante do Sagrado é atitude comum a muitas experiências religiosas, inclusive no Cristianismo, e necessária no Catolicismo Romano. Entre nós, a experiência do silêncio brota do exemplo e das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Depois de despedir as multidões, Jesus subiu à montanha, a sós, para orar. Anoiteceu, e Jesus continuava lá, sozinho”(Mt 14, 23); “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa” (Mt 5, 6).

Na oração cristã católica o silêncio é parte integrante, indispensável. A oração silenciosa, contemplativa, sem dúvida alguma, é uma nobre forma de rezar. Jesus nos aconselha: “Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que precisais, antes de vós o pedirdes”(Mt 5, 7).

A celebração da Santa Missa, com a presença de várias ou muitas pessoas, tem momentos de silêncio que ajudam na oração. Na práxis diária das paróquias e comunidades, é preciso redescobrir estes momentos e valorizá-los como meios adequados que ajudam a rezar bem, contribuindo para um diálogo eficaz com o Pai.

A celebração da Santa Missa deve ser precedida por um tempo razoável de silêncio sagrado. Para que isto se torne possível, é preciso que nos trinta minutos que precedem a Celebração Eucarística seja garantido aos fiéis as condições necessárias para este silêncio. O teste dos microfones, a afinação dos instrumentos musicais e ensaio dos cantos, a preparação do presbitério, e outras providências, devem ser realizadas com maior antecedência. Este silêncio e espaço adequado para tal é um direito do fiel orante e condição para uma efetiva participação na Ceia do Senhor.

Em algumas paróquias e comunidades tem-se o saudável costume de rezar o rosário ou uma parte da Liturgia das Horas, Laudes ou Vésperas, ou outra, antes da Santa Missa. Este é um hábito louvável e não deve ser supresso. Neste caso, estas orações, substituem o silêncio, preparando o fiel orante para a celebração da Santa Missa.

Um momento de silêncio é parte integrante do ato penitencial, precede a oração de súplica de perdão dos pecados, após o convite do sacerdote à penitência. Este silêncio é uma oportunidade para o fiel, guiado pelo Espírito Santo, contemplar-se no espelho de sua alma e averiguar com contrição os seus pecados, colocando-se humildemente diante de Deus para receber a absolvição sacerdotal.

A “oração de coleta”, que conclui os ritos iniciais e antecede a Liturgia da Palavra, é precedida por um tempo de oração silenciosa, momento oportuno para que o fiel orante recolha do seu coração, e deixe elevar ao céu, as intenções e motivações que trás consigo para a celebração da Santa Missa.

“Após as leituras, é aconselhável um momento de silêncio para meditação.” O mesmo silêncio pode ser oportuno ocorrer após a homilia. É a hora de deixar a Palavra de Deus encontrar espaço no terreno fértil do coração e da mente do fiel orante, transformando-se em oração.

Após a comunhão eucarística, “é aconselhável guardar um momento de silêncio (...)”. Tendo o fiel orante comungado o Corpo e ou o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, é o espaço singular de uma oração de ação de graças. Caso não ocorra neste momento, ele deve ser realizado antes da “oração depois da comunhão”, depois do convite do sacerdote, “Oremos”.

Após os ritos finais, bênção e despedida, o fiel orante poderia realizar uns instantes de oração silenciosa. Para que isto aconteça, é preciso que se crie o ambiente oportuno, devendo o sacristão e as outras pessoas envolvidas na organização da liturgia, aguardar um tempo para recolherem os objetos sacros, os instrumentos musicais e outros usados durante a celebração.

Como verificamos, na celebração da Santa Missa fomos perdendo, menosprezando ou ignorando estes momentos próprios de silêncio, o que interfere na harmonia da Celebração Eucarística e que de alguma forma desfigura o modo católico romano de celebrá-la. Vamos redescobrir e valorizar o silêncio na Santa Missa, nos momentos apropriados e recomendados. Assim rezaremos melhor.

+ Tomé Ferreira da Silva.
Bispo Diocesano de São José do Rio Preto/SP
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Nossa Senhora Aparecida, Mãe da Misericórdia
Nossa Senhora Aparecida, Mãe da Misericórdia A mãe de Jesus e nossa, merece ser honrada como Mãe da Misericórdia e Mãe de Misericórdia, porque experimenta e gera a Misericórdia. Maria está desde a sua concepção envolta na misericórdia infinita (preservada do pecado original), ao mesmo tempo em que o seu agir está assinalado pelo amor efetivo aos seres humanos, especialmente pelos pecadores e sofredores. Maria é a pessoa que conhece mais a fundo o mistério da misericórdia divina. A invocação “Salve Rainha, Mãe de misericórdia”, destaca a qualidade do olhar materno de Maria: “esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”, e conclui com o sentido desta sua misericórdia: “ó clemente, ó piedosa, ó doce, Virgem Maria”.

A partir do seu “eis-me aqui” e o seu “faça-se” (Lc 1,28), a misericórdia divina se faz carne e entra na história. Ela é Mãe da divina graça porque é Mãe de Deus, autor da graça. Ela nos faz compreender que Deus por pura misericórdia nos dá muitas vezes além do necessário do que seria justiça nos conceder; nos mostra que Deus nos dá além dos nossos méritos. No Magnificat, Maria louva ao Pai Misericordioso: “a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”; “socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia” (Lc 1, 50.54).

A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecia, a Padroeira do Brasil, começa em 1717 como prova concreta da misericórdia divina. Época do Brasil colonial, que estava dividido pelo “muro vergonhoso da escravatura”. Os escravos eram constantemente castigados, geralmente com açoites, a punição mais comum no Brasil Colônia. Além da escravidão, não havia liberdade política e econômica, o que impedia o crescimento do pais. Mostrando-se solidário a todos esses sofrimentos, “Nossa Senhora Aparecida se apresenta com a face negra, primeiro dividida, mas depois unida nas mãos dos pescadores”. A imagem da Imaculada Conceição encontrada, primeiro o corpo e depois a cabeça, tornou-se uma unidade de corpo e cabeça, o prenúncio da soberania, da Independência do Brasil, que seria conquistada em 7 de setembro de 1822.

A devoção mariana, vivida no horizonte da centralidade de Jesus Cristo e do Reino de Deus, é legítima e saudável. Deve ser respeitada e estimulada, para que a mãe de Jesus molde nosso coração de discípulos e missionários de Cristo, levando-nos a viver autenticamente o mistério de amor e misericórdia em nossos tempos.

Padre Gilmar Antônio Fernandes Margotto
Paróquia Nossa Senhora Aparecida
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Fim da História
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)


Inúmeros acontecimentos da atualidade dão a impressão de que estamos tocando no final dos tempos. Muitas pessoas dizem que estamos chegando ao fim do mundo, que deveria coincidir também com o fim da história, quando não haverá mais contagem das horas. Será que caminhamos para a falência total, para a destruição de tudo que existe, caindo num total vazio e no caos?

A natureza realmente vem sendo agredida. Ela tem que “fazer milagre” para se sobreviver e dar possibilidade de vida. Os seres vivos, isto é, as pessoas, destinatárias de todos os bens da criação, vão sendo encurraladas pela violência, poluição, agrotóxicos, apartamentos cada vez mais cubículos, exploração econômica, desemprego e uma série de outros sofrimentos e limites.

A sensação realmente é de uma realidade preocupante. As pessoas são ameaçadas por todos os lados. Não só ameaça física, mas também psicológica, social e espiritual. Ricos e pobres são reféns de situações indesejáveis, minando a esperança de um futuro feliz. Com isto, muitos perdem o rumo, se desesperam e acabam eliminando a própria vida.

Acontece que não nos damos conta de que é Deus quem dirige a história. Ele capacita todas as pessoas de condições necessárias para enfrentar as realidades negativas que encontram. Mas elas passam, têm o seu fim, e a história continua. Os sofrimentos, que marcam o tempo final, não são a conclusão de tudo. São, sim, as marcas da história, que muda, mas continua.

Não é fácil interpretar os sinais dos tempos, mesmo que eles sejam bem evidentes e com aparência de fim do mundo. Depende de uma sabedoria divina para direcionar o pensamento para realidades de esperança e provocadora de vigilância. As catástrofes das mineradoras, matando muita gente, não significa fim, mas exploração irresponsável e injusta.

A história não tem sido lida a partir da Palavra de Deus. Os critérios têm acontecido de forma, apenas, humana. Por isto sofremos as consequências desastrosas, que ceifam a vida de muitas pessoas. Alguma coisa de sobrenatural está sendo colocada no ostracismo, desrespeitando a justiça divina.
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Nossa Senhora Aparecida, mãe da misericórdia - Padre Gilmar
A mãe de Jesus e nossa, merece ser honrada como Mãe da Misericórdia e Mãe de Misericórdia, porque experimenta e gera a Misericórdia. Maria está desde a sua concepção envolta na misericórdia infinita (preservada do pecado original), ao mesmo tempo em que o seu agir está assinalado pelo amor efetivo aos seres humanos, especialmente pelos pecadores e sofredores. Maria é a pessoa que conhece mais a fundo o mistério da misericórdia divina. A invocação “Salve Rainha, Mãe de misericórdia”, destaca a qualidade do olhar materno de Maria: “esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”, e conclui com o sentido desta sua misericórdia: “ó clemente, ó piedosa, ó doce, Virgem Maria”.

A partir do seu “eis-me aqui” e o seu “faça-se” (Lc 1,28), a misericórdia divina se faz carne e entra na história. Ela é Mãe da divina graça porque é Mãe de Deus, autor da graça. Ela nos faz compreender que Deus por pura misericórdia nos dá muitas vezes além do necessário do que seria justiça nos conceder; nos mostra que Deus nos dá além dos nossos méritos. No Magnificat, Maria louva ao Pai Misericordioso: “a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”; “socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia” (Lc 1, 50.54).

A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecia, a Padroeira do Brasil, começa em 1717 como prova concreta da misericórdia divina. Época do Brasil colonial, que estava dividido pelo “muro vergonhoso da escravatura”. Os escravos eram constantemente castigados, geralmente com açoites, a punição mais comum no Brasil Colônia. Além da escravidão, não havia liberdade política e econômica, o que impedia o crescimento do pais. Mostrando-se solidário a todos esses sofrimentos, “Nossa Senhora Aparecida se apresenta com a face negra, primeiro dividida, mas depois unida nas mãos dos pescadores”. A imagem da Imaculada Conceição encontrada, primeiro o corpo e depois a cabeça, tornou-se uma unidade de corpo e cabeça, o prenúncio da soberania, da Independência do Brasil, que seria conquistada em 7 de setembro de 1822.

A devoção mariana, vivida no horizonte da centralidade de Jesus Cristo e do Reino de Deus, é legítima e saudável. Deve ser respeitada e estimulada, para que a mãe de Jesus molde nosso coração de discípulos e missionários de Cristo, levando-nos a viver autenticamente o mistério de amor e misericórdia em nossos tempos. Padre Gilmar Antônio Fernandes Margotto

Paróquia Nossa Senhora Aparecida Votuporanga
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O dia do nascituro
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


Por determinação da 43ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em 2005, celebra-se, em todo o Brasil, de 1 a 8 de outubro, a Semana Nacional da Vida e no dia 8 de outubro o Dia do Nascituro, ou seja, o Dia pelo direito de nascer. “A Semana Nacional da Vida e o Dia do Nascituro são ocasiões para que toda a Igreja continue afirmando sua posição favorável à vida desde o seio materno até o seu fim natural, bem como a dignidade da mulher e a proteção das crianças” (Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário geral da CNBB). Uma data esquecida, mas que vale a pena recordar. Nascituro, o que está para nascer, é o que todos fomos um dia, no útero de nossa mãe, onde teve início nossa existência, graças a Deus.

Foi escolhido o dia 8 de outubro, por ser próximo ao dia em que se celebra a Padroeira do Brasil (12 de outubro), cujo título, ao evocar a concepção, lembra o fruto correspondente: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Mãe de Deus que se fez homem, Jesus Cristo, nascituro em seu seio, que faz João Batista exultar de alegria no ventre de Isabel (Lc 1,39-45).

A propósito, diante da atual banalização da vida e de opiniões favoráveis ao aborto, defendido por inúmeras pessoas influentes, é importante lembrar que a Igreja compreende as situações difíceis que levam mães a abortar, mas, por uma questão de princípios, defende com firmeza a vida do nascituro, como bem nos ensina S. João Paulo II na Carta Encíclica "Evangelium Vitae" (Sobre Valor e a Inviolabilidade da Vida Humana): “É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um caráter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas essas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente” (n. 58). E, usando da prerrogativa da infalibilidade, o Papa define: “Com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus sucessores, em comunhão com os Bispos – que de várias e repetidas formas condenaram o aborto e que... apesar de dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina - declaro que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal” (n. 62).

Agradeçamos ao Criador pelo dom da vida que nos deu, e renovemos o nosso compromisso de lutar pela vida daqueles que, como nós fomos também, ainda não têm voz, mas que são chamados a um dia agradecerem a Deus por tão grande dom. Lutemos pela vida, contra o aborto.
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Promotores da Paz e cuidadores da Criação
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)


Dentro das programações do Ano da Paz, a CNBB propõe que as dioceses aproveitem as comemorações de São Francisco de Assis, no dia 04 de outubro, para promoverem caminhadas pela paz. Na nossa diocese fizemos esta caminhada na Romaria da Santa Cruz no dia 13 de setembro. Para este final de semana, sugerimos que as paróquias voltem a rezar a oração da paz atribuída a São Francisco de Assis, que foi também a oração da nossa Romaria Diocesana. Onde houver possibilidade, as paróquias também poderão fazer caminhadas ou manifestações pela paz.

As comemorações de São Francisco de Assis sugerem dois temas vitais para a humanidade no atual contexto da história. Refiro-me aos temas da paz e da ecologia.

Com seu jeito de ser e sua pregação, São Francisco entrou para a história como personagem central quando o assunto é “paz”. Foi este o sentimento que motivou centenas de lideres religiosos do mundo a se unirem em oração, na cidade de Assis, Itália, em 1986, 1993, 2002 e 2011, atendendo o convite, respectivamente de São João Paulo II e Bento XVI. A preocupação das igrejas cristãs e das outras grandes religiões da humanidade encontra um ponto de convergência em São Francisco de Assis, que pedia: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz”. Cada uma das religiões, a seu modo, é convidada a ser instrumento de paz. O mesmo convite é feito a cada ser humano que professa a fé em Deus.

Além do tema da paz, o Santo de Assis também é referência quando o assunto é ecologia. Justamente por isso ele é invocado como patrono daqueles que se empenham na defesa do meio ambiente, particularmente da natureza e dos animais. Ao se referir a ele na encíclica Laudato Si, o Papa Francisco diz que “nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres e a paz interior”. Sempre que olhava para o sol, a lua ou os minúsculos animais, São Francisco cantava, “envolvendo no seu louvor todas as criaturas”. Para ele, “qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso, sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe” (LS, n. 11).

Aproveitemos a oportunidade que nos é oferecida com as comemorações de São Francisco de Assis para rezar pela paz e tomar atitudes que a promovam. Empenhemo-nos para que o ódio dê lugar ao amor, a ofensa dê lugar ao perdão, a discórdia dê lugar à união e a perseguição religiosa seja erradicada para sempre entre os povos. Aproveitemos também para rezar pelo fortalecimento da consciência ambiental entre os povos, para que a nossa casa comum seja tratada com o respeito que ela merece.

Com o Papa Francisco, peçamos: “Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo e não o depredemos, para que semeemos beleza e não poluição nem destruição”.
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Instituição familiar
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba


Tem sido muito difícil entender os rumos da cultura dentro da chamada “mudança de época”. No cenário visualizado dos últimos tempos, conseguimos ver, com muita facilidade, a crise de valores. Ficamos até nos interrogando se o que víamos como valor, era realmente valor. Onde está o erro, no passado, ou no presente. Nem sei se isto pode ser medido a partir das consequências apresentadas!

A família foi sempre compreendida como um grande valor. Ela, sem dúvida nenhuma, deixou um legado muito importante para a sociedade do passado. Será que podemos dizer o mesmo nos dias de hoje? Existe a tentativa da formatação de novos valores familiares, provocando grandes crises, que afetam fortemente o itinerário social. Estamos passando da realidade para prática de ideologias.

Entendo que o amor familiar, conforme os ensinamentos do Evangelho, está desaparecendo. Ele deixou de ser verdadeiro, de comprometimento, e é praticado como ato de satisfação imediata e sem compromisso mútuo. O amor exige sacrifício e doação de vida de um para o outro. Deve crescer com o tempo e não cair no esvaziamento, provocando situações desagradáveis.

Alguns detalhes são fundamentais, isto é, valores que não podem faltar na instituição familiar: o diálogo, o respeito mútuo, a igualdade e a paz. Será que o individualismo, a cultura midiática e virtual têm permitido que esses valores sejam realmente valores para a família? Ou estamos num mundo de inversão de valores!

Pela natureza humana, ninguém existe para viver na solidão e nem numa situação abaixo dos animais. Também não estamos num contexto patriarcal familiar onde um manda mais do que outro, dificultando a convivência. Não pode haver submissão e nem desrespeito pela individualidade do outro. Há, sim, unidade na diferença, no diálogo e no discernimento.

Temos que saber entender os limites e os sofrimentos que acompanham o ser humano, mas encará-los com muita dignidade, deixando-nos conduzir na busca da perfeição. Certas facilidades são enganosas e fazem a pessoa perder a direção, o rumo e acaba terminando a vida de forma totalmente infeliz.

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Um sínodo, um pontificado
Dom Demétrio Valentini – Bispo de Jales

Neste domingo, 04 de outubro, dia de São Francisco, começa em Roma o aguardado Sínodo sobre a Família. Ele se prolongará até o dia 25 deste mês. Será seguido de perto, não só pela Igreja Católica, mas por muita gente que intuiu que este sínodo não se limitará a aprofundar um assunto, mas servirá de referência para a definição do pontificado do Papa Francisco.

De fato, vai ficando cada vez mais clara a estratégia do Papa. Com a realização de dois sínodos, um em seguida ao outro, as atenções são direcionadas para um assunto que em si mesmo é importante, mas que sobretudo serve de termômetro para medir a verdadeira postura da Igreja diante dos problemas que a humanidade vive hoje.

Neste sentido, a família é a realidade mais consistente que simboliza a humanidade inteira. Isto permite a afirmação mais categórica e mais abrangente do mistério salvífico que somos chamados a professar.

Se a realidade da família representa bem a complexa existência humana, podemos fazer a grande afirmação que resume nossa convicção cristã, e nos coloca numa perspectiva ampla e inesgotável: Deus se compadeceu da família humana, e resolveu redimi-la, enviando-nos o seu Filho Único, que desencadeou sua ação salvadora começando por assumir uma família, e se inserindo através dela no contexto concreto da humanidade.

Assim, se buscássemos uma realidade representativa de toda a humanidade, não precisaríamos titubear: olhemos para a família, e nela iremos encontrar os desafios que a trajetória humana nos apresenta.

Esta prioridade que o Papa Francisco vai dando à família, não é aleatória. Vai emergindo hoje, em toda a sociedade, uma salutar preocupação pela situação da família. Talvez por ver quanto se tornou adverso hoje o ambiente para uma vivência familiar das pessoas, e quantos atropelos a família precisa enfrentar no contexto social e cultural de hoje.

Em todo o caso, concordamos facilmente que é dever do Papa sair em defesa da família, como ele fazendo de maneira exímia.

O que nem todos concordam é com a postura que o Papa Francisco propõe para uma ação concreta em defesa das famílias. Pois a insistência do Papa em abordar a questão familiar, tem por finalidade encontrar ações concretas que possam servir de apoio à família em meio dos problemas que hoje ela enfrenta. Sua preocupação, portanto, é de ordem pastoral. Consiste em encontrar meios concretos de apoiar as famílias, para fortalecer uma verdadeira “pastoral familiar”.

Neste breve tempo de pontificado, com seus gestos e suas palavras, o Papa Francisco conseguiu assinalar com muita clareza uma insistência que já se constituiu na marca definitiva do seu pontificado. Ele propõe a misericórdia como fonte inspiradora de toda a atitude da Igreja diante da família, e como inspiração do relacionamento cotidiano com as pessoas.

Neste sentido, é muito significativa a decisão do Papa em convocar um “Jubileu Extraordinário da Misericórdia”, a se iniciar justo no dia em que a Igreja conclui a celebração dos 50 anos do encerramento do Concílio, no dia 08 de dezembro. Como a dizer que, agora, o caminho concreto para colocar em prática a renovação eclesial proposta pelo Concílio, será a atitude de misericórdia, pela qual se torna possível superar os impasses existenciais do convívio humano.

O Pontificado do Papa Francisco ficará na história com a marca registrada da misericórdia.
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Ideologia de Gênero, um dogma perverso
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba (SP)


Os textos abaixo traduzem o que pensa o “feminismo de gênero” sobre as religiões e, em especial, sobre o cristianismo. Como desdobramento do feminismo de gênero surgiu a “teoria queer” que ensina ser “a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos indivíduos o resultado de um construto social e que, portanto, não existem papeis sexuais essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais.” Tanto o feminismo de gênero como a “teoria queer” se opõem ferozmente ao cristianismo.

“O feminismo não existe de um lado e a ‘teoria queer’ de outro, afirma a filósofa Judith Butler. Para ela não existem limites de lutas nem de esforços teóricos entre eles”.

“Vale ressaltar que para o “feminismo de gênero”, a religião é uma invenção humana e as principais religiões foram inventadas por homens para oprimir as mulheres. Por isso, as feministas radicais postulam a re-imagem de Deus como Sophia: A sabedoria feminina.” Nesse sentido, as “teólogas do feminismo de gênero” propõem descobrir e adorar não a Deus, mas a Deusa. Por exemplo, Carol Christ, que se autodenomina “teóloga feminista de gênero” afirma o seguinte:

“Uma mulher que se faça eco à declaração dramática de Ntosake Shange:” ´Encontrei a Deus em mim mesma e o amei ferozmente’ está dizendo: O poder feminino é forte e criativo´, está afirmando que o princípio divino, o poder salvador e sustentador, está nela mesma e já não mais verá o homem ou a figura masculina como um salvador”. (Carol Christ, Womanspirit Rising).

Um vídeo promovendo o Fórum das ONGs sobre a Conferência de Pequim, produzido por Judith Lasch diz:

“Nada tem feito mais para constranger a mulher que os credos e ensinamentos religiosos”.

Igualmente estranhas são as palavras de Elisabeth Schussler Fiorenza, outra “teóloga feminista de gênero” que nega radicalmente a possibilidade da Revelação, como lemos na seguinte citação:

“Os textos bíblicos não são a revelação de inspiração verbal nem de princípios doutrinais, mas formulações históricas. Da mesma forma, a teoria feminista insiste em que todos os textos são produto de uma cultura e historia patriarcal e androcêntrica”. (Elisabeth Schussler Fiorenza, In Memory of Her, Crossroad, New York, 1987).

Além disso, Joanne Carlson Brown e Carole R. Bohn, também teólogas autointituladas “escola feminista de gênero” atacam diretamente o Cristianismo como propulsor do abuso infantil:

“O cristianismo é uma teologia abusiva que glorifica o sofrimento. É possível assombrar-se que haja muito abuso na sociedade moderna, quando a imagem teológica dominante da cultura é ‘abuso divino do filho’ de Deus Pai que exige e efetua o sofrimento e a morte de seu próprio filho? Se o Cristianismo é para ser libertador dos oprimidos, deve primeiro livrar-se dessa teologia”. (Joanne Carlson Brown and Carole R. Bohn, Christianity, Patriarchy, and Abuse: A Feminist Critique).

Portanto, os proprietários da “nova perspectiva” promovem o ataque frontal ao cristianismo e toda figura que o represente. Em 1994, Rhonde Copelon e Berta Esperanza Hernandez elaboraram um panfleto para uma série de sessões de trabalho da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento no Cairo. O folheto atacava diretamente o Vaticano por opor-se à sua agenda que, entre outras coisas, inclui o “direito à saúde reprodutiva” e, consequentemente, o aborto.

“Este reclamar dos direitos humanos elementares está enfrentando a oposição de todos os tipos de fundamentalistas religiosos, com o Vaticano como um líder na organização de oposição religiosa à saúde e direitos reprodutivos, incluindo até os serviços de planejamento familiar”. (Rondhe Copelon y Berta Esperanza Hernández, Sexual and Reproductive Rights and Health as Human Rights: Concepts and Strategies; An Introduction for Activitists, Human).

Nada mais fundamentalista que o dogma da ideologia de gênero, esta, sim, um construto mental que pretende obrigar-nos a crer que “menino e menina” nada tem a ver com aquele corpo que vemos logo que nasce um bebê e que antes de nascer, segundo as feministas radicais, é propriedade da mulher, vítima duma concepção aborrecida.

O discípulo de Cristo será odiado ao se opor a essa perversa ideologia, pois ele sabe: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20).
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O Servo Sofredor
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém


O conhecimento progressivo de Jesus provocou muitas interrogações no coração de seus discípulos. Até hoje as opiniões se dividem em torno dele, na contínua procura do relacionamento com Deus. Mesmo as pessoas que não professam a fé são de algum modo tocadas pela sua presença e pela força de suas palavras. Os primeiros discípulos do Senhor, homens simples, vindos do mundo do trabalho, com suas expectativas interiores tantas vezes confusas inclusive pelos limites da própria prática religiosa, tiveram que aprender, pouco a pouco, para superar a visão de um messias triunfalista e acolher o Senhor que era enviado pelo Pai, cujo itinerário passava pelo mistério da dor, sempre presente e sempre incompreensível.

Depois do contato com multidões que os cercavam, chega a hora da verdade, com crises que se sucederam, através das quais Jesus os conduz ao aprofundamento do ato de fé (Cf. Mc 8, 27-35). Para alguns, cuja opinião os próprios discípulos recolheram e levaram a Jesus, este era João Batista ressurgido, quem sabe, Elias, ou algum dos profetas. Hoje ele é considerado sábio, revolucionário, até escritor, sem ter redigido um livro sequer! Jesus é por muitos acolhido na beleza de suas palavras testemunhadas pelos Evangelhos, mas o que se seguiu a ele, a Igreja, nem sempre encontra aceitação, talvez por culpa dos próprios cristãos. Mas é fato que Jesus Cristo intriga a todos que dele ouvem falar ou que se aproximam para conhecê-lo de perto. Pedro, em nome de seus irmãos, marcado pela própria história de fragilidades e incertezas, mas corajoso para dar o primeiro passo, proclama a verdade da fé: “Tu és o Messias”. Ele é chamado Cristo, Filho do Deus Vivo, é reconhecido como Senhor, Salvador, aquele que devia vir ao mundo.

O processo vivido por Pedro é muito semelhante ao nosso. É bonito dizer que Jesus é o Senhor, mais exigente é ouvir o que ele tem a dizer, quando escancara o coração, quem sabe, animado pela prontidão da resposta de Pedro: “E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar. Falava isso abertamente” (Mc 8, 31-32). Sofrimento, Cruz, incompreensões, perseguição e julgamento, enfermidades, incômodos de todo tipo, tudo fica à disposição de quem quiser! Não é necessário ser cristão para “topar” com estes muitos tropeços a cada dia. No entanto, justamente no mais profundo da experiência humana cotidiana, lá dentro do mistério da dor, é que Deus entra, dizendo que “é necessário”! É que você pode dar tantas coisas a Deus e ao próximo, começando de sua família, para chegar depois às situações mais dolorosas e absurdas desta terra. Só lá dentro da experiência da dor, quando, mais forte do que outras vozes, ressoa a voz de Deus e você consegue dizer sim, transformando a dor em amor. Ali, naquela que chamei “hora da verdade”, você se torna plenamente homem ou mulher, assume suas próprias responsabilidades, aceita não se apoiar nas muletas dos elogios ou do bom humor passageiro, numa palavra, amadurece! Você se transforma em discípulo verdadeiro, podendo repetir um dos cânticos do Servo Sofredor, e proclamar: “O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não fiquei revoltado, para trás não andei. Apresentei as costas aos que me queriam bater, ofereci o queixo aos que me queriam arrancar a barba e nem desviei o rosto dos insultos e dos escarros. O Senhor Deus é o meu aliado por isso jamais ficarei derrotado, fico de rosto impassível, duro como pedra, porque sei que não vou me sentir um fracassado” (Is 50, 5-7).

Há opções a serem feitas pelo cristão diante dos desafios da vida. Vale começar pela disposição ao serviço. Aceitar ser servo, antes de pretender mandar em tudo e em todos, justamente num mundo que desgasta pela competição e pela corrida pelas primeiras posições, com os frutos que constatamos na crise em que nos encontramos. Ser servo significa tomar iniciativas de serviço e solidariedade, quando tudo mostra justamente o contrário, com pessoas que buscam a qualquer preço salvar a própria pele. Pedro, o apóstolo a que foi confiado o primado, quando Jesus começa a falar de cruz, assusta-se e precisa ser repreendido, por pensar as coisas de um modo tão humano que o afasta de Deus.

Chamar de Cruz, reconhecer a misteriosa presença do Senhor em todas as dificuldades, sem exceção, é ato da inteligência da fé de quem procura ver o rumo dos acontecimentos e não apenas o quadro limitado dos problemas, que parecem ser maiores do que nossa capacidade para enfrentá-los. Trata-se de não perder tempo, mas reconhecer sempre, logo e com alegria a presença misteriosa e fecunda de Jesus, na sua entrega até o abandono, experimentada na Cruz.

Diante da Cruz, descobri-la em seus dois sentidos, voltada para o alto e para a eternidade e aberta para acolher as outras pessoas. Dois amores devem se encontrar no coração de quem professa a fé cristã: amar a Deus com todas as forças, toda a inteligência e todo o afeto, amar o próximo com o amor que vem do próprio Deus, com a medida o amor de Cristo.

Estas escolhas exigentes foram expressas de modo profundo por Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, numa meditação, que tenho a alegria de compartilhar: “Tenho um só esposo sobre a terra: Jesus crucificado e abandonado. Não tenho outro Deus senão Ele. Nele está todo o paraíso com a Trindade e toda a terra com a humanidade. Por isso, o que é seu é meu e nada mais. Sua é a dor universal, portanto é minha. Sairei pelo mundo buscando-o em cada instante da minha vida. O que me faz mal é meu. Minha é a dor que me perpassa no presente. Minha, a dor das almas ao meu lado. Meu tudo aquilo que não é paz, gáudio, belo, amável, sereno... Assim, pelos anos que me restam, sedenta de dores, de angústias, de desesperos, de separações, de exílios, de abandonos, de dilacerações... de tudo aquilo que é Ele, e Ele é a dor. Assim, enxugarei a água da tribulação em muitos corações vizinhos e, pela comunhão com meu esposo onipotente, nos corações distantes. Passarei como fogo que consome tudo o que deve cair e deixa em pé somente a Verdade. Mas é preciso ser como ele, Ser ele no momento presente da vida”.
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Celeridade nos processos matrimoniais
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião (RJ)


A Sala de Imprensa da Santa Sé, no dia 08 de setembro, apresentou dois novos documentos pontifícios (Motu Proprio) que dizem respeito claramente aos processos de nulidade matrimonial.

As alterações constam nos dois documentos “Mitis Iudex Dominus Iesus” (Senhor Jesus, manso juiz) e “Mitis et misericors Iesus” (Jesus, manso e misericordioso), ele contém as indicações para a reforma do processo de declaração de nulidade matrimonial e alteram o Código de Direito Canônico promulgado em 1983 por São João Paulo II e o Código de Cânones das Igrejas Orientais promulgado pelo mesmo santo em 22 de fevereiro de 1991.

De uma leitura do documento eu me deterei no que se refere ao Código de Direito Canônico (ou seja para a Igreja Latina): depreende-se de que o Santo Padre Francisco quer valorizar o papel do Bispo Diocesano como o supremo juiz em sua Igreja Particular, conforme doutrina do Concílio Vaticano II. Em se tratando de causas matrimoniais, em que a demanda é sempre muito grande, a grande novidade agora é que o casamento, quando se chega a certeza moral de que este é nulo, poderá ser declarado apenas por uma só sentença favorável para a nulidade executiva. Até o presente momento eram necessárias duas sentenças conformes, ou seja, iguais de nulidade, de primeiro e de segundo grau, ou de primeiro e de terceiro grau ou de segundo e de terceiro grau. Agora não será mais necessária a decisão de dois tribunais. Com a certeza moral do primeiro juiz (colegial ou monocrático), o matrimônio será declarado nulo.

A grande inovação que o Santo Padre nos presenteou é na inovação de juízo único. O que significa isso? Significa que um Juiz, no caso o próprio Bispo Diocesano, ou outro delegado por este, que é a única autoridade judiciária dentro de sua Diocese, poderá chegar a certeza moral da nulidade matrimonial. O bispo diocesano, via de regra, delega o seu poder judiciário para o vigário judicial. Este é aquele que faz as suas vezes, e em matéria judicial, o vigário do bispo é o seu vigário judicial. No exercício pastoral da própria “autoridade judicial”, o Bispo deverá assegurar que não haja atenuações ou abrandamentos. Isso é para que o processo esteja sob a responsabilidade do Bispo facilitando a celeridade do andamento processual, em que o processo seja mais ágil, porque justiça retardada é justiça negada na Igreja e em todos os âmbitos judiciários.

O Motu Proprio diz que o processo poderá ser mais curto quando: “a proposta deve ser feita por ambos os cônjuges ou por um deles, com o consentimento do outro; ocorram circunstâncias de pessoas e pessoas, apoiadas por testemunhos ou documentos, que não necessitam de uma investigação ou instrução processual mais aprofundada, e torne manifesta a nulidade”. Trata-se de um processo rápido, célere, diferente do processo ordinário que continuará da mesma forma. Estão inclusos neste processo mais rápido, de acordo com o cân. 1683-1687 “Por exemplo: a falta de fé que pode gerar a simulação do consentimento ou o erro que determina a vontade, a brevidade da convivência conjugal, o aborto procurado para impedir a procriação, a obstinada permanência em uma relação extraconjugal no tempo das núpcias ou em um tempo imediatamente sucessivo, a ocultação dolosa da esterilidade ou de uma grave doença contagiosa ou de filhos nascidos de uma relação precedente ou de uma detenção, a causa do matrimônio totalmente estranha a vida conjugal ou consistente na gravidez imprevista da mulher, a violência física realizada para extorquir o consentimento, a falta de uso de razão comprovada por documentos médicos, etc”.

O próprio Motu Proprio expressa que o Bispo Diocesano pode delegar a ação judicial para o seu Vigário Judicial ou para os juízes do seu Tribunal.

Observamos que o Santo Padre realçou aquela letra conciliar em que diz que o próprio Bispo será o juiz em sua Igreja. Neste sentido cabe ao Bispo Diocesano dar o exemplo de “sinal de conversão nas estruturas eclesiásticas e não delegar à Cúria a função judicial no campo matrimonial”. As causas mais breves devem ser marcadas pelo desejo do Papa Francisco: que sejam céleres e rápidas, particularmente aquelas causas em que são evidentes os motivos de nulidade.

Uma inovação é o Tribunal de apelo ser o Tribunal da Sede Metropolitana, expediente este que facilitará a distribuição da Justiça e a sua celeridade processual. Como realçou o Papa Francisco este Tribunal Metropolitano é a eloquente manifestação de comunhão sinodal que deve haver entre os bispos sufragâneos e o seu metropolita.

Fiquei profundamente tocado com a dimensão da gratuidade dos processos quando, ressalvada a manutenção dos oficiais e serviços do tribunal eclesiástico, “seja assegurada a gratuidade dos procedimentos, para que a Igreja, mostrando-se aos fiéis mãe generosa, em matéria tão estritamente ligada à salvação das almas manifeste o amor gratuito de Cristo pelo qual todos fomos salvos”. Não podemos ficar reféns de processos morosos e dispendiosos. Porém isso não significa que todos os processos sejam gratuitos. Há custos que devem ser suportados por aqueles que podem pagá-los. E, mais óbvio ainda, que os Bispos devem buscar um modo justo de dar as côngruas aos oficiais dos Tribunais.

De tudo o que lemos e constatamos fica claro que será mantido os Tribunais de segunda instância. Haverá recurso quando for pedido pelo Defensor do Vínculo ou por uma das partes que se sentir prejudicada. Fica claro que o direito de apelo à Sé Apostólica é inalterável. Fica mantido o apelo à Rota Romana, no respeito do antigo princípio jurídico de vínculo entre a Sé de Pedro e as Igrejas particulares. Quando participei do Sínodo extraordinário para a família de outubro de 2014, o que mais se ouviu foram acalorados pedidos de “processos mais rápidos e acessíveis”. Nesse sentido o Sumo Pontífice redigiu o motu proprio com disposições que não favorecerão a “nulidade dos matrimônios”, mas sim a “celeridade dos processos”, para que, “por motivo da retardada definição de juízo, o coração dos fiéis que esperam a clareza do próprio estado não seja longamente oprimida pelas trevas da dúvida”. O motu proprio, então, como destaca o próprio Papa, coloca-se na linha dos seus Antecessores, estabelecendo que “as causas de nulidade do matrimônio fossem tratadas por via judiciária, e não administrativa, não porque o imponha a natureza da coisa, mas justamente o exija a necessidade de tutelar em maior grau a verdade do sagrado vínculo – sublinha o Papa – é exatamente assegurado pelas garantias da ordem judiciária”.

A Igreja não faz, não faz e não fará divórcios, tampouco anula matrimônios. A Igreja analisa, como mãe e mestra, se os casamentos celebrados de seus filhos são nulos ou não. É esta abertura, salutar, que queremos pedir o empenho de nosso Vigário Judicial e de seus colaboradores para que a distribuição da Justiça em nossa Arquidiocese, a começar pelo meu empenho pessoal, seja redobrada e célere em favor da salvação das almas.
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Sede praticantes da Palavra
Orani João, Cardeal Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


A palavra de Deus deste XXII Domingo chama atenção para o modo como o cristão é chamado a viver sua prática religiosa: com sinceridade diante de Deus, humildade e amor para com os outros, e não de forma legalista, fria e autossuficiente. Com efeito, Jesus critica duramente os escribas e fariseus que vieram de Jerusalém para observá-lo e questioná-lo. Qual é o problema deles? Certamente eram homens piedosos e queriam seguir a Lei de Deus. O problema era o espírito com o qual faziam: extremamente legalista. Vejamos:

A lei de Deus (expressa na Torah) é santa: “Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir... Nada acrescentareis, nada tirareis à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus...” (1a. leitura). Ora, o zelo dos fariseus e dos escribas eram tais e com uma mentalidade de tanto apego à letra pela letra, que se tornaram extremamente legalistas. Eles diziam: “Façamos uma cerca em torno da Lei”, ou seja, criaram pouco a pouco um número enorme de preceitos para evitar qualquer desobediência, ao menos remota, à Lei. Preceitos humanos que foram obscurecendo a pureza da lei de Deus e sua característica de ser sinal de amor.

Por exemplo: A Lei dizia que o castigo não poderia ultrapassar as quarenta varadas. Os fariseus permitiam somente trinta e nove, para evitar qualquer perigo de ultrapassar a conta da lei. A Lei proibia o trabalho no sábado. Os escribas e fariseus insistiam que até carregar o instrumento de trabalho no sábado era já um pecado: o alfaiate não poderia carregar sua agulha no sábado. A Lei prescrevia abluções (banhos rituais para o culto) só para os sacerdotes. Os fariseus queriam impô-las a todo o povo. A intenção era boa.... Mas o resultado, não: tornava a religião algo pesado, legalista e apegado a tantos detalhes que fazia esquecer o essencial: o amor a Deus e ao irmão! Os preceitos humanos obscureciam a intenção divina!

Jesus censura também os escribas e fariseus pela incapacidade de distinguir entre o essencial e o secundário; em discernir o que vem de Deus e o que é meramente prática e tradição humanas, talvez boas e louváveis, mas não essenciais. Em matéria de religião, nem tudo tem igual valor, nem tudo tem a mesma importância. A medida de tudo é o amor: o amor é a plenitude da lei (Rm 13,10); só o amor dá sentido a todas as coisas!

Outro motivo de crítica é que uma religião assim, apegada a preceitos exteriores, torna-se desatenta do coração, sem olhar a intenção com que se faz e se vive. Cai-se na hipocrisia (a palavra hipócrita vem de hypokrités = ator teatral): uma religião meramente exterior, sem aquelas atitudes interiores, que são as que importam realmente: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam”! (Evangelho). É muito sério se a atitude exterior (lábios) não combinar com o interior (coração)! As práticas externas valem quando são sinal de um compromisso interior de amor e conversão em relação a Deus. É importante observar que Jesus não condena as práticas exteriores, mas a sua supervalorização e a sua atuação sem sinceridade: “Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas”. (Mt 23,23).

Há também o perigo da autossuficiência: a pessoa sente-se segura de si mesma por causa de suas práticas: “Estou em dia com Deus”! O homem nunca está em dia com Deus. Pensar assim é deixar de perceber que tudo é graça e que jamais mereceremos o amor que Deus nos tem gratuitamente. Sem contar que tal atitude nos leva, muitas vezes, a nos julgar melhores que os outros, desprezando os que julgamos mais fracos ou imperfeitos! Era exatamente o que ocorria com os fariseus: “Este povo que não conhece a lei são uns malditos”! (Jo 7,49); “Tu nasceste todo no pecado e nos ensinas”? (Jo 9,34); “Ó Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano”! (Lc 18,11). É interessante comparar estas atitudes com as que São Paulo recomenda aos cristãos em Rm 12,3-13.

Jesus convida a ir ao essencial: vigiar as intenções e atitudes do nosso coração, pois “o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior” (Evangelho). Com um coração puro, poderemos reconhecer que tudo de bom que temos é dom de Deus (“Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vem do alto; descem do Pai das luzes!” – 2a. leitura) e que, diante dele, somos sempre pobres e pecadores, necessitados de sua misericórdia. Isto nos abre de verdade para o amor aos outros e para a compaixão: somos todos pobres diante de Deus: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo”.
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A lei de Deus e as leis humanas
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PR)


Quanto mais cresce a sociedade, maior a necessidade de leis e normas que facilitem a convivência de pessoas diferentes, segundo as classes sociais, as culturas presentes naquele ambiente, os grupos que reivindicam seu espaço de participação e seus direitos. O equilíbrio entre as diversas forças tantas vezes é difícil de ser alcançado, pelo radicalismo das mesmas e a incapacidade para conviver com os opostos, a serem considerados como complementares e não inimigos. A presença dos cristãos em nosso tempo é continuamente desafiada, cabendo-lhes a coerência com o Evangelho de Jesus Cristo, a paixão pela verdade, a capacidade de ouvir e considerar as razões dos outros, a misericórdia e um ponto basilar da Doutrina Social da Igreja, que é a busca do Bem Comum. Sua vida há de ser exemplar, de forma que os que os veem de longe se aproximem e se sintam atraídos. Não somos donos do poder no mundo, mas servidores e colaboradores da Verdade.

“Vede, eu vos ensinei leis e decretos, conforme o Senhor meu Deus me ordenou para que os pratiqueis na terra em que ides entrar e da qual tomareis posse. Guardai-os e ponde-os em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência diante dos povos. Ao tomarem conhecimento de todas essas leis, dirão: ‘Sábia e inteligente é, na verdade, essa grande nação’. Pois qual é a grande nação que tem deuses tão próximos como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos? E qual a grande nação que tenha leis e decretos tão justos quanto toda esta Lei que hoje vos proponho?” (Dt 4, 5-8) Somos herdeiros do imenso tesouro dado por Deus a seu povo, conscientes de sermos guardiães de um relacionamento com o Senhor que nos possibilita uma vida digna, pensada por ele para toda a humanidade, no maravilhoso plano de amor expresso na Sagrada Escritura, na História Sagrada e na História da Igreja.

No entanto, na Antiga Aliança, aos Dez Mandamentos da Lei de Deus foram acrescentados muitos outros mandamentos, normas e preceitos, que tantas vezes dificultaram a vida religiosa fiel, especialmente dos mais simples. Tornou-se, no correr do tempo, muitas vezes insuportável carregar o peso da lei, enquanto esta deveria ser justamente o caminho para a realização e a felicidade. Jesus se confrontou com pessoas e grupos que tinham a tarefa de interpretar a Lei de Deus e as leis dela decorrentes, cuja pretensa competência suscitou discussões acirradas e perseguições àquele que é a Palavra de Deus feita Carne (Cf. Mc 7,1-23). Também no tempo da Igreja, que é nosso, corremos continuamente o risco de transformarmos as leis do Senhor em opressão, peso insuportável para as outras pessoas. O risco oposto também nos cerca, quando podemos relaxar no cumprimento da lei de Deus.

O justo equilíbrio é buscado na vida da Igreja com afã no correr dos séculos. A moral cristã é uma tarefa exigente, atenta à revelação de Deus nas Escrituras e às exigências da vida das pessoas. Seu ponto de partida não é a norma fria das leis a serem compridas, mas o encontro com Cristo, que exige muito mais do que a eventual vigilância ou muitas placas escritas ou não, expostas pelos cruzamentos da vida. Faz-se necessário escutar o Senhor, alimentar-se de sua Palavra, orar com frequência e confiança, buscar a necessária orientação de pessoas que têm a graça e a capacidade de contribuir no discernimento, alimentar-se dos Sacramentos, especialmente a Penitência e a Eucaristia, a fim de dar passos seguros, na crescente fidelidade ao Espírito Santo que conduz nossas almas.

Há poucos dias recebi o texto da Oração pela Beatificação do Servo de Deus Dom Helder Câmara, o grande Arcebispo de Olinda e Recife. Anteriormente, numa viagem a Roma, tive a graça de acompanhar um emissário daquela Arquidiocese quando foi entregue o processo na Congregação das Causas dos Santos. A oração diz assim: “Nós vos agradecemos pelo dom de sua vida e vos bendizemos por suas virtudes. Exercendo o seu ministério em favor da justiça e da paz e dedicando sua vida à causa dos pobres, imitou o Bom Pastor, que deu a vida por suas ovelhas”. Um homem de imensa liberdade interior, com vida sóbria em seus hábitos, exigente consigo e pobre, capaz de edificar a todos com seu olhar ao mesmo tempo perspicaz e carregado de simplicidade evangélica. Sua vida, assim como de outros homens e mulheres santos, atrai pela coerência e fidelidade a Deus! Não foram coniventes com a mentira e a maldade, apontaram seu olhar para o alto, e são exemplos a serem seguidos. Fazem parte de uma grande nação, cuja herança perpassa os séculos.

Os legisladores e governantes, quando coerentes com sua própria consciência e quando honestos em sua busca da verdade, podem constatar que a Lei de Deus consignada nos Dez Mandamentos é o que existe de melhor para a humanidade de qualquer tempo. Mais ainda é consistente o que a Nova Lei em Cristo oferece à humanidade. Em nosso tempo, os cristãos lutam com firmeza pelo respeito à vida, desde sua concepção até seu ocaso natural, batalham pela fidelidade a projeto de Deus, que criou o homem e a mulher, são conscientes de que os esforços contra a corrupção em todos os níveis é dever de todos, unem-se a todos os esforços pela justiça e pela paz, sonham e trabalham por um mundo de maior respeito à dignidade de todos.

Estamos para iniciar, nesta semana, o mês dedicado à Bíblia, com o qual desejamos voltar continuamente ao Evangelho, num esforço redobrado de fidelidade à Palavra. Valha para todos nós a recomendação de São Tiago (Tg 1, 21-27), que nos oferece o caminho de coerência necessário para fermentarmos a sociedade de uma forma nova: “Recebei com mansidão a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar-vos. Todavia, sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Com efeito, aquele que ouve a Palavra e não a põe em prática é semelhante a alguém que observa o seu rosto no espelho: apenas se observou, sai e logo esquece como era a sua aparência. Aquele, porém, que se debruça sobre a Lei perfeita, que é a da liberdade e nela persevera, não como um ouvinte distraído, mas praticando o que ela ordena, esse há de ser feliz naquilo que faz. Se alguém julga ser religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo: a sua religiosidade é vazia. Religião pura e sem mancha diante do Deus e Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas dificuldades e guardar-se livre da corrupção do mundo”.
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Artigo do Padre Gilmar sobre as Famílias
O Amor é Nossa Missão: A Família Plenamente Viva

Todos nós observamos as mudanças e diferenças na educação que recebemos de nossos pais, principalmente no que se refere à liberdade e as às regras que norteiam a educação na família em todo e qualquer momento do desenvolvimento humano. Contudo, já sabemos por experiência que diante das diferentes mudanças, para a felicidade humana permanece atualíssima a prática dos valores humanos e cristãos do amor responsável, da liberdade relacional, do respeito mútuo, do valor da fé, da obediência a Deus e ainda, o senso de dever e direito dos pais na educação dos filhos.

As relações familiares devem estar fundamentadas no amor que vem de Deus, para que a família possa realmente ser comunidade onde cada um é amado e respeitado. Fundamental para a própria sociedade, a família assim alicerçada contribui de modo especial para a harmonia e a construção da vida humana. A família deve ser comunidade de amor, de estima mútua, onde Deus é o referencial para todos, Deus e seu amor. Deve ser escola de amor, de autossuperação, de fidelidade aos compromissos assumidos, de desenvolvimento humano e espiritual. Tal tarefa é exigente, e só se consegue leva-la adiante com êxito se vivida com o amor que vem de Deus.

Hoje é infelizmente tão comum o drama de famílias que sofrem pela separação dos pais ou pela conduta dos genitores, que prejudica a comunidade do lar. Diante disso, cabe a nós, primeiramente, oferecer o auxílio de nossa oração, seja pelos que se preparam para construir família, seja pelas famílias que sofrem, pelos filhos e pelos cônjuges. Todos podem contar com a Família de Nazaré. Além disso, cabe à comunidade eclesial apoiar as famílias para que se desenvolvam sempre mais no amor, possam superar dificuldades, restaurar elementos fraturados, renovar o compromisso e o dom recíproco.

Celebrar a Semana Nacional da Família é a oportunidade de refletirmos seu importante papel na formação humana e religiosa de uma pessoa. É na Família que somos educados para o amor e dignidade. No aconchego seguro do lar, o anúncio de Jesus Cristo se traduz pelo gesto de amor, presença de Deus. A primeira experiência de comunhão e vida fraterna se dá na família, experiência que se prolonga na comunidade de fé. A pessoa que amadurece na fé por estes sinais de comunhão se realiza no relacionamento e no amor, no seguimento de Cristo, na comunidade fraterna. Aprende a amar a Deus e ao próximo.

Nos tempos modernos, às vezes nos parece difícil amar ao próximo como a nós mesmos, porém, como cristãos comprometidos, sabemos que o amor não se limita apenas a palavra ou sentimentos de piedade, ele é demonstrado em ações, mesmo sabendo que geralmente não há retribuição. Sei de uma História de vida em que um jornalista que visitava um hospital, ao ver a dedicação com que uma religiosa limpava as feridas de um paciente, disse com um lenço no nariz para suportar o mau cheiro: irmã, eu não faria esse trabalho nem que me dessem todo o dinheiro do mundo. A religiosa levantou os olhos e, pacientemente, respondeu: eu também não faria nem que me dessem todo dinheiro do mundo. Eu estou fazendo isso por amor a Deus e por amor a este irmão doente.

Quando alguém ama de verdade, é capaz de fazer as coisas mais difíceis do mundo como se fossem as mais fáceis. O amor transforma, modifica e humaniza. É na família que devemos aprender a verdadeira missão de amar. Por isso, os casais são os primeiros convidados a testemunharem este amor, desde as mãos dadas para namorar e passear até as mãos que levantam queixos caídos, afagam cabelos, tocam os olhos e testas, seguram mãozinhas inocentes, curam feridas, fazem comida, lavam corpos e roupas, constroem brinquedos, afagam bochechas, plantam, colhem e tornam o matrimônio uma fonte de vida.

Busque em seu coração a pedra preciosa da bondade, que a todos enriquece sem jamais perder seu valor. Só amando aprendemos a amar. A gratuidade é a base da dedicação; e o amor, seu pagamento.

Padre Gilmar Antônio Fernandes Margotto
Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida
Votuporanga SP
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Tempo de valorizar a família
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


O segundo domingo de agosto, mês vocacional, é dedicado aos pais vivos ou falecidos, e, por conseguinte, à família, cuja semana é celebrada em seguida, de modo que esta reflexão quer ajudar cada um dos nossos leitores sobre este tema tão nobre e urgente, especialmente nos dias de hoje.

Para nós que professamos a fé católica, falar em pai é lembrar automaticamente de Deus, o Pai por excelência, e de São José, o homem escolhido pelo mesmo Senhor para ser, na terra, o pai adotivo de seu Filho, Jesus Cristo, quando este, “na plenitude dos tempos” (Gl 4,4), sem deixar de ser Deus, assumiu, no seio da Virgem Maria, sem o concurso de homem algum, mas por obra do Espírito Santo, a nossa humanidade a fim de resgatá-la do pecado e elevá-la, novamente, à filiação divina.

Importa, porém, notar que o plano divino não privilegia apenas o pai ou a mãe ou o filho, mas, sim, toda a família unida a partir do casamento, vínculo natural elevado a sacramento e que é o lugar por excelência para a formação das futuras gerações, de modo que não podemos nos cansar de repetir, como o Papa São João Paulo II, duas grandes afirmações: “a família é a célula mater da sociedade”, ou ainda, “o futuro da humanidade passa pela família”.

Ao escrever às famílias no dia 2 de fevereiro do ano passado, o Papa Francisco, como lhe é habitual, chama a atenção, a partir do relato evangélico da Apresentação de Jesus no Templo, sobre o encontro entre as gerações: casal, jovens, crianças e idosos. Vemos aí a importância de uma vida familiar sadia e equilibrada. Afinal, existe sempre o perigo de construirmos uma sociedade com as exclusões, especialmente das crianças, incluindo, é óbvio, aquelas ainda por nascer, por meio do aborto; dos jovens, negando-lhes a oportunidade do emprego, ou dos idosos, desejando abreviar-lhes a vida por meio da eutanásia etc.

Contudo, entre nós cristãos deve ser diferente. Somos chamados a ser sinais de que uma sociedade nova sempre seja possível. A cena do Evangelho precisa e deve, sempre que possível, se repetir a fim de se mostrar ao mundo, não por ostentação, mas por testemunho, que vale a pena ser família no modelo sonhado por Deus. São palavras do Papa Francisco: “O evangelista Lucas conta que Nossa Senhora e São José, de acordo com a Lei de Moisés, levaram o Menino ao templo para oferecê-Lo ao Senhor e, nessa ocasião, duas pessoas idosas – Simeão e Ana –, movidas pelo Espírito Santo, foram ter com eles e reconheceram em Jesus o Messias (cf. Lc 2,22-38). Simeão tomou-O nos braços e agradeceu a Deus, porque tinha finalmente ‘visto’ a salvação; Ana, apesar da sua idade avançada, encheu-se de novo vigor e pôs-se a falar a todos do Menino. É uma imagem bela: um casal de pais jovens e duas pessoas idosas reunidos devido a Jesus. Verdadeiramente, Jesus faz com que as gerações se encontrem e se unam! Ele é a fonte inesgotável daquele amor que vence todo o isolamento, toda a solidão, toda a tristeza. No vosso caminho familiar, partilhais tantos momentos belos: as refeições, o descanso, o trabalho em casa, a diversão, a oração, as viagens e as peregrinações, as ações de solidariedade... Todavia, se falta o amor, falta a alegria; e Jesus é quem nos dá o amor autêntico: oferece-nos a sua Palavra, que ilumina a nossa estrada; dá-nos o Pão da vida, que sustenta a labuta diária do nosso caminho”.

Não obstante esta belíssima passagem do Evangelho, vivemos tempos difíceis de uma sociedade que, salvo raras exceções, já excluiu muitos dos valores que levam à edificação da família como núcleo formado por pai, mãe e filho, e nele se acolhe com amor a vida desde a sua concepção até o fim natural, ou seja, por meio de uma proteção integral do homem e da mulher, dentro daquilo que o próprio Papa Francisco chama de “ecologia humana”, pois respeita a pessoa dentro da natureza toda em que ela foi criada e é chamada a servir a Deus e ao próximo.

Na Catequese dada por ocasião da Audiência Geral de 20 de maio último, o mesmo Papa reflete sobre a forma como os pais educam ou tentam educar os seus filhos nos dias de hoje, levando em conta, é claro, as dificuldades de nossos tempos, nos quais a correria do dia a dia se torna febricitante e a oportunidade de falar com os filhos é cada vez mais escassa.

Diz o Santo Padre, o Papa Francisco: “Hoje ponderaremos acerca de uma característica essencial da família, ou seja, a sua vocação natural para educar os filhos a fim de que cresçam na responsabilidade por si mesmos e pelo próximo. O que lemos do apóstolo Paulo é muito bonito: ‘Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não irriteis os vossos filhos, para que eles não desanimem’. (Cl 3,20-21). Trata-se de uma regra sábia: o filho que é educado a ouvir e a obedecer aos pais, os quais não devem mandar de uma maneira inoportuna para não desencorajar os filhos. Com efeito, os filhos devem crescer passo a passo, sem desanimar. Se vós, pais, dizeis aos vossos filhos: ‘Subamos por esta escada’ e pegais na sua mão, ajudando-os a subir passo a passo, as coisas correrão bem. Mas se vós dizeis: ‘Sobe!’ – ‘Mas não consigo’ – ‘Vai!’, isto chama-se exasperar os filhos, pedindo-lhes aquilo que eles não são capazes de fazer. Por isso, a relação entre pais e filhos deve ser sábia, profundamente equilibrada. Filhos, obedecei aos vossos pais, porque isto agrada a Deus. E vós, pais, não exaspereis os vossos filhos, pedindo-lhes coisas que eles não conseguem fazer. É preciso agir assim, para que os filhos cresçam na responsabilidade por si mesmos e pelo próximo”.

Eis aqui a harmonia de um lar bem constituído ou “fundado sobre a rocha” (cf. Mt 7,24-25). Não há nele exagero de autoritarismo nem de desobediência, mas um sadio equilíbrio cristão capaz de levar cada membro da família ao correto cumprimento de sua missão de acordo com a graça divina que a ninguém falta.

Voltando, porém, ao texto de São Paulo que fornece os elementos para a catequese do Papa, notamos que compete aos pais a educação primeira dos filhos, seja no campo religioso, seja no campo social. A catequese e a escola só irão complementá-las naquilo que ainda lhes falta, salvo o fato de a escola supor a educação de base, ou de berço, como se diz, para ministrar conhecimentos dentro de áreas específicas e, sem se esquecer o lado humano, fazer daquele menino ou menina alguém preparado para o futuro no campo acadêmico.

Também no aspecto religioso, é dever dos pais ensinar os filhos a rezarem, a lerem bons livros de acordo com a faixa etária de cada um, a participarem da Santa Missa Dominical, fazerem a Primeira Eucaristia, a Crisma e, sobretudo, seguirem a vida de fé na comunidade, se integrando, de acordo com as aptidões de cada um, a pastorais ou grupos que lhes façam bem (canto, liturgia, catequese, jovens, social etc.), sem deixar de velar, ainda, pelas amizades dos filhos, seus momentos de lazer, especialmente no que toca a contatos via internet ou programas de TV e também leituras, mesmo se esta última pareça muito em desuso no nosso tempo.

Esta formação paterna e materna não tem limite de idade e vale, por meio de bons conselhos, para a vida toda dos filhos. Sempre a experiência de quem já passou por algo pode ajudar a formar melhor os mais novos. Daí ser muito útil que pai e mãe não deleguem a estranhos uma tarefa que é sua, seja por força da natureza, seja por força do próprio sacramento do matrimônio.

No entanto, alerta o Santo Padre que muitas opiniões estranhas entraram na família ultimamente, atrapalhando-a, não raras vezes: “Intelectuais ‘críticos’ de todos os tipos silenciaram os pais de mil maneiras para defender as jovens gerações contra os danos — verdadeiros ou presumíveis — da educação familiar. A família foi acusada, entre outros, de autoritarismo, favoritismo, conformismo e repressão afetiva que gera conflitos”.

Com efeito, abriu-se uma ruptura entre família e sociedade, entre família e escola; hoje o pacto educativo interrompeu-se; e assim, a aliança educativa da sociedade com a família entrou em crise, porque foi minada a confiança recíproca. Os sintomas são numerosos. Por exemplo, na escola comprometeram-se as relações entre os pais e os professores. Às vezes existem tensões e desconfiança mútua; e naturalmente as consequências recaem sobre os filhos. Por outro lado, multiplicaram-se os chamados ‘peritos’, que passaram a ocupar o papel dos pais até nos aspectos mais íntimos da educação. Sobre a vida afetiva, a personalidade e o desenvolvimento, sobre os direitos e os deveres, os ‘peritos’ sabem tudo: finalidades, motivações, técnicas. E os pais só devem ouvir, aprender a adaptar-se. Privados da sua função, tornam-se muitas vezes excessivamente apreensivos e possessivos em relação aos seus filhos, a ponto de nunca os corrigir: ‘Tu não podes corrigir o teu filho’! Tendem a confiá-los cada vez mais aos ‘peritos’, até nos aspectos mais delicados e pessoais da sua vida, pondo-se de parte sozinhos; e assim, hoje, os pais correm o risco de se auto excluir da vida dos próprios filhos.

É certo que ninguém defende agressões verbais ou físicas contra crianças, adolescentes ou jovens nos estabelecimentos de ensino, mas a correção tem de existir, a fim de que todos saiamos melhores e mais bem preparados para a vida. Sem correção repetimos os mesmos erros e nos estagnamos sem progresso algum. E mais: aprendemos a ser ou a formar uma geração vazia de valores, de apreço pelo que é certo ou errado, pois há normas naturais válidas a todos os seres humanos de todos os tempos e lugares. Cabe aos pais e educadores nunca deixarem de lado o seu papel que é, sem dúvida, insubstituível.

Por fim, é preciso que nessa ajuda dos pais aos filhos, eles não interfiram em coisas que lhes fere a dignidade humana e cristã, ao querer, por exemplo, escolher o estado de vida que seus filhos levarão, a profissão, a(o) esposa(o) etc. (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 2230). Os filhos, porém, têm o dever moral de cuidar dos pais idosos ou doentes e nunca abandoná-los (Idem, n. 2218).

Neste segundo domingo de agosto rezemos pelos nossos pais! Recomendo, vivamente, a todos os meus arquidiocesanos que marquem missas em sufrágio das almas dos pais falecidos. E, da mesma maneira, que rezemos pelos pais que estão na nossa companhia. Rezar nos traz a proteção divina. Como é bom tomar a bênção do pai! Mas, como é melhor ainda, depois de ser abençoado pelo nosso pai, rezar para que ele continue sempre abençoando seus filhos.

Com o Dia dos Pais iniciamos na Igreja do Brasil a Semana Nacional da Família, que tem como tema: "o amor é a nossa missão: a família plenamente viva". É muito importante que cada paróquia aproveite os movimentos e grupos familiares que, juntos com a pastoral familiar atuem de maneira incisiva na sociedade, testemunhando e aprofundando a importância da família segundo o Plano de Deus.

A todas as famílias, e, sobretudo aos pais neste domingo, envio uma bênção especial, pois eles são, por primeiro, os transmissores da fé católica!
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O amor é nossa missão: a família plenamente viva
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos


Iniciamos neste domingo com o tema acima proposto a semana nacional da família, que é o mesmo que iluminará o VIII Encontro Mundial das famílias com o Papa Francisco, em Philadelphia, no mês de setembro. É importante afirmar que a família tem como missão irradiar e educar para o amor, pois ela transparece a caridade agápica do Pai e a comunhão da Santíssima Trindade da qual é um ícone convincente e sempre revelador.

Mas é oportuno e urgente testemunhar que está plenamente viva, diante dos agoureiros Pós-modernos que vaticinam que ela já era, profecia mandada pelos engenheiros sociais que sabem que para dominar um povo e explorar suas riquezas é necessário eliminar a sua força como pensava o Faraó do Egito. Tratam de desprezá-la denominando-a de família tradicional, ou ainda propagando aos quatro ventos que há vários modelos de família e uma diversidade de sexos.

Tem se chamado este processo de desconstrução da família, de liquefação de sua estrutura normativa, rompendo com as funções e relacionamentos básicos e permanentes da paternidade e maternidade, filiação e fraternidade, nupcialidade e conjugalidade. Mas ela mostra uma resiliência assombrosa, como aquele boneco João Teimoso, ela se inclina para um lado ou para outro mas volta a ficar sempre de pé, provando que a primeira instituição desejada e querida por Deus tem uma arquitetura e um DNA divinos, sendo impossível destruí-la totalmente. É pena que autoridades e governantes se esqueçam disto e que não só não apóiem a família, mas a condenem a marginalização ou a dependência.

Enquanto não a tornarmos sujeito e protagonista das políticas públicas defendendo seus direitos fundamentais, teremos o dissabor de vermos a violência aumentar, a irresponsabilidade e o descaso com as crianças e os idosos chegar a situações degradantes, a cidadania ficar refém dos corruptos e vende pátrias, e o patrimônio público ser inescrupulosamente escorraçado.

Um projeto sério e claro de Nação passa por defender e anunciar a beleza de ser e de ter uma família, o caminho de reconstrução do Brasil, do resgate da ética e da salvação da terra, tem o mesmo logradouro e meta: a civilização do amor centrada na família comunidade de pessoas unidas pelo sangue e pela fé, pelos vínculos duradouros da conjugalidade e do matrimônio, da aliança amorosa e permanente. Obrigado pela vocação e missão das famílias brasileiras. Deus seja louvado!
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Dia dos Pais: início da Semana Nacional da Família
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo de Guarabira (PB)


No segundo domingo do mês de agosto, mês vocacional no Brasil, celebramos o Dia dos Pais. Parabéns a todos os pais. Rezemos agradecidos a Deus Pai pelos nossos papais que continuam a sua missão, como também os pais já falecidos. Ofereçamos como filhos, aos pais: amor, respeito, carinho, orações, gratidão e paz. Na família, o pai juntamente com a mãe ocupa um lugar especial e importante.

Celebremos o dia dos pais com festa. A festa em torno do grande dom que Deus dá ao homem e à mulher, que é nascer de um pai e de uma mãe, formando uma família conforme a vontade de Deus. Que os pais não desanimem de promover acolhida: “acolher em primeiro lugar a Jesus Cristo, nosso Salvador, que tendo nascido de uma família humana foi obediente ao seu pai adotivo, São José, e à sua Mãe, Maria Santíssima. Os pais devem ensinar aos seus filhos a solidariedade, a partilha, a cidadania, a co-responsabilidade pela vida da Igreja, missão de todos os batizados, e o profetismo de sermos discípulos missionários na edificação de uma sociedade mais justa, com emprego, com renda, com inclusão social verdadeira”. É importante valorizar a família, a começar da própria casa, assumindo com responsabilidade a parte que cabe a cada um, para que a família esteja unida.

A alegria do Dia dos Pais nos leva a celebrar a Semana Nacional da Família, entre os dias 09 e 15 de agosto de 2015, em todas as comunidades do Brasil, com o tema: “O amor é a nossa missão: a família plenamente viva”. Este é o mesmo tema do Encontro Mundial das Famílias que se realizará em setembro, na Fliadélfia (EUA). A reflexão é desenvolvida em sete roteiros de encontros, compilados no livreto “Hora da Família”, com a finalidade de oferecer material de apoio para os grupos de famílias. Cremos no amor como nossa missão. E que esta missão seja o meio de sermos completamente vivos e alcançarmos a realidade para a qual fomos criados. Acreditamos que este amor deve ser ensinado, compartilhado e comunicado na família e por ela; que é a igreja doméstica. A família compartilha a missão de toda a Igreja. Ela constitui o fundamento para todas as outras formas de comunidade. A casa na qual os pais auxiliam os filhos a descobrirem que Deus os ama e tem um plano para a vida de cada um.

Uma família plenamente viva dá frutos. Mesmo que nem todos sejam chamados ao matrimônio, ainda assim pode ser uma família viva. Uma vida destinada a ser fecunda. Toda vida tem o poder e a necessidade de nutrir nova vida – se não for por meio da geração e criação de filhos, então por outros meios vitais de doação, de realização de obras e de serviço. Assim, a Igreja é uma família com diferentes vocações, cada uma distinta, mas cada uma necessita das outras e se apoiam mutuamente.

A grande importância da família se dá porque a família é uma escola de amor, misericórdia, justiça, compaixão, perdão, respeito mútuo, paciência e humildade em meio a um mundo encoberto pelo egoísmo.

Viver a missão da igreja doméstica significa que as famílias terão que ter coragem e fortaleza. As famílias são chamadas a transmitir, tanto por palavras como por testemunho, as verdades fundamentais sobre a vida e o amor humano. Que Deus Pai abençoe sempre nossas famílias.
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Agosto, mês das vocações
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo de Guarabira (PB)


O mês de agosto foi instituído pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na sua 19ª Assembleia Geral de 1981 como o mês vocacional. Oportunidade para tratar e rezar por todas as categorias de vocações da vida cristã; criar consciência vocacional e despertar todos os cristãos para suas responsabilidades na Igreja.

O termo vocação vem do verbo em latim vocare que significa chamar. Somos todos nós vocacionados, chamados por Deus à santidade. E a resposta a este chamado que Deus faz a cada um é dada através de vocações específicas. Dizemos que o vocacionado é uma pessoa que discerniu em si a vontade de Deus. É uma inclinação interna, que supõe um seguimento, uma resposta concreta de ação e vida.

No primeiro domingo, dedicamos ao ministério ordenado (bispos, padres e diáconos). Essa comemoração se deve ao fato de celebrarmos o dia de Santo Cura d’Ars, São João Maria Vianney, no dia 04, patrono dos padres, e, o dia de São Lourenço, diácono e mártir, no dia 10, patrono dos diáconos.

No segundo domingo, celebramos o Dia dos Pais, a vocação matrimonial. Junto com a esposa, o pai tem a missão de levar os filhos a Deus por meio da oração, ensinamento e vivência do Evangelho. Vivemos a Semana Nacional da Família e em alguns municípios a Semana Municipal da Família por iniciativa de Câmaras Municipais de Vereadores. A família é verdadeiramente um "Santuário de Vida".

No terceiro domingo, recordamos a vocação à vida consagrada: religiosos, religiosas, consagradas e consagrados nos vários institutos e comunidades de vida apostólica e hoje também nas novas comunidades, motivados pela festa da Assunção de Maria ao céu, modelo de todos aqueles que dizem sim ao chamado de Deus para uma entrega total.

O quarto domingo de agosto é o Dia do Catequista, daí a comemoração do dia da vocação do cristão leigo na Igreja, tanto na sua presença interna na Igreja como também em seu testemunho nos vários ambientes de trabalho e vida. Todos nós recordamos com gratidão os nossos catequistas. Rezemos para que neste tempo de implementação da catequese de iniciação cristã de inspiração catecumenal tenhamos animados(as) catequistas discípulos(as) missionários(as) do Senhor. O dia do cristão leigo voltará a ser comemorado no último domingo do ano litúrgico, festa de Cristo Rei.

Lembramos o ano em que o mês de agosto tiver cinco domingos, no quarto domingo são recordados todos os ministérios leigos e, no quinto, o dia do catequista.

Na Igreja, louvamos a Deus por todas as vocações! Percebemos a mão e a voz de Deus a nos chamar e conduzir. Que o Senhor nos ajude e ilumine e que cada um de nós descubra cada vez mais a beleza da vida cristã e do chamado que Deus nos faz para as diversas vocações e, em especial, para sermos santos! E que todos se unam às suas comunidades para orar por vocações ao longo do mês de agosto, cumprindo o mandato de Jesus: “Pedi ao Senhor da Messe que mande operários para a sua Vinha” (Mt 9,38). Trabalhemos na grande vinha do Senhor!
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Espiritualidade presbiteral
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


Entramos no Mês Vocacional. Nesta primeira semana rezaremos pelas vocações ao ministério ordenado. No início do mês celebramos o Dia do Padre na festa do grande São João Maria Vianney, o cura d’Ars. Cada cristão vive a sua espiritualidade segundo a própria vocação, ligada à caridade e à imitação de Cristo. É muito importante a ligação a Cristo para compreender a origem e natureza do sacerdócio. É a partir do envio e missão dos Apóstolos que se compreende a participação dos presbíteros como participantes do Único Sacerdócio de Cristo Cabeça, Sacerdote, Profeta e Rei (LG 17. 21. 28; PO 2-3. 5-6).

Importantíssima é também a ligação que se faz do sacerdócio ministerial com toda a Igreja, correspondente à igualdade dos batizados (LG ,23). Não pela hierarquia, mas como Povo de Deus que, no sacerdócio comum dos fiéis, tem a seu serviço o sacerdócio ministerial. Não se trata de uma mera função, mas de ser sacramento de Cristo, Cabeça da Igreja. Daí o Concílio Ecumênico Vaticano II referir que entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial a diferença não é só em grau, mas em essência (LG, 10) (COZZENS, 2004).

A espiritualidade sacerdotal está relacionada com os ministérios (serviços) e tem como finalidade a vivência da caridade pastoral. A missão e a identidade do presbítero são temas que merecem atenção. “A santidade do sacerdote exigiu clarificar a sua identidade”. Por isso, a Presbiterorum Ordinis intitula o seu primeiro capítulo: “O presbiterado na missão da Igreja”. A este respeito diz Santiago del Cura Elena: “Nem a natureza da Igreja pode entender-se à margem da sua missão, nem a missão que lhe é própria pode deixar-se ao lado quando se intenta compreender a identidade do sacerdócio ministerial. […] Quer dizer, a missão e a identidade do sacerdócio ministerial refletem-se na sua condição do serviço eclesial ao sacerdócio comum de todos os batizados”. (ELENA, 2010, p.40-41).

Como todos os cristãos, os presbíteros estão chamados à salvação (cf. Mt 5,48). Pelo sacramento da Ordem, os presbíteros são configurados com Cristo sacerdote, como ministros da cabeça, para a construção e edificação do seu corpo, que é a Igreja, enquanto cooperadores da Ordem episcopal. Este é o fundamento da vida peculiar dos presbíteros: atuar tal como são, “fazendo todo o sacerdote, a seu modo, às vezes da própria pessoa de Cristo” (PO, 12) de quem é instrumento. Esta forma de agir foi obtida na ordenação com uma “graça especial” (PO, 12) que, mediante o seu ministério, leva a uma vida orientada para a perfeição. Isto “muito concorre para o desempenho frutuoso do seu ministério”. (PO,12). Assim, a noção conciliar sobre a espiritualidade do sacerdote origina uma renovação evangélica pronta para confrontar novas situações de evangelização. Daí, a dimensão missionária do chamamento à santidade sacerdotal da Presbyterorum Ordinis.

Se o sacerdote é, pois, “instrumento vivo de Cristo Sacerdote” (PO, 12), é, por ele mesmo, “o máximo testemunho do amor” (PO 11). É na linha bíblica de proximidade e epifania de Deus, cujo ponto culminante é Cristo (Jo 3,16), de quem o sacerdote ministro é “sinal” e “aroma” (2Cor 2,15), “glória” ou expressão (Jo 17, 10). (NINOT, 1994).

O sentido de comunhão eclesial é parte substancial da espiritualidade do sacerdote. “O ministério sacerdotal, porém, sendo ministério da própria Igreja, só em comunhão hierárquica com todo o corpo se pode desempenhar” (PO,15). Na prática, isso se traduz numa união afetiva e efetiva com o próprio bispo (PO,7), com os demais sacerdotes do Presbitério (PO, 8) e com a comunidade eclesial, à qual serve (PO, 9) (NINOT, 1994).

É neste sentido que cumprimento todo o nosso clero por esse Dia do Padre, e uno-me às orações por todos os sacerdotes em sua bela missão de santificar o povo de Deus, anunciando o Evangelho e celebrando os mistérios da fé. Só Cristo basta para nossas vidas! Vamos intensificar o anúncio feliz e alegre da boa notícia, ainda mais neste tempo de missão, como testemunhas da esperança, sendo uma igreja samaritana em saída para as periferias existenciais.
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Lugar afastado
Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

O barulho na sociedade atual às vezes é ensurdecedor. Os decibéis elevados causam surdez. Mais e mais os aparelhos para melhorar a audição estão em voga. Mas há surdez também irreversível.

Jesus, percebendo o corre-corre dos discípulos, conduziu-os para um lugar afastado e ermo para poderem conversar, meditar, orar e descansar, restabelecendo a paz interior, necessária para a execução da missão de servir o povo.

Todos precisamos de paz interior e social, para melhor refletir e caminhar na direção de um projeto de vida de sentido. Muitos vivem desnorteados e dispersos, não sabendo o que fazer para encontrar sentido à vida e ao que fazem dela. Precisam seguir lideranças que as ajudem a encontrar o caminho da vida realizadora. Na Bíblia encontramos profetas que analisam lideranças. Estas, ao invés de ajudar o povo, muitas vezes fazem desviá-lo de sua caminhada, de sua segurança e promoção de sua dignidade: “Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele; eis que irei verificar isso entre vós e castigar a malícia de vossas ações, diz o Senhor... E eu reunirei o resto de minhas ovelhas... Suscitarei para elas novos pastores” (Jeremias 23, 2.3.4).

No burburinho da vida, com todos os seus desafios, injustiças e desvios de conduta, com prejuízo do bem comum, precisamos discernir o que fazer para uma convivência de mais promoção do bem comum e obtenção da paz pessoal e social. Sem conversão para a convivência no amor não temos condição de resolver os conflitos e a necessária promoção da vida massacrada de tantos deixados de lado no convívio social. A responsabilidade de escolher lideranças é de todos. Para isso, é preciso formar-se cada vez mais a consciência da verdadeira cidadania. Ela exige de quem elege lideranças e da própria liderança constituída, o sentido da vida de serviço e não desserviço à causa comum.

Afastar-se da agitação para ponderar sobre o que queremos com a vida e o que fazemos dela é indispensável. Os discípulos de Jesus “foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado” (Marcos 6,32). De fato, era preciso dar tempo para si mesmos, revendo a caminhada e o exercício da missão de ensinar as multidões. Quanto maior é a abrangência da liderança, maior é a necessidade de reflexão. Esta faz a pessoa colocar a mão na consciência para ver se está sendo fiel no serviço ao bem do povo. Caso contrário, pode-se deixar levar por ações não ponderadas e errar no exercício da própria missão. Caso perceba os erros, na reflexão e pedido de ajuda a quem possa dar, a revisão e mudança de suas ações poderão ser mais adequadas à própria função. Por isso, é preciso ter os ouvidos aptos para entender o valor apresentado por quem tem capacidade de orientar. Ouvir a Palavra de Deus é indispensável.

Quanto mais reta intenção e união de forças para o exercício da liderança, mais produtiva é sua ação de beneficiar a comunidade. Faltando uma ou essas duas virtudes, o exercício da incumbência para a qual foi escolhida a liderança fica prejudicada. Por isso, sair da agitação para ter momentos de ponderação, reflexão e oração torna-se indispensável para o bom exercício da liderança.
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Ele é a nossa paz
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará

Jesus caminhava pelas estradas da Galileia e formava pouco a pouco os seus discípulos, chamados a serem apóstolos e missionários, enviados a levar a Boa Nova do Evangelho até os confins da terra. Quando retornam de sua primeira experiência missionária, partilham com o Senhor o que haviam feito e ensinado (Mc 6, 30-34). Jesus, sensível ao cansaço que certamente experimentavam, procura conduzi-los a um lugar sossegado. No entanto, a multidão sedenta da presença do Senhor chega na frente. Os discípulos, de lá para cá, aprendem do Senhor a ampliarem os horizontes, atentos às necessidades das pessoas. De fato, "ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6, 34). A lista dos problemas que os cristãos devem enfrentar ao longo da história é muito grande, mas não podem recusar-se a enfrentá-los.

Ovelhas sem pastor, povo sem referências e orientação, abandono à própria sorte. São situações humanas desafiadoras e provocantes, que pedem resposta da parte dos cristãos e de toda a sociedade. Um dos gritos mais significativos de nosso tempo, como expressão do desgaste a que chegaram as relações entre pessoas e grupos é alto nível de violência, o acirramento dos contrastes ideológicos e sociais, incluindo, infelizmente, também a religião, quando esta tem como vocação própria aproximar as pessoas de Deus e umas das outras. De acordo com os dados do Mapa da Violência, recentemente publicado, mais de cinquenta e seis mil pessoas foram assassinadas no Brasil em dois mil e doze, das quais vinte e sete mil eram jovens. E os números crescem ainda!

Com a proposta do Ano da Paz, a Igreja no Brasil quer ajudar na superação da violência e despertar para a convivência mais respeitosa e fraterna entre as pessoas, explica o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner. "Violência que se manifesta na forma da morte de pessoas, na falta de ética na gestão da coisa pública, na impunidade. A violência, a falta de paz, provém do desprezo aos valores da família, da escola na formação do cidadão, do desprezo da vida simples". A Igreja propõe uma reflexão sobre os motivos da violência e sobre a necessidade de uma convivência fecunda e frutuosa.

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, aponta para algumas raízes da violência e propõe que digamos um "não à desigualdade social": "Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarraigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão. Quando a sociedade abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e econômico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada ação tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro melhor" (Evangelii Gaudium 59). "Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos veem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes" (Evangelii Gaudium 60).

Que resposta pode ser oferecida? A paz começa dentro do coração, no acolhimento daquele que é a paz, Jesus Cristo (Cf. Ef 2, 13-18). E esta paz é fruto da ação do Espírito Santo (Cf. Gl 5,22), a ser acolhido como dom derramado pelo Senhor, que o envia como presente que acompanha a Igreja e todos os cristãos. Vem a ser pedido em oração, pois vem do alto, antes de ser uma conquista pessoal. Sem a abertura para Deus o mundo e as pessoas andarão inquietos e não encontrarão a estrada da paz. E não nos esqueçamos de que os cristãos têm à sua disposição o Sacramento de Cura chamado Reconciliação ou Penitência. O recurso à graça sacramental desarma corações e estimula a busca dos caminhos de paz entre as pessoas.

É bom lembrar também que os discípulos de Jesus, em todas as gerações, trazem consigo as eventuais marcas decorrentes de suas situações familiares e da cultura de seu tempo. Não são diferentes dos outros quanto à natureza, mas, voltando-se para ele, empreendem o esforço cotidiano, sustentado pela graça de Deus, mudando suas atitudes, desarmando-se diante das outras pessoas, começando em casa e nas relações mais comezinhas, para ampliar até o relacionamento. A paz não se constrói pelas decisões dos grandes do mundo, mas no tu a tu do trato entre as pessoas. "Devemos sempre lembrar-nos de que somos peregrinos, e peregrinamos juntos. Para isso, devemos abrir o coração ao companheiro de estrada, sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus. O abrir-se ao outro tem algo de artesanal, a paz é artesanal. Jesus disse-nos: "Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5, 9). Neste esforço, mesmo entre nós, cumpre-se a antiga profecia: "Transformarão as suas espadas em relhas de arado" (Is 2, 4; Evangelii Gaudium, 244). "Misericórdia e fidelidade se encontram, justiça e paz se abraçam" (Sl 85, 11).

Um olhar mais desarmado, sem considerar inimigas todas as pessoas desconhecidas, a capacidade de construir novas amizades, o conhecimento de ambientes diferentes, a abertura sorridente para as novas gerações, que clamam por adultos mais serenos! Parecem sonhos irrealizáveis, mas um primeiro passo dado mostrará as novas possibilidades abertas pela Providência de Deus!

Vale ainda pensar nas capacidades de cada pessoa, com as quais um ambiente diferente pode ser construído na sociedade. Se passarmos por quem atua na educação, ou quem trabalha em órgãos de segurança, chegando às repartições públicas, nas quais todos sejam bem tratados, a superação de obstáculos burocráticos para o atendimento dos cidadãos, para chegar aos detentores do poder que, sendo cristãos, não podem se omitir na busca de soluções para os graves problemas sociais e na busca sincera do bem comum.

Se dermos glória a Deus, em Jesus Cristo, nossa paz, a paz germinará na terra!
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Protegidos por São Cristóvão
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

Nas próximas semanas, muitos motoristas irão se reunir em procissões com o intuito de pedir a São Cristóvão proteção para suas viagens. O que desejamos, é que tudo isto seja feito na consciência da responsabilidade que cabe aos motoristas no exercício da sua profissão, seja isso transportando pessoas ou mercadorias.

Cristóvão, conforme a tradição, era um homem muito forte e, ao se converter ao cristianismo resolveu colocar-se a serviço dos semelhantes. Aconselhado por um ermitão, dedicou-se a transportar pessoas de um lado ao outro do rio. Em uma noite de tempestade, um menino lhe pediu o favor de levá-lo para a outra margem. Sentindo o peso nos ombros, teve a revelação de que estava transportando nas costas o Redentor do Mundo. Por isso, ao invocar São Cristóvão como protetor, os motoristas manifestam o desejo de reconhecerem o rosto de Cristo em cada passageiro e em cada pessoa que cruza pelo seu caminho.

Todos nós conhecemos os perigos que acompanham os motoristas. As estradas nem sempre estão em suas melhores condições de trafegabilidade e os sinais de trânsito muitas vezes são desrespeitados. Além disso, existe também uma preocupação com os roubos e assaltos, que, infelizmente, se alastram na medida em que cresce o desemprego e aumenta a sensação de impunidade. Mas existem também coisas que dizem relação à cultura dos motoristas.

Assim, as pessoas se acostumaram a respeitar as leis do trânsito só “para não pegar multa”. Assim, para muitos, “se existe a certeza de que não tem polícia e nem pardal no caminho pode-se exceder o limite da velocidade que não dá em nada”. Ou também, se existe a garantia de que “não vai ter polícia no caminho pode-se tomar cerveja sem nenhum problema”. Mostramos, com isso, que a nossa preocupação é exclusivamente econômica e não nos importam as vidas que podem ser ceifadas e as pessoas que podem ser condenadas a uma eterna paralisia. Até torcemos para que nada nos aconteça, mas continuamos a usar nossos carros de forma irresponsável. Não nos damos conta de que, ao infringirmos as leis que foram feitas para reduzir os números de acidentes, aumentam as chances para que os mesmos venham a acontecer.

Que as comemorações de São Cristóvão sirvam para conscientizar os motoristas sobre a sua responsabilidade na direção de carros, caminhões, motos e tratores. Vamos pedir a São Cristóvão que viaje junto conosco e nos ajude a proteger as vidas que nos são confiadas. Peçamos também a ele a graça de reconhecer, em cada passageiro o menino Jesus que ele carregou em seus braços. Assim, com mais probabilidade, chegaremos sãos e salvos ao destino da nossa jornada de trabalho e não provocaremos nenhum acidente mais grave.
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Encíclica: O cuidado da casa de todos
Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo de São Paulo (SP)

A nova encíclica do Papa Francisco – “Laudato sì – sobre o cuidado da casa comum” – propõe uma reflexão fundamental para encarar com seriedade e responsabilidade a questão ambiental. Antes de tudo, desvincula o “discurso ecológico” das ideologias de partido, como se isso interessasse apenas a alguns, ou a uma parte da sociedade. Por isso, o Papa não se dirige apenas aos católicos e cristãos: o seu apelo é dirigido a toda a família humana, a quem tem religião e a quem não tem também (cf n. 13-14).

A questão interessa a todos, pois se trata de cuidar da “casa comum”, que é a natureza e, de modo geral, o mundo que nos hospeda, abriga, sustenta e encanta, junto com todos os seres que o habitam. O subtítulo da encíclica – “sobre o cuidado da casa comum” – dá a entender, justamente, aonde o Papa quer chegar: que todos juntos cuidemos desse “bem comum global”, que é a natureza.

A globalização, sobretudo da informação e do mercado, nos permitem hoje perceber, melhor do que em outros tempos, que o mundo, sobretudo nosso planeta Terra, por grande que seja, é uma “aldeia global”; nele, todos estão relacionados e dependentes todos, no que acontece de bom e de mal, mesmo sem o saber. E os estudos científicos também mostram sempre mais que, na natureza, todas as coisas também estão relacionadas ente si e dependem umas das outras.

Isso está plenamente de acordo com o relato da criação, no começo da Bíblia. O ato criador de Deus foi também um ato organizador do “abismo”, sobre o qual o Espírito do Criador já pairava, “no princípio” (cf Gn 1,1). Deus não deu origem ao caos, nem introduziu no mundo um princípio de desordem e confusão, ou uma espécie de princípio de desagregação e destruição. Pelo contrário: organizou todas as coisas com sabedoria e harmonia. E, depois que havia feito todas as coisas, Deus “viu que tudo era bom”. Muito bom! (cf Gn 1,31). Nada estava em desordem na “casa comum”...

E, logo em seguida, vem a questão: quem foi que introduziu novamente o caos e a confusão no mundo? Segue, então, a narração sobre o pecado, lá nas origens da história do homem. E o paraíso deixou de ser um “jardim” para o homem. Mesmo assim. Deus o confiou a terra ao homem e da mulher para que dela cuidassem (cf Gn 3).

No primeiro capítulo da Encíclica, o Papa pergunta: Que está acontecendo com nossa casa? Nada mais natural: se na nossa casa há goteiras, infiltrações, rachaduras nas paredes, curtos-circuitos, insetos pelos cantos ou mofo aparecendo nas paredes, nada mais natural que perguntar: que está acontecendo? Que precisamos fazer para cuidar melhor da nossa casa? A primeira coisa, é uma boa tomada de consciência da situação. É o que o Papa faz, ao tratar da natureza, casa comum da família humana.

As constatações são aquelas que estão sendo faladas, discutidas e divulgadas há tempos por muitos: poluição do ar, das águas e do solo; mudanças climáticas, que começam a mostrar sempre mais claramente as suas consequências; o problema da água potável que, além de escassear em muitas partes do mundo, ainda está sendo desperdiçada, contaminada e empregada mal. E quem mais sofre com isso? Aqui mesmo, em São Paulo, ameaçados pela carestia desse bem indispensável à vida, estamos aprendendo duramente que a água potável é um bem precioso, que precisamos cuidar melhor.

Mas existe mais: a natureza está perdendo rapidamente sua biodiversidade, com muitas espécies em fase de extinção, ou já extintas. E não é somente a natureza que se vai degradando: a qualidade da vida humana vai junto com essa degradação. A vida social e as relações entre os povos são marcadas por novas tensões e conflitos, em consequência de problemas ambientais. A própria paz fica ameaçada. O problema do degrado ambiental já passou até os limites da atmosfera: lá no alto, muito acima de nossas cabeças, já flutua uma infinidade de “lixo” cósmico, produzido pelo homem. Onde as coisas vão parar?!

O Papa Francisco constata que as reações do homem, de suas organizações e seus governantes e responsáveis, ainda são muito fracas. Há discussões infinitas, mas pouco consenso e ação efetiva para cuidar melhor da nossa casa comum. Que fazer? Por onde começar?

Publicado em O Estado de São Paulo
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O Testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena

Bispo de Guarabira (PB)


Celebramos a festa dos Apóstolos Pedro e Paulo (28.06.2015) que muito tem marcado a Igreja, especialmente pelo testemunho de fidelidade a Cristo. Mortos na perseguição de Nero pelo ano 64. Através destes dois apóstolos a Igreja celebra sua apostolicidade: Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.

A Igreja não pode ser fundada por ninguém, a não ser pelo próprio Senhor, que a estabeleceu sobre o testemunho daqueles Doze primeiros que ele mesmo escolheu. Seu alicerce, sua origem, seu fundamento são o ministério e a pregação apostólicas que, na força do Espírito Santo, deverão perdurar até o fim dos tempos, graças à sucessão apostólica dos Bispos católicos, transmitida na Consagração episcopal. Dizer que nossa fé é apostólica significa crer firmemente que a fé não pode ser inventada nem tampouco deixada às modas de cada época. Não somos nós, mas o Cristo no Espírito Santo, quem pastoreia e santifica a Igreja.

Apóstolo não é somente aquele que anuncia Jesus, mas, sobretudo, aquele que, escolhido pelo Senhor, com ele conviveu, nele viveu e, por ele, entregou sua vida. Os apóstolos testemunharam Jesus não somente com a palavra, mas também com o modo de viver e com a própria morte. Por isso mesmo, seu martírio é uma festa para a Igreja, pois é o selo de tudo quanto anunciaram. O próprio São Paulo reconhecia: “Não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila, para que esse incomparável poder seja de Deus e não nosso” (2Cor 4,5.7).

Jesus fundamenta sua Igreja sobre a fé de Pedro. Mesmo a ação missionária de Paulo submete-se à autoridade de Pedro. Em Pedro e Paulo reflete-se a Igreja de Cristo. Uma Igreja que imita a Cristo (At 12,1-11). Uma Igreja que dá testemunho de Cristo.

Iluminados pela Palavra de Deus, somos motivados a imitar os exemplos que Pedro e Paulo nos deixaram. Eles não foram cristãos apenas por palavras, mas pelo testemunho corajoso até à morte.

Quando Pedro se encontrava na prisão, por anunciar o Evangelho, não lhe faltaram a oração da Igreja e o auxílio do Senhor naquela situação tão difícil (cf. At 12,5). A solidariedade por meio da oração é uma atitude a ser sempre cultivada em nossas comunidades. Não pode faltar apoio fraterno aos que sofrem perseguições por causa da fé em Cristo e da participação na Igreja. Paulo, também perseguido e preso por causa da pregação do Evangelho, ressalta a sua serenidade e confiança em Deus: “o Senhor esteve a meu lado e me deu forças” (2Tm 4,17).

O testemunho dos Apóstolos continua a ecoar na Igreja, nos estimulando a repetir, com os lábios, o coração e a vida, a profissão de fé de Pedro diante de Jesus: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,16). É feliz quem professa esta mesma fé, pela graça de Deus, especialmente nos momentos mais difíceis da vida. Fazemos isso, em profunda comunhão com o sucessor do Apóstolo Pedro, comemorando nesta festa o Dia do Papa. A palavra de Jesus dirigida a Pedro fundamenta a missão exercida na Igreja, por ele e seus sucessores: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,19).

Rezemos pelo Papa Francisco, seguindo o exemplo da Igreja nascente que estava unida ao apóstolo Pedro em oração. O Senhor, nosso Deus, que o escolheu para o Episcopado na Igreja de Roma, o conserve são e salvo à frente da sua Igreja confirmando os irmãos e irmãs.
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A casa comum
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo de Guarabira (PB)


No último dia 18 de junho, quinta-feira, foi publicada uma nova encíclica do Papa Francisco com o título “Laudato si (=Louvado seja), sobre o cuidado da nossa casa comum”, palavras contidas no Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. Nas 192 páginas, divididas em seis capítulos, são abordadas as questões do cuidado com a criação, a ecologia humana e a proteção do meio ambiente. É um forte convite à nossa responsabilidade com a natureza humana.

Pergunta: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?” "Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária. E isso conduz a interrogar-se sobre o sentido da existência e sobre os valores que estão na base da vida social: Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra? Se não pulsa nelas esta pergunta de fundo. Não creio que as nossas preocupações ecológicas possam surtir efeitos importantes".

O texto apresenta eixos temáticos sobre o que está a acontecer à nossa casa - as mudanças climáticas - «a falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes”,«o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial”, a preservação da biodiversidade e a dívida ecológica, existem «responsabilidades diversificadas». O Papa Francisco se mostra profundamente impressionado com a «fraqueza das reações» diante dos dramas de tantas pessoas e populações. Embora não faltem exemplos positivos, falta uma cultura adequada.

Em seguida, o Papa Francisco relê as narrações da Bíblia - «o Deus que liberta e salva é o mesmo que criou o universo”. A narração da criação é central para refletir sobre a relação entre o ser humano e as outras criaturas e sobre como o pecado rompe o equilíbrio de toda a criação no seu conjunto.

O ser humano não reconhece mais sua correta posição em relação ao mundo e assume uma posição autoreferencial, centrada exclusivamente em si mesmo e no próprio poder. O coração da Encíclica é a ecologia integral como novo paradigma de justiça; uma ecologia «que integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o circunda». Esta ecologia integral «é inseparável da noção de bem comum». Um melhoramento integral na qualidade da vida humana: espaços públicos, moradias, transportes e outros.

Para o Papa Francisco é imprescindível que a construção de caminhos concretos não seja enfrentada de modo ideológico, superficial ou reducionista. Por isso, é indispensável o diálogo. As raízes da crise cultural agem em profundidade e não é fácil reformular hábitos e comportamentos. A educação e a formação continuam sendo desafios centrais:«toda mudança tem necessidade de motivações e dum caminho educativo»; estão envolvidos todos os ambientes educacionais, por primeiro « a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese». «Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo».

São Francisco de Assis expressou bem no seu Cântico: “louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão sol, pela mãe terra, pela irmã água... e por todo ser!” No site: www.news.va, temos o texto completo da Encíclica sobre o cuidado da casa comum. Convido a todos(as) a acolherem e lerem a encíclica do nosso Papa Francisco com profundo interesse, alegria e esperança no coração.
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Anunciemos como João
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


Depois de ter festivamente celebrado Santo Antônio, dia em que tive a oportunidade de presidir a Santa Missa, pela manhã, na Igreja de Santo Antônio, na Igreja Particular de Nova Iguaçu, a convite do querido bispo local, bem como de ter abençoado a fogueira e o tradicional arraial de nosso Seminário Arquidiocesano de São José, estamos vivendo em pleno tempo de festas em honra aos santos juninos. Uma tradição que se renova a cada ano e que nos insere dentro da piedade popular, que deve ser valorizada na vida da Igreja. Por isso, no dia 24 de junho, a Igreja celebra a solenidade litúrgica do nascimento de João Batista, “o maior dos profetas”, que foi enviado “para preparar os caminhos do Senhor”. Ele e a Virgem Maria são os únicos em que a liturgia lembra o nascimento. Os demais santos são comemorados no dia da morte, portanto, João é comemorado duas vezes: no nascimento e no seu martírio, celebrado em 29 de agosto.

A festa do nascimento de São João Batista, além de se inserir nas tradicionais festas juninas com seu folclore e tradição, deve ser um momento de aprofundamento para nossa vida de chamados a anunciar Jesus Cristo, e, assim, preparar os caminhos do Senhor nos corações das pessoas. Para mim é uma data muito especial, em que celebro a origem de meu segundo nome, que também me envia a essa missão. É uma festa alegre e simpática, que traz consigo uma mensagem muito importante e uma vida compromissada com o Reino de Deus até o martírio.

A celebração da natividade de João Batista evoca a manifestação da graça e bondade de Deus. O lema é a frase de Zacarias, seu pai, no evangelho dessa solenidade: “Seu nome é João”. Essa locução é uma mensagem da gratuidade e bondade divinas. O próprio nome – Yohanan – significa “Deus se mostrou misericordioso”. É importante lembrar que seus pais, Zacarias e Isabel, eram idosos, sendo que a mãe, estéril. Portanto, o nascimento de João revela o poder e a bondade de Deus e é um sinal claro da importante missão que a ele é confiada.

Ele é o “profeta do Altíssimo” e seu modo de viver lembra Elias, o profeta que vivia no deserto, impelido pelo Espírito. Aliás, no evangelho de Lucas, o anjo anuncia que João andará no espírito de Elias, o mais típico “homem de Deus” do Antigo Testamento.

João é testemunha da Luz, sobretudo por ter apontado Cristo no meio da humanidade. Ele encarna a plenitude do Antigo Testamento e a preparação para o Evangelho. E teve a graça de batizar o próprio Cristo, marcando o início da missão do divino Salvador.

“Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo”. Assim o evangelho de Lucas inicia o canto de Zacarias, que louva a Deus pelo nascimento do filho João Batista. E mais adiante ele proclama: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo porque irás adiante da face do Senhor a preparar os seus caminhos” (Lc 1, 68.76).

Esse privilégio litúrgico se deve à grandeza da missão do Batista. Ele é o precursor do Messias, aquele que foi enviado para preparar os caminhos do Senhor. É testemunha da luz por ter apontado Cristo no meio da humanidade: “Eis o Cordeiro de Deus, eis O que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).

Nos evangelhos, várias passagens ressaltam a pessoa e a missão do Batista. O evangelista João afirma que “houve um homem enviado por Deus que se chamava João. Este veio para dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele. (Jo 1, 6) Em outra passagem, o mesmo evangelista narra que, interrogado pelos judeus se ele era o Messias esperado, João Batista testemunhou: “Eu não sou o Cristo. Eu batizo em água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. Este é o que há de vir depois de mim, ao qual eu não sou digno de desatar a correia das sandálias” (Jo 1, 20. 26-27).

Marcos inicia seu evangelho apresentando João Batista que “pregava o batismo de penitência para remissão dos pecados” (Mc 1, 4). O evangelho de Mateus conta que João começou a pregar no deserto da Judéia, dizendo: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. Porque este é aquele de quem falou o profeta Isaías quando disse: Voz do que clama no deserto. Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mt 3, 2-3).

Na celebração deste grande santo ecoa em nossos ouvidos João Batista conclamando o povo à conversão: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E todo homem verá a salvação de Deus” (Lc 3, 4-6).

João Batista nos convida a mudarmos de vida, a levarmos a virtude da esperança cristã a todos os que vivem desesperançados, a direcioná-la conforme os valores do Reino de Deus: “Quem tem duas túnicas, dê uma ao que não tem; e o que tem que comer, faça o mesmo” (Lc 3, 11). A salvação divina se concretiza na medida em que o Reino de Deus se realiza: na vivência da fraternidade, na prática da justiça, na defesa da vida, na promoção da dignidade humana, no resgate dos direitos dos pobres e excluídos e no anúncio de que a esperança em Cristo vence todas as mazelas do mundo atual.

Por isso, a mensagem de São João Batista se faz atual e contundente. Ela convida todos a se empenharem na construção de uma nova sociedade, sem violência, sem miséria, uma sociedade que ofereça condições de vida digna para todos. Pois, como proclama Zacarias em seu canto, João veio ao mundo “para dar ao povo o conhecimento da salvação, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, para dirigir nossos pés no caminho da paz” (Lc 1, 77-79).

Neste Ano da Esperança e às vésperas do grande envio missionário arquidiocesano, esta festa nos remete à grande missão evangelizadora da Igreja e, consequentemente, à nossa missão nesta grande cidade. Tem muita presença de Deus que aqui habita e que necessitamos que venha à tona e contagie as pessoas na caminhada para o bem. É o nosso compromisso deste ano abençoado com tantas e significativas datas. Abramos o nosso coração do chamado à missão e, como João, apontemos Jesus Cristo que está entre nós, ao povo que caminha procurando uma luz.

Celebrando a festa de São João Batista, rogamos que sua proteção se faça constante e sua mensagem sempre nos interpele para a construção de uma sociedade cada vez mais alegre e bonita. Para a construção de uma sociedade cada vez mais cheia de vida e de esperança cristã, marcada pelos valores do Evangelho de Jesus Cristo, de quem João Batista foi o precursor!
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O sono de Deus
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


Os discípulos de Jesus percorreram etapas exigentes em seu amadurecimento como seguidores daquele Mestre tantas vezes enigmático em seus gestos e palavras. Junto com Jesus, muitas vezes o Lago de Genesaré, também chamado Mar da Galileia ou de Tiberíades, tornou-se cenário privilegiado para o chamado, milagres, repouso, crises, pregações e o duro aprendizado, que frutificará depois, quando a barca da Igreja singrar os mares da história. Após a Ressurreição, foi ainda à beira do lago que descobriram que "o mar não está para peixe", quando falta o reconhecimento da presença do Senhor (Cf. Jo 21, 1-14). Só quando alguém diz "É o Senhor" é que as coisas mudam.

Dura e frutuosa lição experimentaram os discípulos numa das muitas travessias do mar (Cf. Mc 4, 35-41). O cenário é perfeito para o medo! Ventania, ondas que se lançam dentro da barca, e Jesus dormindo! "Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?" e Jesus se levantou, ordenou silêncio ao vento e ao mar. À calmaria, seguiu-se o ensinamento precioso: "Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé? Eles sentiram grande temor e comentavam uns com os outros: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?" (Mc 4, 40-41). Ao apavoramento se seguiu o temor, que podemos chamar de sagrado! É que estavam descobrindo naquele que os chamara nada menos do que o mesmo Deus que fecha o mar com portas, marca seus limites e controla a "arrogância" de suas ondas (Cf. Jó 38, 1-11). E temor de Deus é um dos dons do Espírito Santo.

As sucessivas gerações de cristãos, até chegar aos nossos dias, e assim será até a volta do Senhor, devem confrontar-se com o dilema do silêncio ou do sono de Deus. Quem de nós, diante da decadência dos costumes, ou frente à onda de violência que se assoma às nossas famílias, a criminalidade impune, ou o indiferentismo e o relativismo que se espalham, não desejou, mesmo secretamente, que venha um fogo do céu para balançar as consciências? (Cf. Lc 9,54-58). Até hoje Jesus repreende os discípulos que desejam usar tais armas!

Quer dizer que Deus não age, ou que continua dormindo comodamente sobre um travesseiro? Basta verificar o curso de nossa vida pessoal, no ponto em que nos encontrarmos, para constatar a presença misteriosa, mas efetiva, de Jesus Salvador em nossa existência. As orações são ouvidas? Sim, mas não como se o Senhor estivesse a nosso serviço, para operar obras prodigiosas, quem sabe desejadas para parecermos melhores do que os outros. Só Deus é capaz de conduzir os acontecimentos do mundo, como Senhor da história, respeitando a liberdade humana.

Para ficar em nossa geração, é positivamente espantoso verificar a sucessão de Papas que a Igreja ofereceu ao mundo, como reserva moral, defesa da verdade e dos direitos das pessoas. Vale uma bonita ladainha, de 1939 para cá: Pio XII, São João XXIII, o Beato Paulo VI, João Paulo I, São João Paulo II, Bento XVI e o Papa Francisco. Felizes somos nós, numa época de carência de líderes autênticos, por termos a Providência Divina que suscita intervenções tão carregadas de sabedoria e firmeza.

Nesta semana, se rejubila nossa Amazônia com a notícia, o Papa Francisco publica a Encíclica sobre a Criação e a Ecologia, chamada "Laudato si". É que Deus realiza a sua obra, bem acordado ("Meu Pai trabalha sempre" - Jo 5,17). Só que desejou benevolamente contar com os dons que nos foram concedidos, e não só aos papas! Tudo o que era estritamente necessário dizer à humanidade foi dito no Filho Amado do Pai, Palavra Eterna encarnada para nossa Salvação. Sem receio de exagerar, podemos dizer que as mazelas todas do mundo seriam e podem ser superadas se o Evangelho for vivido. E as consequências do Evangelho podem iluminar desde as pessoas mais simples até os maiores portentos da ciência ou da técnica. E as muitas moções proféticas que o Senhor oferece no curso da história, através de homens e mulheres dóceis ao Espírito Santo, não fazem mais do que confirmar o que a Palavra revelada já proclamou, oferecendo os necessários desdobramentos correspondentes a cada tempo, para edificarmos um mundo mais justo e fraterno.

Mais do que achar que Deus está dormindo, o que acontece é que uma onda terrível, sob a qual não podemos deixar de identificar a presença e atuação do pai da mentira, cujo nome conhecemos, que pretende fazer com que o mundo viva sem Deus e impedir que a Palavra vinda de sua boca chegue às pessoas, ou ainda ridiculariza o que existe de sagrado na confissão de fé dos homens e mulheres de nossa época, suscitando o que Papa Francisco chama de mundanidade.

Todas as pessoas de boa vontade se espantaram e se revoltaram com o flagrante desrespeito à fé cristã, aos santos e santas e ao Senhor Jesus Cristo, em cujo nome, e só nele, se encontra a salvação, ocorrido recentemente numa grande cidade de nosso país. São pessoas que por suas opções pessoais gritam por respeito, mas não são capazes de reconhecer o mesmo direito de quem professa uma religião. Deus não está dormindo, e nem precisa tramar castigos para quem quer que seja. Ele já disse o que pensa através do clamor que ressoou pelo Brasil.

Outro desafio se anuncia gravíssimo nos próximos dias! Há uma armadilha preparada para dilapidar a formação da consciência das novas gerações, quando a chamada "ideologia de gênero" ameaça ser incluída nos planos educacionais do país. No momento, são as Câmaras Municipais que devem analisar os projetos. Conclamamos todas as casas de leis de nossos municípios de todo o Estado do Pará, a fim de que rejeitem corajosamente esta ameaça. E aqui todos os vereadores e vereadoras cristãos que têm temor de Deus, católicos ou de outras confissões cristãs, são por nós convidados a se posicionarem com firmeza, rejeitando o que maldosamente está sendo proposto por instâncias superiores no campo educacional, que insistem em fazer valer essa ideologia absolutamente contrária aos princípios que defendemos. Para que ninguém pretenda calar a voz de Deus ou fazê-lo dormir, apelo aos meus leitores para encaminharem cópias do texto que agora têm em mãos aos vereadores de todos os municípios do Brasil.

Deus nos entregou uma grande responsabilidade, a de sermos porta-vozes daquilo que ele pensa e quer! Não necessitamos de grandes ou novas revelações para viver esta missão. Basta ter na mente, no ouvido e no coração o Evangelho de Jesus Cristo, vivê-lo e proclamá-lo corajosamente. Como na narrativa da Criação Deus descansou ao ver que tudo o que fizera era muito bom (Cf. Gn 1, 31), permitamos-nos dar alegria e repouso ao seu coração, sendo coerentes com seu plano de amor.
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Como uma semente
Cardeal Orani João Tempesta Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Depois da solene Festa do Sagrado Coração de Jesus, que foi também o Dia de Oração pela Santificação Sacerdotal, e da memória carinhosa do Imaculado Coração de Maria, neste ano coincidindo com a de Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa, chegamos ao 11º Domingo do Tempo Comum. Neste domingo em que ouvimos parábolas do Reino e com comparações bem simples, somos chamados a abrir o coração para acolher o Senhor que nos convoca. Estejamos atentos, porque o Senhor nos falando do Reino de Deus, Reino que começa aqui, experimentado quando nós abrimos para o anúncio de Jesus; Reino que será pleno na glória, quando cada um de nós e toda a humanidade, com a sua história, entrar, um dia, na plenitude do coração da Trindade Santa.

O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o Reino de Deus vem de modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas. Pequenas como um grãozinho jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho frágil e sem aparente valor. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho retirado da ponta da grande árvore da dinastia de Davi... aquele brotinho pobre, da carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir. Os modos de Deus, a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de nossas expectativas!

Outra lição deste domingo cotidiano: o Reino vem aos poucos. Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo e irá crescendo como a semente, como o grão de mostarda, aos poucos. Somos tão impacientes, gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos. Mas, não! Se os pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos são iguais aos da gente! Somente perseverará na paciência aquele que souber adequar-se aos tempos de Deus. E Deus contempla o tempo na perspectiva da eternidade e não das nossas pressas. Assim vai o Reino brotando humildemente na história e no coração do mundo, de um modo que somente quem reza e contempla pode perceber.

Nós, filhos de um mundo tão pragmático e autossuficiente, temos tanta dificuldade em perceber a ação de Deus! Pensamos que nós é que fazemos, que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da história! Como estamos enganados! É Deus quem faz o Reino desenvolver-se na potência do Espírito. Que diz o Senhor? "O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece"! Nós, com a graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo trouxe. Como plantamo-lo? Plantamos quando nós nos abrimos à graça, plantamos com nosso exemplo, plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação. Mas, cuidado! É o próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino crescer: é obra D’Ele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta, outro, o que rega, mas é Deus quem faz crescer. É assim que Deus vai agindo, tomando nossas pobres sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e suavidade.

Um dia, diz Jesus, chegará o momento da colheita. Haverá um fim na história humana, caríssimos, e, então, "todos deveremos comparecer ante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito na sua vida corporal". Não adianta querer esquecer, de nada serve fingir que não sabemos: aqui estamos de passagem, aqui vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que Deus mesmo faz crescer; mas, a colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino que começa no tempo, haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve fecundar a história somente será pleno e definitivo na glória. Como seríamos mais livres, equilibrados se recordássemos essa realidade! Como teríamos o cuidado de viver de tal modo, que não perdêssemos o Reino! Não entrará no Reino quem não permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós que entramos no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino é abrir-se para o Cristo Jesus! Abramo-nos para Ele e Ele nos abrirá o seu Reino!

Uma última lição de Jesus para nós, hoje: o seu sonho é que todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai na qual há muitas moradas! É por isso que, na Primeira Leitura, pousarão todos os pássaros à sombra da ramagem da árvore que é o Messias, e as aves aí farão ninhos. O mesmo Jesus diz do Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que germina e se torna arvora frondosa. O Senhor nos ama a todos, nos quer todos felizes, nos chama a todos! Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o compasso do seu coração, experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com provações, e, um dia, haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor Jesus, dá-nos, pois, a graça de abrir as portas do nosso coração e do coração do mundo para o Reino do Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na potência do teu Espírito que habita em nós e no coração da Igreja! E que através de nós, ele se faça sempre mais presente no mundo. Que neste Ano da Esperança, o Senhor nos conduza para sermos sempre mais suas testemunhas!
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Coração aberto para Acolher
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

Nesta sexta-feira, dia 12 de junho, celebramos a Festa do Sagrado Coração de Jesus. Na mesma data, por sugestiva coincidência, comemoramos também o Dia dos Namorados. As duas comemorações falam de amor. Uma fala do amor de Deus pela humanidade e a outra do amor que existe entre duas pessoas que vivem uma mútua relação de bem querer entre si.

A festa do Sagrado Coração de Jesus tem sua inspiração no coração de Jesus, aberto pela lança de um soldado romano, quando já estava sem vida no alto da cruz. Diz o evangelista João (19,34) que, “do seu coração aberto saiu sangue e água”. Foi o gesto supremo do amor de nosso Deus, que assim se manifesta como “Deus-Amor”. Neste ato identificamos o nascimento da Igreja, edificada na água do batismo e no sangue “derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26,28).

Durante a sua vida pública, feliz com a acolhida que estava recebendo em meio aos pequenos e pobres e, ao mesmo tempo, ciente das dificuldades pelas quais passavam, Jesus os convidava a se achegarem a Ele: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós” (Mt 11,28-29).

De acordo com o Papa Francisco, “este convite de Jesus se estende até os nossos dias, para alcançar tantos irmãos e irmãs oprimidos por condições de vida precárias, por situações existenciais difíceis e, por vezes, desprovidas de válidos pontos de referência”. Sempre que alguém se sente abatido pela dor ou pela aflição, pode buscar abrigo no coração aberto de Jesus, certo de que ali encontrará acolhida.

Nesta linha, o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado para 2016, será uma especial oportunidade para aprofundar a mística do Deus amoroso e compassivo. Será também um tempo favorável para nos darmos conta de que “Deus nunca se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida” (O rosto da misericórdia, n. 25).

Muitas são as pessoas devotas do Sagrado Coração de Jesus ao redor do mundo. Destaco, particularmente, os integrantes do Apostolado da Oração. Por sua oração e oferecimento diário contribuem muito para aproximar as pessoas de Deus, mostrando-lhes a Igreja como “a mãe amorosa, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados” (São João XXIII, abertura do Concílio Vaticano II em 1962).

Faço votos que as comemorações do Sagrado Coração de Jesus, aprofundem a nossa convicção de que Deus, acima de tudo é o Deus do Amor e da Misericórdia.
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Agir coerentemente
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)


O mundo está assustado com tanta corrupção. É incalculável a vulnerabilidade de quem lida com muito dinheiro. As pessoas não medem o tamanho das consequências provocadas por atitudes desonestas, injustas e irresponsáveis. Lesam a dignidade das instituições. Quem sofre com isso são os mais fracos, que dependem das condições mínimas para sobrevivência e uma vida digna.

Ainda bem que nem tudo está perdido! Há possibilidade de uma sociedade diferente, de práticas com mais transparência, com a atuação de pessoas eticamente bem formadas. Os desonestos deveriam ser punidos com uma medida nas proporções do roubo praticado. A impunidade é a principal causa do imbróglio que vemos.

As injustiças dos últimos tempos no mundo, organizadas e maquinadas, afrontam as instituições, as pessoas e o próprio Deus. Elas estão por todo lado, em todas as classes da cultura moderna, surtindo efeito cascata, provocando um adágio muito preocupante: “Fazem assim, porque eu também não posso fazer?”.

A bíblia fala do valor da semente, quando plantada em terra boa. As consequências dependem da identidade da semente e da terra onde é plantada. O dinheiro, em si, é bom. A riqueza, também. O problema é a conduta de quem administra riquezas monetárias, não as destinando para os fins para os quais são determinados.

No passado, a infidelidade do povo judeu lhe custou o preço do exílio na Babilônia. O povo foi punido exemplarmente, fazendo-o restaurar e revitalizar sua identidade, fragilizada pela desorganização e descumprimento dos preceitos do Senhor. O ser humano tem capacidade para ser diferente e retomar um caminho de credibilidade e confiança das pessoas. O Brasil precisa fazer esse processo.

Portanto, agir coerentemente tem sido desafio para muitos de nossos dirigentes. Faltam princípios básicos para cimentar uma prática de honestidade em relação ao que é do povo, da coletividade, e não de suprir interesses particulares. Estamos em momento de esperança diante da publicidade e da ação da justiça em relação a algumas pessoas que depredam, de forma injusta, e desviam bens impróprios, prejudicando a outros. Que realmente sejam punidos.
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Guiados pelo Espírito de Cristo
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)

Que diferença há entre ser cristão e não ser cristão? A pergunta pode parecer supérflua, uma vez que se dirá logo: um cristão é batizado e é membro da Igreja de Cristo. A resposta é correta, mas não é suficiente. Embora essas duas características sejam fundamentais para definir um cristão, elas ainda não fazem aparecer o que é próprio do cristão.

Pode haver cristãos, que vivem como se o Batismo nada tivesse modificado em suas vidas: vivem como se não fossem cristãos. Ou pode haver aqueles que procuram praticar a religião apenas de forma exterior e ritual, sem que a orientação de sua vida e seu comportamento sejam impregnados por Cristo e pelo seu Evangelho.

O ser cristão manifesta-se na vida “conforme Cristo”, ou “segundo o Espírito de Cristo”, para usar expressões caras a São Paulo. Na Carta aos Gálatas (5,16-25), Paulo enfrenta essa questão pois, naquela comunidade, os fiéis eram tentados a tornar novamente às práticas da Lei Mosaica, como se nelas, em vez de Cristo, estivesse a sua segurança e salvação. O Apóstolo afirma com vigor que a justificação perante Deus é alcançada através da fé em Cristo, e não pelas práticas rituais. E fala da nova condição dos que crêem: tornam-se filhos de Deus e alcançam uma liberdade soberana, para viver sem temor, segundo o Espírito de Cristo.

Não se trata de liberdade para fazer qualquer coisa, mas para viver livres do temor, confiantes em Deus e felizes por ser filhos amados de Deus, “em Cristo”. Creio que aqui está uma das características mais preciosas do “ser cristão”: ser filhos e filhas de Deus. Essa caracterização do cristão aparece abundante, sobretudo, nos textos de São João e São Paulo. A fé em Cristo e o batismo conferem uma nova dignidade ao cristão.

Paulo vai logo às consequências: “não se deixem escravizar novamente!” E o diz em dois sentidos: não abandonar a graça imensa da fé em Cristo, para submeter-se de novo a práticas que escravizam e tiram a soberana liberdade de filhos de Deus, mediante uma religião do temor, ou uma religião feita apenas de práticas humanas, sem contar com a graça de Deus e a ação do Espírito de Cristo; ou então, deixar-se escravizar pelas paixões humanas desordenadas e pelos vícios.

“Fostes chamados, irmãos, para a liberdade: mas que essa liberdade não seja pretexto para satisfazer os desejos da carne” (5,13). “Carne” indica a vida humana levada apenas pela força dos impulsos, instintos e paixões desordenadas e ainda não orientadas pelo Espírito de Cristo. As “obras da carne” se manifestam nos vícios e nas ações destrutivas: “fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, lutas, rivalidades e violências, ambições e discórdias, invejas, embriaguez e orgias, e todos os excessos dessa natureza” (cf 5,19-21).

Ao contrário, ensina Paulo, a vida orientada pelo Espírito de Cristo manifesta-se em todo tipo de virtudes, que são “frutos do Espírito”: amor, alegria, paz, magnanimidade, afabilidade, bondade e confiança, mansidão e temperança. “Os que são de Cristo, crucificaram a carne com suas paixões e seus maus desejos. Se vivemos animados pelo Espírito, deixemo-nos também conduzir por ele” (cf 5,22-25).

O ser cristão, portanto, aparece numa forma nova de viver que, de um lado, é graça de Deus e, de outro, fruto do esforço coerente para orientar a vida para Deus, conforme o exemplo e o ensinamento de Cristo. Tudo o que contradiz a dignidade cristã, ainda pertence ao “homem velho”, não renovado pelo Espírito de Cristo e, por isso, deve ser deixado de lado. E tudo o que é coerente com o Evangelho é expressão da “vida nova em Cristo e no seu Espírito”; e isso deve ser buscado com todo esforço e perseverança. O viver cristão é, portanto, uma proposta de “vida nova”, orientada pelo Espírito de Cristo. E isso requer a superação dos vícios e das práticas contrárias a Deus e ao próximo, ou contra a própria dignidade; ao mesmo tempo, a vida cristã floresce em todo tipo de belas virtudes, que tornam o viver nobre e santo.
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Comunhão da Igreja
Dom Alfredo Schaffler
Bispo de Parnaíba (PI)


O evangelista João nos relata o pedido de Jesus quando fala: Pai santo, guarda -os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um assim como nós somos um”.
Em outros trechos da sagrada escritura temos as mesmas afirmações e pedidos expressos que todos sejam um com eu o Pai nós somos um.
Nos Atos dos Apóstolos temos um belo testemunho das primeiras comunidades cristãs quando o evangelista nos relata: A multidão dos fieis era um só coração e uma só alma.
Temos testemunhos dos primeiros séculos do cristianismo quando os pagãs relataram e falaram: Veja como eles se amem.
A carteira de identidade do cristão sempre deve ser o amor e a caridade.
A grande pergunta que se coloca diante disso: Podemos viver o amor e a caridade sem construir a comunhão.
Num mundo pluralista, onde tantas e tantas vezes as pessoas apostam na própria verdade, num mundo onde cada vez mais está se estabelecendo um relacionamento a partir do dinheiro e do lucro e não da dignidade humana.
Podemos constatar avanços e conquistas no mundo das ciências e da técnica, que proporcionam conforte e bem estar.
A promoção da mulher, o destaque à justiça e à ecologia, a consciência da importância dos movimentos sociais e dos direitos á educação e à saúde, iniciativas para a superação da miséria e da fome.
O fenômeno da globalização, embora atinja todos os recantos do planeta, não se restringe ao âmbito geográfico, mas produz transformações que atingem todos os setores da vida humana.
O imperativo a produtividade, o consumo e o lucro que representam muitas vezes hipotecas pesadas para a natureza e futuras gerações.
As mudanças de época, de fato, afetam os critérios de compreensão, os valores mais profundos, a partir dos quais se afirmam identidades e se estabelecem ações e relações. A atual crise cultural atingem de modo particular, a família.
Difunde se a noção de que a pessoa livre e autônoma precisa se libertar da família, da religião e da sociedade.
No campo social e econômico, os critérios que regem o mercado regulam também as relações humanas.
Crescem as ofertas de felicidade, realização e sucesso pessoal, em detrimento do bem comum e da solidariedade, desconsiderando as atitudes altruístas, solidárias e fraternas.
Os pobres são considerados supérfluos e descartáveis, resíduos e sobras, fazem a triste experiência que não são necessários para nossa sociedade.
Trata-se de uma economia caracterizada pela negação da primazia do ser humano, e por isso, pela exclusão e pela desigualdade social, geradora de uma cultura do bem estar e do descartável e uma globalização da indiferença.
A missão da Igreja é evangelizar de uma forma que acontecem mudanças na sociedade.
Não se pode evangelizar como se fosse um verniz que se coloca somente por for.
Evangelizar é, em primeiro lugar, dar testemunho.
Pelo nosso batismo fomos chamados dar testemunho do amor de Deus no meio dos homens através de um relacionamento fraterno.
Precisamos reconhecer a primazia do ser humano como imagem e semelhança de Deus.
A pessoa humana é mais importante do que o lucro, o dinheiro e o mercado.
A palavra de Deus nos convida nesta festa de Pentecostes que vamos celebrar neste domingo que sejamos como naquele tempo os apóstolos e discípulos de Jesus portadores da Boa Nova.
Através da nossa comunhão como Igreja a palavra de Deus seja novamente o norte da nossa sociedade.
Firme na fé e fiquem dom Deus.
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Recebei o Espírito Santo
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


Fomos batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. O Pai que tudo criou por amor, o Filho amado que se encarnou, morreu, ressuscitou, voltou ao Céu, está presente conosco, um dia há de voltar glorioso, e o Espírito Santo de amor, alma da Igreja, presente do Ressuscitado à Igreja e ao mundo. O coração de nossa vida cristã está no amor, vida da Santíssima Trindade, força transformadora, capaz de mudar o mundo. No tempo do Espírito Santo, até o final dos tempos, somos chamados à missão de anunciar a Boa Nova do Evangelho.

Jesus ressuscitado apareceu aos seus discípulos, soprou sobre eles e lhes concedeu o Espírito Santo (Cf. Jo 20, 19-23). Quando veio o dia de Pentecostes, os que se encontravam em oração no Cenáculo, com Maria, a Mãe de Jesus, receberam o Espírito Santo (Cf. At 2, 1-11). Homens antes marcados pelo medo agora se lançam à missão. Multiplicaram-se os dons do Espírito Santo na vida de todos e os Atos dos Apóstolos testemunham os frutos de sua efusão, na pregação, vida comunitária, oração e milagres. E a Igreja cresceu com a força do Espírito, mantendo em todos os séculos o ardor missionário, para chegar aos confins da terra. Cada época, inclusive com suas crises, foi sempre marcada pela ação do Espírito Santo, que suscitou pessoas e iniciativas adequadas para que o Evangelho chegasse a todos.

E época de mudanças e crises é, de forma especial, o tempo em que vivemos, tanto que se diz com frequência que a atual é uma "mudança de época", uma grande virada na história, que deixa perplexas pessoas e instituições, como se o chão fosse tirado de debaixo dos pés. Nos próximos meses serão comemorados os cinquenta anos da conclusão do Concílio Vaticano II, assim como de vários de seus documentos, frutos da ação do Espírito Santo, que impulsionou a belíssima estação missionária então inaugurada na Igreja. A última das grandes Constituições emanadas do Concílio continua plenamente atual, reveladora da perspicácia suscitada justamente pelo Espírito Santo, parecendo redigida para os dias que correm.

Nossa atual mudança de época é chamada de crise. O Concílio Vaticano II oferecia uma leitura que se revela pertinente: "Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas dificuldades. Assim, o homem, que tão imensamente alarga o próprio poder, nem sempre é capaz de colocá-lo ao seu serviço. Ao procurar penetrar mais fundo no interior de si mesmo, aparece frequentemente mais incerto a seu próprio respeito. E, descobrindo gradualmente com maior clareza as leis da vida social, hesita quanto à direção que a esta deve imprimir. Nunca o género humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio econômico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos. Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade como hoje, em que surgem novas formas de servidão social e psicológica. Ao mesmo tempo em que o mundo experimenta intensamente a própria unidade e a interdependência mútua dos seus membros na solidariedade necessária, ei-lo gravemente dilacerado por forças antagônicas; persistem ainda, com efeito, agudos conflitos políticos, sociais, económicos, raciais e ideológicos, nem está eliminado o perigo duma guerra que tudo subverta. Aumenta o intercâmbio das ideias; mas as próprias palavras com que se exprimem conceitos da maior importância assumem sentidos muito diferentes segundo as diversas ideologias. Finalmente, procura-se com todo o empenho uma ordem temporal mais perfeita, mas sem que a acompanhe um progresso espiritual proporcionado. Marcados por circunstâncias tão complexas, muitos dos nossos contemporâneos são incapazes de discernir os valores verdadeiramente permanentes e de harmonizá-los com os novamente descobertos. Daí que, agitados entre a esperança e a angústia, sentem-se oprimidos pela inquietação, quando se interrogam acerca da evolução atual dos acontecimentos. Mas esta desafia o homem, força-o até a uma resposta" (GS 9).

O Espírito Santo suscita e exige de nós respostas adequadas, capazes de revelar o papel que cabe justamente aos cristãos na transformação da realidade. Um dos sinais da docilidade ao Espírito Santo é o sentido da esperança, com o qual se identificam os sinais da graça de Deus presentes nos corações das pessoas. Passar por todos os lugares recolhendo o que existe de positivo e de autêntico em todos, verdadeiras sementes do Verbo de Deus que o Espírito Santo plantou. Atrás de muitos olhares cheios de perplexidade, outros até marcados pela dor ou pela revolta, está latente a busca da verdade. Celebrar a Festa de Pentecostes é comprometer-se com a visão do bem existente, onde quer que nos encontremos, especialmente nos ambientes mais desafiadores.

As pessoas não esperam dos cristãos uma adaptação pura e simples aos conceitos de grupos ou correntes de pensamento. O respeito aos cristãos vem quando estes são coerentes e buscam as razões de suas convicções e as oferecem com simplicidade e realismo. Já ouvi jovens que afirmaram ainda não conseguirem viver como cristãos, mas sabedores de que estes proclama e vivem a verdade. Este é um caminho oferecido pelo Espírito Santo, adequado para nossos dias. O Espírito Santo suscita para nosso tempo a coragem para sermos diferentes para melhor. Considero verdadeira tentação as respostas feitas de tradicionalismo e integrismo, com as quais alguns grupos pretendem contrapor-se às ondas destruidoras de valores de nosso tempo. É mais exigente e ao mesmo tempo mais forte que homens e mulheres convictos do Evangelho, presentes em todos os ambientes, criativos no diálogo, corajosos na descoberta das pontes a serem edificadas com as pessoas que muitas vezes os questionam, se sintam lançados aos novos campos de missão. O Espírito Santo nos conceda uma nova onda de profissionais, técnicos, cientistas, operários, políticos, gente de nosso tempo com uma nova qualidade, capazes de serem diante do mundo melhores, não para humilhar quem quer que seja, mas prontos a fecundar esta época com as mudanças mais profundas, aquelas que Ele mesmo, Espírito da verdade, planta em nossos corações.

Atitudes de nosso tempo, "da hora", plenamente adequadas, como fruto do Pentecostes que celebramos: clareza de que Deus habita em nós como num templo, consciência de que a dignidade humana dada pelo Batismo, fazendo-nos novas criaturas; horror ao pecado, à mentira, à violência, à impureza (Cf. Gl 5, 13-26); oração contínua (Cf. Lc 18, 1) para viver sempre na presença de Deus; humildade, penitência, adesão à Igreja de Cristo e alegria constante. Pessoas assim, conduzidas pelo Espírito Santo, são capazes de fermentar a mudança do mundo e responder aos desafios de nosso tempo.
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“Dá-nos um pouco da tua água” (Jo 4,7)
Dom Tomé Ferreira da Silva
bispo diocesano de São José do Rio Preto


Estamos diante do fato do crescimento da intolerância religiosa em diversos lugares do mundo. Continuamente, surgem e se desenvolvem conflitos locais ou regionais, onde se encontram questões políticas e religiosas. A intolerância é “intra-religiosa, quando praticada entre membros de uma mesma tradição religiosa”; é “inter-religiosa, se realizada entre pessoas de religiões diferentes”.

No Brasil, “Em 2012, foram denunciados 109 casos de discriminação religiosa, conforme a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Das 11.305 páginas de redes sociais denunciadas, 494 apresentavam conteúdo de intolerância religiosa. Esse é um dos crimes virtuais com maior número de denúncias”.

Não é incomum, também no Brasil, sobretudo nas famílias, mas também em outros ambientes públicos e coletivos, a pressão para que uma pessoa “se converta” para outra denominação religiosa. Algumas famílias, formadas por membros que participam de igrejas e religiões diferentes, passam por crises diante da dificuldade da convivência com o diferente.

A Semana de Oração pela Unidade Cristã, de 17 a 24 de maio, organizada no mundo pelo Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, e no Brasil pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, que reúne a Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, e a Igreja Presbiteriana Unida, tem o propósito de insistir “na pluralidade como algo sonhado por Deus e no diálogo como caminho permanente para o testemunho cristão.”

O lema proposto para a Semana de Oração pela Unidade Cristã-2015, “Dá-nos um pouco da tua água”(Jo 4,7), inspirado no encontro entre Jesus e a Samaritana, “leva em consideração o diálogo entre duas pessoas: Jesus e a mulher e, entre culturas e religiões diferentes: um judeu e uma samaritana. Trata-se de um encontro no qual uma pessoa necessita da outra, em relação de complementaridade.”

No texto do evangelho de São João, capítulo 4, versículos 1-42, “o estrangeiro é Jesus; chega cansado e com sede; ele precisa de ajuda e pede água. A mulher está em sua terra, o poço é de seu povo, de sua tradição. Ela tem o balde e primeiro acesso à água. Mas a mulher também tem sede. E Jesus não deixa de ser judeu ao beber da água da Samaritana. A Samaritana adere ao projeto de Jesus, mas não deixa de ser quem ela é. Quando se reconhece que existem necessidades recíprocas, a complementaridade pode se dar de forma mais enriquecedora.”

“A frase "Dá-me um pouco da tua água” pressupõe, portanto, tanto o pedido de Jesus, como o pedido da Samaritana. Essa frase nos impulsiona a reconhecer que, enquanto pessoas, comunidades, culturas, religiões e etnias, necessitamos uns dos outros, umas das outras. Também temos necessidades recíprocas na relação ser humano e natureza. A pluralidade deve ser reconhecida e apresentada como um patrimônio da humanidade.”

“O pedido por água, feito por Jesus à mulher samaritana, é também o testemunho ecumênico que oferecemos aos irmãos e irmãs das muitas igrejas que anunciam a boa-nova de Jesus, nos mais diferentes contextos do mundo. A fé em Jesus Cristo precisa expressar-se nessa abertura para encontros e conversas. Não devemos ver no outro um inimigo ou uma ameaça, mas sim, reconhecer nele uma expressão do amor de Deus. Complementamo-nos e crescemos quando nos abrimos para estes encontros. Este é o nosso testemunho ecumênico.”

“Em contextos de intolerância e perseguições religiosas, colocamos diante das nossas Igrejas o desafio de fazer a experiência do diálogo. Saiamos de nossas casas e até de nossos templos e vamos ao encontro de nossos irmãos, irmãs, vizinhos e vizinhas. Ouçamos o que eles ou elas têm a contar sobre sua fé, sua vida, suas experiências e dúvidas. Celebremos juntos esta vivência plural do único amor de Deus!”

(Observação: as citações são todas retiradas do subsídio oferecido pelo CONIC)
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Enquanto esperamos sua vinda
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém (PA)


"Jesus, tendo ressuscitado na madrugada do primeiro dia depois do sábado, apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem tinha expulsado sete demônios. Ela foi anunciar o fato aos seguidores de Jesus, que estavam de luto e choravam. Quando ouviram que ele estava vivo e tinha sido visto por ela, não acreditaram. Depois disso, Jesus apareceu a dois deles, sob outra aparência, enquanto estavam indo para o campo. Eles contaram aos outros. Também não acreditaram nesses dois. Por fim, Jesus apareceu aos onze discípulos, enquanto estavam comendo. Ele os criticou pela falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado" (Mc 16, 9-14). Pouco depois, "foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte" (Mc 16, 19-20). Dali para frente, até que volte o Senhor, a força do Espírito Santo que logo lhes foi concedida conduz a Igreja ao anúncio da Boa Nova do Evangelho. Este é o tempo do Espírito e da esperança! Não há limites para o zelo missionário da Igreja, que deve alcançar todos os homens e mulheres de todos os povos, raças e línguas.

O que a Igreja e os cristãos devem levar em sua "mala de viagem" pelas estradas do mundo, a fim de dar a conhecer o nome de Jesus, enquanto esperamos a sua vinda? Em primeiro lugar, a experiência pessoal e comunitária do encontro com Jesus Cristo, de quem pode repetir, com Maria Madalena, que foi anunciar aos discípulos: "Eu vi o Senhor", e contou o que ele lhe tinha dito (Cf. Jo 20, 18). Mais do que muitas ideias, cabe-nos levar às outras pessoas o relato do que aconteceu conosco, na experiência concreta do encontro com o Ressuscitado, porque não dá para discutir o que é vivido!

Foi-nos dada e riqueza dos Sacramentos da Igreja, a partir do batismo! Na estrada, a força para não desanimar está na Eucaristia (Cf. 1Rs 19, 8), Pão do caminheiro. A unção do Espírito, recebida na Crisma, sustenta o ardor de quem se faz apóstolo da Boa Nova. Quando caímos, a misericórdia do Senhor se faz presente na graça da Reconciliação. A vida se faz serviço, no Matrimônio ou na Ordem. Na doença, a união com o mistério da Morte e da Ressurreição do Senhor se encontra no Sacramento da Unção dos Enfermos.

No alforje do cristão, há que se levar uma intensa vida de oração, com a linguagem do conhecido peregrino russo: "Pela graça de Deus sou cristão, mas pelas minhas ações sou um grande pecador. Fui à igreja para ali fazer minhas orações durante a liturgia. Estava sendo lida a primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses e, entre outras palavras, ouvi estas: "Orai incessantemente" (1Ts 5, 17). Foi esse texto que se inculcou em minha mente, e comecei a pensar como seria possível rezar incessantemente, já que um homem tem de se preocupar também com outras coisas a fim de ganhar a vida". O camponês foi de igreja em igreja, para ouvir sermões, mas não encontrou a resposta que queria. Finalmente, encontrou um santo homem de Deus que lhe disse: "A oração interior incessante é um anseio contínuo do espírito humano por Deus. Para sermos bem-sucedidos nesse exercício consolador, precisamos suplicar com mais frequência a Deus que nos ensine a rezar sem cessar. Rezar mais e rezar com mais fervor. É a própria oração que lhe revela como rezá-la sem cessar; mas leva algum tempo".

Então, o santo ensinou ao camponês a Oração de Jesus: "Senhor Jesus Cristo, tem misericórdia de mim". Enquanto viajava como peregrino pela Rússia, o camponês passou a repetir essa oração com os lábios. Até considerava a oração de Jesus sua companheira verdadeira. E, então, um dia, teve a sensação de que a oração passou sozinha de seus lábios para seu coração. Ele diz: "Parecia que, pulsando normalmente, meu coração começava a dizer as palavras da oração a cada batida. Desisti de dizer a oração com os lábios. Passei simplesmente a ouvir o que meu coração dizia" (Cf. "A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo - O Caminho do Coração" - por Henri J. M. Nouwen, Ed. Loyola, 2000).

A oração do peregrino busca sua fonte na Palavra de Deus, lida, meditada, rezada, acolhida na Liturgia e vivida. Cada cristão cultive a intimidade com a Palavra de Deus, crie o saudável hábito de lê-la diariamente. Muitas pessoas dedicam o tempo necessário a um capítulo da Escritura por dia. Ler, meditar, orar, contemplar, viver! É o roteiro diário do cristão, pelo que não pode faltar em sua casa a Bíblia pessoal, que acompanhe todos os passos dados.

Assim, sustentados, os cristãos assumem os ideais do Reino de Deus. Não se acomodam diante dos obstáculos, mas os transformam em estímulos, plataformas de lançamento para irem adiante, olhando para frente e para o alto. Nivelam a sua vida pelas coisas do alto (Cf. Cl 3, 1-2), batalhando por valores consistentes, com a coragem de caminhar contra a correnteza. Não cabe em sua vida adaptar-se para lucrar eventuais facilidades no trato com a mentalidade do tempo, ainda que devam estar prontos a servir e amar a todos, sem distinção. Com firmeza e equilíbrio, atraiam a todos pelo bem e não pela mediocridade.

Há uma forma dos cristãos se apresentarem, manifestando a originalidade de sua vida, enquanto caminham neste mundo e de se fortalecerem mutuamente nas dificuldades: "Nós, que somos do dia, estejamos sóbrios e revestidos com a couraça da fé e do amor, tendo a esperança da salvação como capacete. Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós, para que, acordados ou dormindo, vivamos unidos a ele. Por isso, confortai-vos e edificai-vos uns aos outros, como, aliás, já fazeis. Pedimos-vos, irmãos, que tenhais toda a consideração para com aqueles que se afadigam entre vós e, no Senhor, vos presidem e admoestam. Cercai-os de estima e de extremado amor, em razão do seu trabalho. Conservai a paz entre vós" (1 Ts 5, 8-12).

Quando alguém encontra o Senhor Jesus Cristo e a ele adere, muda seu modo de falar e de se expressar, pois nascem de seu coração palavras correspondentes à graça que lhe foi dada: "Agora, porém, rejeitai tudo isto: ira, furor, malvadeza, ultrajes, e não saia de vossa boca nenhuma palavra indecente; também não mintais uns aos outros, pois já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, o qual vai sendo sempre renovado à imagem do seu criador" (Cl 3, 8-10).

Até que o Senhor volte, dois polos de uma tensão positiva sustentam nossa vida: de um lado a Morte e Ressurreição do Senhor, com sua Ascensão e vinda do Espírito Santo. De outro lado a sua vinda gloriosa, na plenitude dos tempos. Vinde, Senhor Jesus!
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Mudanças nas crises
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)


As crises que se apresentam no horizonte da sociedade brasileira configuram-se em enormes desafios, um peso que incomoda. No entanto, é oportuno considerar a crise momento para se substituir dinâmicas e qualificar processos. É uma fase desafiadora e arriscada e os resultados podem ser benéficos ou prejudiciais, determinados pelos acertos ou equívocos nas decisões. As crises econômica, hídrica, moral, existencial e outras tantas que se apresentam recaem sobre o conjunto da sociedade e permeiam toda sua estrutura. Uma situação cheia de perigos, mas também com sementes fecundas de renovação.

Essa fase crítica gera desorientação, desconfiança e até desespero. Fragiliza as instituições e exige mais das instâncias governamentais no exercício da insubstituível tarefa de garantir o bem comum e o equilíbrio político. Mas, também, aciona o instinto de sobrevivência e a vontade de encontrar saídas. E mesmo quando se sabe que a solução de uma crise suscita outros problemas, que pode projetar novos quadros desafiadores, é imperativa a busca de soluções, conduta profundamente vinculada ao tecido da cultura de uma sociedade em crise. E a qualidade desse tecido é que permitirá uma reação compatível com os desafios postos. Nesse horizonte, a crise só pode ser enfrentada na medida que se entra num processo profundo de transformação. Ela se instaura exatamente quando funcionamentos se tornam obsoletos e há falta de respostas novas; porque cresce a lista de necessidades e se configura uma fragilização de processos variados em razão dos procedimentos comprometidos, como é o caso endêmico da corrupção.

Faz-se urgente priorizar dentre as respostas à crise, a aposta em uma profunda e radical mudança cultural. Sabemos que não é simples. Processos dessa natureza são demorados. Mesmo assim, é preciso investir em fórmulas eficazes na superação dos desafios. A resposta pode estar em novas soluções e em uma cultura mais solidificada pronta para enfrentar as novas crises, mas, também, aquelas que são permanentes. Como exemplo, é válido considerar a crise hídrica na sua exigência de providências técnicas e logísticas, como também a atitude simples e determinante de cada consumidor. Dentre as indicações práticas no enfrentamento dessa situação, aparecem necessidades como não se tomar banho demorado ou economizar água quando se escova os dentes. Tudo isso parece banal e muito doméstico para constar na pauta pública. Mas aqui é que se toca mais profundamente o tecido cultural de uma sociedade que ainda precisa aprender a discernir o limite entre economizar e esbanjar. Essa referência que até parece comum revela o quanto gestos, atitudes e escolhas que constituem a base do tecido cultural e o cotidiano da sociedade têm consistência ou operam em estado de emergência, de alarme, no seu papel de civilidade e autêntico sentido de cidadania. Em questão, portanto, está o comprometimento a compreensão de que é preciso investir, sobretudo, numa perspectiva de radicais mudanças culturais. Caso contrário, o conjunto da sociedade se constitui em condição de parasita, esperando que apenas instâncias governamentais e empresariais solucionem as crises. Às lideranças, cabe agir com a consciência do serviço, do dever de visar ao bem comum.

O enfrentamento da crise é frágil e não consegue incidir na realidade se não imprime a velocidade esperada aos processos. É alto o preço a se pagar pelos prejuízos causados pela morosidade e escolhas pouco inteligentes ou que desconsideram as razões humanísticas e humanitárias. E não menos graves são os danos provocados pela mesquinhez de indivíduos, grupos ou classes que viram as costas aos clamores da realidade e se recusam a gestos de desprendimento ou sacrifícios pelo bem comum. Esperam a superação da crise como resposta a interesses de confortos particulares e não como atendimento de demandas cidadãs.

Bem adverte o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica, A Alegria do Evangelho, sublinhando o prejuízo que traz essa cultura em que cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria, que dificulta a indispensável inserção de cada cidadão em um projeto comum que vá além dos benefícios e desejos pessoais. A grande crise, portanto, é cultural e seu enfrentamento só pode se dar com grandes mudanças culturais.

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Trabalhador modelo
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)


Tornou-se bastante comum na nossa sociedade escolher “modelos” para servirem de inspiração às pessoas. Os mais conhecidos são os homens e as mulheres que servem de “modelo” para desfilar as roupas que são fabricadas ou que servem para ilustrar as revistas de moda que ocupam generosos espaços nas prateleiras das livrarias e dos mercados. Mas temos também o “produtor modelo”, “estudante modelo”, “operário modelo” e “santo modelo”.

Não desmerecendo os outros, para os cristãos, o “trabalhador modelo” é São José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Sem fazer grande alarde, ele cumpriu com seu ofício de “pai provedor” na carpintaria de Nazaré. Foi lá que obteve os recursos para dar de comer à sua família e lhe dar vida decente. Foi também lá que introduziu Jesus no mundo do trabalho. É o que afirmou de forma sábia São João Paulo II na Exortação Apostólica Redemptoris custos: “Se a Família de Nazaré, na ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas, é-o analogicamente também o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro”. E, mais do que isso, foi “graças ao seu banco de trabalho, junto do qual exercitava o próprio ofício juntamente com Jesus, que José aproximou o trabalho humano do mistério da Redenção” (RC, 22).

Do tempo de São José até os dias de hoje o trabalho passou por muitas mudanças. A maior delas se deu, certamente, com a Revolução Industrial. O regime de trabalho mudou, assim como também mudaram os instrumentos usados para o trabalho. As novas tecnologias dificultam a percepção de uma relação entre o trabalho no tempo de Jesus e o trabalho no mundo atual. Continuamente corre-se o risco de transformar o trabalhador em simples peça de engrenagem, que pode ser descartado quando deixa de cumprir com sua função.

Na recente assembléia da CNBB, ao lançar um olhar sobre a conjuntura brasileira e, cientes de que não podemos calar “frente aos acontecimentos que interessam aos cidadãos”, publicamos uma Nota de alerta e convocação. Entre outras coisas, afirmamos que “a retomada de crescimento do País precisa ser feita sem trazer prejuízo à população, aos trabalhadores e principalmente aos mais pobres”. Alertamos que “a lei que permite a terceirização do trabalho, em tramitação no Congresso Nacional, não pode, em hipótese alguma, restringir os direitos dos trabalhadores. É inadmissível que a preservação dos direitos sociais venha a ser sacrificada para justificar a superação da crise”.

Aproveitemos, pois, as comemorações do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora para reafirmar a dignidade da pessoa humana. Unamo-nos na luta pela geração de novos empregos e na preservação dos direitos dos trabalhadores. Olhemos para São José e, assim como ele, façamos do trabalho o meio de nossa santificação pessoal.

Que Deus, por intermédio de São José Operário, abençoe os trabalhadores e as trabalhadoras.
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Ainda o trabalho!
Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)


O Primeiro de Maio continua sendo o Dia do Trabalho. Mesmo que as razões tenham sido esquecidas, ou nunca fossem conhecidas, o feriado permanece, testemunhando quanto o trabalho precisa estar no centro de nossas atenções, para garantir sua valorização.

Houve épocas em que a defesa do trabalho se constituiu em bandeira que precisou enfrentar muitas resistências, até garantir que o valor do trabalho fosse assegurado, e traduzido em primeiro lugar por sua justa remuneração.

Ao longo dos embates políticos, foi ficando claro que o trabalho não podia ficar exposto à precariedade dos interesses individuais. Foi emergindo a consciência da necessidade de implantar um aparato jurídico, que garantisse o valor do trabalho humano, reconhecendo sua importância social, mas sobretudo assegurando sua justa remuneração, seja quando o trabalho é feito de maneira autônoma, ou quando ele é alocado a serviço de quem o contrata.

Ao mesmo tempo, ficou evidente a necessidade dos trabalhadores serem os primeiros a garantir o valor do seu trabalho, unindo-se em torno das mesmas causas.

Para isto, foi necessário destroçar a falácia que proibia os trabalhadores de participarem de associações, alegando que cada um devia, “livremente”, fazer o contrato de trabalho com seu patrão, que também “livremente” impunha as condições que ele queria.

Esta era a tese do liberalismo, que no começo da revolução industrial presidia as mentalidades, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos. Sempre é bom ter presente que a revolução industrial coincidiu com o auge da ideologia liberal.

A revolução industrial foi desencadeada pela descoberta da máquina a vapor, por James Wattss, no ano de 1732. Foram tantas as aplicações práticas do domínio da força resultante do vapor, que transformaram rapidamente a economia, sobretudo as condições do trabalho humano, que passou a ser atropelado pela técnica. Tornou possível o domínio do ferro, que por sua vez necessitava do carvão, suscitando as grandes siderurgias, e tornando possível desenvolver o transporte em navios muito mais potentes, e em ferrovias que antes eram inconcebíveis.

Pois bem, o encanto dos novos aparatos técnicos, fez com que se desconhecesse o valor do trabalho humano, e a dignidade dos trabalhadores.

A reação contra a ideologia liberal foi lenta, pois precisava enfrentar os ventos contrários da nova dinâmica industrial que ia se implantando, esta sim, muito rapidamente.

Pois bem, estes breves acenos históricos se tornam oportunos no momento em que estamos vivendo, junto com um refluxo neo liberal, estratégias jurídicas que ameaçam anular os avanços legais da proteção do trabalho humano.

Ele precisa continuar sendo a “chave principal” de toda a questão social. A proteção legal do trabalho é sempre garantia de um mínimo de justiça social.

Os avanços jurídicos de proteção do trabalho precisam ser resguardados. Este o critério que deve presidir os debates que se travam agora no Congresso Nacional, sobre a terceirização do trabalho.

O que está em jogo é a defesa do valor e da dignidade do trabalho humano. Ele precisa sempre de proteção legal adequada, para não ficar exposto à sua exploração. É isto que os parlamentares deveriam compreender e garantir.
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Por dentro e por fora!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém (PA)


A Páscoa é celebrada durante as semanas que se seguem ao dia da Ressurreição do Senhor, nas quais procuramos conhecer mais os sacramentos, as orações e a própria vida da Igreja. Trata-se de um tesouro inesgotável, do qual desejamos continuamente haurir a seiva que sustenta a presença cristã no mundo. A fonte é sempre o Senhor Jesus Cristo, Cabeça do Corpo que é a Igreja, com sua graça comunicada a todos os cristãos. Nele fomos enxertados pelo Batismo, nele desejamos permanecer e produzir frutos (Cf. Jo 15, 1-8). A vida cristã é uma divina aventura, conduzida pela graça de Deus, a fim de que nós manifestemos visivelmente a obra que o Senhor realiza em nossas almas, fazendo a nossa parte na construção do Reino de Deus. Sim, a cada cristão, renascido nas fontes batismais, cabe a tarefa de desenvolver a vida divina que lhe foi concedida.

Começa por dentro, no cultivo daquilo que chamamos vida interior, através do cuidado com a semente de vida plantada por Deus em nosso coração. Vale uma pergunta a respeito das ocasiões em que cada pessoa se encontra sozinha, olhando no espelho da própria consciência, para verificar se estamos cuidando com carinho do que Deus mesmo plantou em nós. Como é a nossa oração pessoal? Como utilizamos o tempo livre? Para que exista coerência em nossa existência, há que se cuidar do lado de dentro, a ser continuamente examinado, com o que a Igreja chama de exame de consciência, feito no confronto o que Deus pensa para nós. É fácil perguntar o que penso sobre minha vida, até porque podemos ser juízes tendenciosos em causa própria! Muito mais exigente e libertador é deixar que a luz de Deus ilumine o recôndito de nossa alma. De fato, a Escritura ensina: "Feliz o homem a quem Deus corrige! Não rejeites, pois, a repreensão do Poderoso, porque ele fere, mas trata da ferida; golpeia, mas suas próprias mãos curam" (Jó 5, 17-18).

O cuidado com a vida interior pode contar com duas fontes preciosas, que se completam maravilhosamente. Trata-se da Palavra de Deus, lida, ouvida e praticada, e mais a vida de oração. Como estamos tratando de cristãos desejosos de aprofundar sua vivência pessoal da fé, vale para todos a insistência em rezar mais e rezar melhor. É escolher mesmo um tempo para rezar. A sabedoria da Igreja nos indica as orações da manhã e da noite, a leitura orante da Palavra de Deus, a participação na Eucaristia como ponto alto da semana, além do Rosário e as devoções pessoais, cultivadas com carinho. E a história dos santos nos legou pequenas flechas, dardos de amor dirigidos ao Senhor, chamados "jaculatórias", começando da invocação do nome de Jesus. Quantos "peregrinos" aprenderam a dizer "Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tem piedade de mim, que sou pecador", invocação repetida inúmeras vezes durante o dia, a chamada "Oração de Jesus". Impressionante é a força libertadora da memória que se enche de coisas boas, das quais a melhor é o cultivo da amizade com Deus! O que importa é nortear o programa de vida com escolhas claras, priorizando o que passa na frente, que é seguir a Jesus Cristo.

Toda planta frutífera vem a ser podada de tempo em tempo. Daí vem a magnífica afirmação do Senhor: "Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda" (Jo 15, 1-2). Como acontece com a parreira de uva, também nossa vida cristã precisa ser podada e purificada. "Nossos pais humanos nos corrigiam, como melhor lhes parecia, por um tempo passageiro; Deus, porém, nos corrige em vista do nosso bem, a fim de partilharmos a sua própria santidade. Na realidade, na hora em que é feita, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados" (Hb 12, 10-11). Certamente não é fácil suportar os golpes de cinzel do divino escultor, que quer esculpir em nós uma obra de arte. Algumas podas permitidas pelo Senhor, como o sofrimento, o cansaço, as tribulações, a perseguição ou as crises pessoais não nos façam perder a esperança.

E chega a nossa vida o tempo dos frutos (Mt 7, 17-12): "Pelos seus frutos os conhecereis". Nossa união com o tronco, de onde recebemos a seiva da graça, manifesta-se na caridade vivida, na atenção ao próximo, gestos e palavras correspondentes à fé professada. Não cabem na vida do cristão a insensibilidade diante do sofrimento, nem a desatenção com aquilo que ocorre ao nosso redor. Nos dias que correm dos desastres naturais noticiados, como o terrível terremoto no Nepal, passando pelos vulcões e outros fenômenos, chegamos aos problemas criados pelos homens e mulheres de nossa geração. Há poucos dias, os Bispos do Brasil, reunidos em sua 53ª Assembleia Geral, alertaram nosso povo para algumas das muitas mazelas que pedem o testemunho corajoso dos cristãos: "A corrupção, praga da sociedade e pecado grave que brada aos céus (Cf. Papa Francisco – O Rosto da Misericórdia, n. 19), está presente tanto em órgãos públicos quanto em instituições da sociedade. Combatê-la, de modo eficaz, com a consequente punição de corrompidos e corruptores, é dever do Estado. É imperativo recuperar uma cultura que prima pelos valores da honestidade e da retidão. Só assim se restaurará a justiça e se plantará, novamente, no coração do povo, a esperança de novos tempos, calcados na ética. A credibilidade política, perdida por causa da corrupção e da prática interesseira com que grande parte dos políticos exerce seu mandato, não pode ser recuperada ao preço da aprovação de leis que retiram direitos dos mais vulneráveis".

Nosso relacionamento com a família, o ambiente de trabalho e todos os níveis de contato com as pessoas e a sociedade devem transformar-se a partir de dentro do coração humano, para gerar uma nova cultura, aquela que o Papa Francisco chama de "cultura do encontro". O Papa se relaciona com os outros como pessoa que encontra pessoas e que coloca profundamente em jogo a sua vida e busca que seu interlocutor coloque em jogo a si mesmo. É uma metodologia muito pessoal e envolvente, manifesta seu carisma, sua capacidade de ir ao coração do outro e convidá-lo a dar passos, a colocar-se em caminho pelo bem da humanidade. No grande vinhedo do mundo, há alguém que sabe vir de dentro do coração de Deus para que a cultura do Evangelho se espalhe!
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Domingo: A Perpétua Páscoa
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)


Era o primeiro dia da semana quando Jesus ressuscitou. O Sábado, dia santificado para os judeus desde o tempo da criação, sétimo dia do descanso de Deus, foi para Cristo o dia do repouso silencioso no sepulcro, depois dos terrores da paixão acontecida na tarde de sexta-feira. Tudo estava, na verdade, recomeçando. Deus renovava todas as coisas, dava início a um novo tempo, vencia o poder do pecado e da morte, ressuscitando seu Filho único dado em sacrifício para a salvação de todos, qual novo Isaac. Ninguém poderia imaginar o milagre do Dies Domini! Nem os discípulos, nem as santas mulheres que vão ao sepulcro para encontrar um corpo morto a quem, ao menos, querem venerar com respeito e por saudade. Mas, naquele amanhecer do primeiro dia da semana, encontram o túmulo vazio, como vazio estava o universo quando Deus iniciou a obra da criação. O Senhor Ressuscitado lhes aparece vivo, fala como elas, envia-as com anunciadoras da nova realidade: Ele não permaneceu na morte, mas reina vivo.

À tarde daquele primeiro dia, Jesus miraculosamente se apresenta vivo aos discípulos no cenáculo, onde se encontravam de portas fechadas, por medo dos judeus que haviam matado cruelmente o Mestre. Nesta hora, o Senhor Ressuscitado, com o sopro de seu milagroso hálito, lhes oferece o Espírito Santo com três grandes dons: a paz, a misericórdia e a fé robustecida. Diz João que por três vezes, Jesus os saudou em sua língua materna com um Shalon Aleichem! (a paz esteja convosco). A paz é a vitória sobre o medo, pois o medo tira-nos a paz. A paz é a segurança da alma, pois é o resultado da certeza de que se está correto no pensar, nas escolhas, na fé professada. A paz é o efeito da convicção pura e forte de que Deus está presente e se assim é não há nada mais a temer, e nenhuma razão para desesperar.

A misericórdia é a expressão da suprema bondade de Deus que perdoa os pecados do humilde reconhecido de suas fraquezas e dos desejosos de recomeçar. O Ressuscitado, ao soprar sobre eles, concede-lhes o dom de perdoar e de serem perdoados. Quem é capaz de perdoar salva duas situações: a sua e a de quem é perdoado; e quem é capaz de pedir perdão, salva-se a si mesmo e a quem é sábio para perdoar. Eis o sentido do 2º Domingo da Páscoa ser chamado Domingo da Misericórdia, o dia do milagre do perdão.

Nada é mais animador para quem crê, que a existência do Sacramento da Confissão que tira o ser humano dos túmulos escuros do pecado e o introduz, só por bondade, na luz miraculosa da salvação, da tristeza de ter errado, para a alegria de ser reabilitado, mesmo sem merecimento. A absolvição sacramental é o milagre da ressurreição acontecendo no coração do pecador arrependido e disposto a iniciar tempo novo.

Tomé, não estando no primeiro domingo junto à comunidade, caiu no pecado da dúvida e no erro da desconfiança. Mas o senhor por misericórdia lhe aparece no domingo seguinte, quando novamente a comunidade está reunida. Agora o discípulo fraco de fé pode crer e dizer: Meu Senhor e Meu Deus, a mais bela profissão de fé.

A partir daquele primeiro domingo, o da ressurreição, os cristãos nunca mais pararam de se reunir dominicalmente. E só pode mesmo ver o Ressuscitado, abraçá-lo misticamente, receber sua misericórdia e o milagre estupendo da Eucaristia, quem está unido na comunidade do Ressuscitado.
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Aventuras do diálogo
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)


A referência ao diálogo como aventura, embora cause certo estranhamento, é algo a se considerar no estágio atual da situação sociopolítica, cultural e mesmo religiosa da sociedade brasileira. Cenários diversos revelam a dificuldade generalizada para se estabelecer diálogos. E o diálogo é condição sem a qual não se edifica a sociedade, particularmente a contemporânea, na sua constituição plural. Prejudica esse necessário processo de interação o enquadramento de pessoas e de situações que pode levar a arbitrariedades e a desrespeitos, criando, consequentemente, verdadeira anarquia.

As concepções monolíticas a respeito de situações plurais na política, na cultura e mesmo na vida religiosa provocam grande confusão. Evidentemente, é preciso observar certos parâmetros. Princípios éticos e valores inegociáveis devem sempre pautar as condutas. Porém, o diálogo só é exitoso quando se reconhece a pluralidade, compreendendo que ninguém é dono da verdade. O respeito ao outro e às diferenças são condições para se avançar em discernimentos e, assim, fazer escolhas acertadas, corrigir rumos e alcançar novas respostas. Só o diálogo e a capacidade de dialogar revelam e comprovam a envergadura moral e cidadã.

Uma das mais terríveis crises da sociedade brasileira é a generalizada incompetência para o diálogo entre instituições, grupos e pessoas. Para complicar esse quadro desafiador, aparecem os oportunistas e também aqueles que buscam travar as possibilidades do intercâmbio de ideias e opiniões. Prenúncio para radicalismos e outras perdas no necessário processo de se reconstruir a nação. Para superar a falta generalizada de diálogo, são necessários exercícios que alarguem corações e mentes, que iluminem visões capazes de contribuir para o enfrentamento dos muitos problemas que se abatem sobre a sociedade.

O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, fala sobre a crise do compromisso comunitário. O enfrentamento desse problema, com respostas assertivas, é que pode permitir o revigoramento da cidadania, em vista de uma nação civilizada, estabelecida nos trilhos da igualdade social, da justiça e da participação de todos. A solução não é simples e demanda mais que análises de caráter sociológico ou político. É necessário ultrapassar a defesa egoísta dos próprios interesses, de pequenos grupos ou classes, para empreender esforços e garantir soluções que gerem benefícios para a coletividade.

Essa nova postura é que possibilita um processo de interpretação de fatos e de acontecimentos capaz de suscitar nos corações o desejo e a prática do diálogo. Urgente é considerar os rápidos processos de desumanização em curso, muitos deles até com consequências irreversíveis. Uma conta a ser paga no restante da história desta sociedade que acata e acelera esses processos. Em vez de se defender interesses partidários ou de poucos, é preciso considerar os descompassos do mundo contemporâneo. Enormes avanços e conquistas, progressos científicos e inovações tecnológicas contracenam com a violência, a miséria e o medo.

É irracional aguçar a simples defesa de interesses particulares e não percorrer a circularidade existencial, exercício indispensável para conseguir ver a partir do lugar do outro, especialmente de quem é mais pobre. A sensibilidade necessária para enxergar além do que é particular constitui condição para abrir-se ao diálogo. Exercitar esse discernimento possibilita reconhecer que todos partilham a mesma estatura e merecem respeito. Assim, é possível o diálogo, caminho para superar a mesquinhez e a indiferença que alimentam, entre outros males, o desarvorado desejo de se acumular dinheiro e poder, verdadeira porta para a corrupção.

Para promover a abertura ao diálogo, em todos os níveis, na sociedade brasileira, vale a pena começar por dizer “não”, como ressalta o Papa Francisco, conselheiro admirável, na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: Não a uma economia da exclusão, pela superação da globalização da indiferença; não à nova idolatria do dinheiro, pelo reconhecimento de que a crise econômica é, acima de tudo, antropológica, pois é desconsiderado o primado da pessoa humana; não à desigualdade vergonhosa, fonte de violência, pois é necessária uma profunda reforma que inclua mais simplicidade nos gestos de ricos, que precisam ajudar os pobres. É preciso reduzir distâncias, aproximar do outro, para que se possa construir um futuro melhor. Essa tarefa tem dinâmica própria, que desafia a sociedade brasileira a entrar nas aventuras do diálogo.
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A CNBB e a Reforma Política
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida (SP)
Presidente da CNBB


A reforma política, um dos itens mais citados na pauta das manifestações populares realizadas no País desde 2013, é uma necessidade urgente.

No documento “Por uma reforma do Estado com participação democrática”, a CNBB, em 2010, já apontava alguns dos graves motivos que justificam a necessidade da reforma política: “as crises consecutivas nas casas legislativas em todos os níveis da Federação, os escândalos que se sucedem nos executivos em suas relações com o capital privado e nas suas relações nada republicanas com os legislativos pertinentes” (doc. 91 da CNBB, 100). O documento defende a participação “de todas as instâncias da cidadania” no processo da reforma política e sugere “alguns eixos básicos para nortear a definição das propostas”.

Tendo concluído, após debates internos, que, ao consenso da inadiável necessidade da reforma, somava-se, na sociedade brasileira, o mais forte dissenso sobre como fazê-la e que pontos considerar, e entendendo que só a mobilização popular poderia lograr êxito no propósito da desejada reforma política, a CNBB uniu-se à OAB, ao Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e à Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político e decidiu convidar, em agosto de 2013, várias entidades para discutir uma proposta a ser apresentada ao Congresso Nacional por meio de um projeto de lei de iniciativa popular. Nascia, ali, a Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, que hoje reúne mais de cem entidades.

A diversidade das propostas analisadas exigiu muito discernimento e diálogo entre as entidades da Coalização, que, ao final dos debates, entraram em consenso em torno de quatro pontos: a proibição do financiamento de campanhas por empresas; a adoção do voto proporcional em dois turnos, denominado voto transparente; a alternância de homens e mulheres nas listas de candidatos e o fortalecimento da democracia mediante a regulamentação do artigo 14, caput, da Constituição Federal, que trata das formas como é exercida a soberania popular. Das reuniões, resultou a elaboração de um projeto de lei de iniciativa popular que detalha cada um desses pontos (www.reformapoliticademocratica.com.br).

O projeto recebeu o endosso da 52ª Assembleia Geral da CNBB, em maio de 2014, com a aprovação do documento “Pensando o Brasil”. Por iniciativa da Coalizão, o Projeto (PL 6316/2013), foi apresentado, mediante subscrição de parlamentares de diversos partidos, à Câmara dos Deputados, onde tramita desde agosto de 2013. Para apoiá-lo, está-se realizando a coleta de 1,5 milhão de assinaturas de eleitores, providência fundamental para pressionar o Congresso a votar mais esta proposta de iniciativa popular.

Ao declarar seu apoio ao Projeto, a CNBB o faz com a consciência de que é dever da Igreja cooperar com a sociedade para a construção do bem comum, conservando a autonomia e independência que a caracterizam em relação à comunidade política, como lembra o Concílio Vaticano II (GS 76). Se à Igreja não cabe assumir a responsabilidade da organização política da sociedade nem colocar-se no lugar do Estado, como nos recorda Bento XVI, tampouco pode ela ficar alheia à luta pela justiça. “Toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem” (Deus Caritas Est, 28).

A CNBB acredita que, para levar a bom termo um empreendimento tão amplo e complexo como a reforma política, é preciso juntar esforços e superar os radicalismos e as ideias preconcebidas que obstruem a via do diálogo e impedem o aperfeiçoamento da democracia. Considera saudável, tanto para o mundo político quanto para a Igreja, o pluralismo que marca a sociedade democrática na qual vivemos: ele favorece o diálogo, o debate respeitoso e a busca de harmonia nas diferenças. Por isso, quanto ao projeto que tem o seu apoio, a CNBB se declara aberta ao debate e reitera profundo respeito à pluralidade que enriquece a sociedade brasileira.
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50 anos de Concílio e CNBB
Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)


A CNBB está em assembleia. É a sua 53ª, numa história de 63 anos. Se alguém perguntar por que os números não coincidem, a razão está no fato de que, nos seus primeiros anos, a CNBB fazia suas assembleias de dois em dois anos.

Esta que está agora se realizando quer assinalar uma data muito significativa: os 50 anos da conclusão do Concílio Vaticano II.

Só para recordar os passos do Concílio que veio mexer com toda a Igreja em pleno século vinte, ele foi anunciado pelo Papa João 23, em 25 de janeiro de 1959, foi convocado oficialmente no Natal de 1961, foi inaugurado no dia 11 de outubro de 1962, e se desdobrou em quatro sessões anuais, tendo encerrado oficialmente seus trabalhos no dia 08 de dezembro de 1965.

Estamos, portanto, no ano em que se comemoram os 50 anos da conclusão do maior evento da Igreja Católica nos últimos séculos, cujas consequências ainda não se esgotaram.

De fato, o Concílio permanece como referência indispensável para situar hoje tudo o que acontece dentro da Igreja. E poderíamos alargar os horizontes, para perceber que o Concílio criou um novo marco também no relacionamento com as outras Igrejas cristãs, e também com a sociedade.

Foi a partir do Concílio que a Igreja foi colocando em prática a grande intuição de João 23, de fazer um “aggiornamento” – palavra que ele gostava de usar – isto é, uma renovação profunda da Igreja, para que ela pudesse se situar no mundo de hoje, com quem ela deseja dialogar e contribuir para a aproximação entre nações e as culturas do nosso tempo.

A CNBB dedicou, na verdade, suas quatro últimas assembleias para lembrar o Concílio, assumindo o ritmo que o próprio Concílio imprimiu, com suas sessões anuais.

Com a eleição do Papa Francisco, os ideais e as propostas do Concílio retomaram novo impulso, de maneira surpreendente. Pois não só ele se inspira em seus documentos, mas encontra maneiras de mostrar como a Igreja pode integrar em sua vida prática as grandes intuições do Concílio.

Agora, contando com o referencial teórico do Concílio já consolidado, depois de 50 anos de sua implementação, e contando com os insistentes apelos do Papa Francisco, que deseja uma Igreja aberta, que saia às ruas, e vá ao encontro das pessoas, a CNBB tem uma indicação muito clara para ser traduzida em “diretrizes pastorais”, como ela pretende oficialmente fazer nesta assembleia.

Portanto, finalmente, daria para dizer que a Igreja Católica está em estado de “pós concílio”. Mesmo constatando que muitas das intuições comportam ainda outras iniciativas de renovação, que não encontraram ainda ambiente favorável para serem atuadas.

Perguntado um dia sobre quais seriam os desafios pós conciliares da Igreja, o Cardeal Martini resumiu as urgências em três grandes pontos. A Igreja deveria retomar o amplo processo de “inculturação” do Evangelho, que ela soube muito bem fazer nos primeiros séculos no império romano. Em segundo lugar, deveria empreender, de vez, uma aproximação com as outras denominações cristãs, para acabar de vez com a desunião entre os cristãos. E internamente, a Igreja deveria empreender uma ampla renovação dos seus ministérios, desde o ministério do papa até os ministérios leigos.

Nas três direções apontadas, a Igreja ainda tem o que fazer! Em todo o caso, continuando sua prática dos gestos simbólicos, para dizer que agora nós partimos do Concílio, ele convocou um “ano santo extraordinário da misericórdia”, a iniciar no próximo dia 08 de dezembro. Se alguém perguntar pela data, devemos logo apontar para o Concílio. Ele se encerrou no dia 08 de dezembro de 1965. Ele continua inspirando as grandes iniciativas da Igreja. Também o seu novo “ano da misericórdia”. Tudo em decorrência do Concílio!
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Misericórdia Divina
Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)


No segundo domingo da Páscoa, conhecido também como “Domingo Branco”, muitas pessoas recordam o dia da sua Primeira Comunhão, ou da sua Comunhão Solene. Isso porque, em anos idos, era neste dia que se celebrava, preferencialmente, a primeira comunhão das crianças. Era uma bonita forma ligar a Eucaristia à Páscoa, completando, desta forma a alegria pela ressurreição de Jesus.

Também no segundo domingo da Páscoa a Igreja celebra a Misericórdia Divina, convidando-nos a nos aproximarmos de Deus sem medo de sermos menosprezados ou rejeitados. É um ensino bastante diferente daquilo que muitos de nós aprendemos na infância, quando éramos alertados a ter medo de Deus porque Ele nos iria castigar pelos pecados cometidos. Aliás, ainda hoje é comum escutar a afirmação de que “Deus não mata, mas castiga”.

A motivação para colocar o segundo domingo da Páscoa como o Domingo da Divina Misericórdia, encontra amparo na consciência de que “foi na ressurreição que o Filho de Deus experimentou de modo radical a misericórdia do Pai, que é mais forte do que a morte” (João Paulo II, Carta Encíclica Dives in Misericordia). Depois de ter passado pela dor do abandono e pela morte na cruz, “Cristo revelou o Deus do amor misericordioso, precisamente porque aceitou a Cruz como caminho para a ressurreição”. A experiência que o próprio Cristo fez da misericórdia do Pai, levou-o a nos ensinar que Deus é Pai de Misericórdia, que vai ao encontro do filho que o havia abandonado cobrindo-o de beijos, conforme nos ensina a parábola do Pai de Misericórdia, também conhecida como Parábola do Filho Pródigo (Lc 15,11-32).

Enquanto nos debruçamos sobre a misericórdia divina, somos também desafiados a fazermos da misericórdia uma das nossas virtudes cotidianas. João Paulo II dizia que “a mentalidade contemporânea tende a tirar do coração humano a idéia da misericórdia”. Em seu lugar, prefere a palavra “justiça”, que muitas vezes é usada como sinônimo de “vingança”. É o que se percebe em algumas manifestações populares onde a racionalidade cede lugar ao ódio.

João Paulo II prega que “o amor se transforma em misericórdia quando vai além da norma exata da justiça; norma precisa e, muitas vezes, por demais restrita”. É o que Jesus propõe ao dizer que são “felizes os misericordiosos” porque também eles “encontrarão misericórdia” (Mt 5,7).

Faço votos que nos abramos à misericórdia de Deus e acolhamos o dom da paz que nos é almejado pelo Ressuscitado. Ao mesmo tempo convido a nos empenharmos a também sermos misericordiosos e promotores da paz.
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Em busca de alegria
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)


“Este é o dia que o Senhor fez para nós, exultemos e nele alegremo-nos!” Esta é a antífona que emoldura os cinquenta dias do Tempo da Páscoa, a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, da luz sobre as trevas, por que Cristo Jesus passa pela paixão, morte e ressuscita. Eis uma referência que, certamente, pode soar de modo estranho em ambientes que ultrapassam os limiares das igrejas cristãs. Porém, trata-se de uma compreensão que pode garantir ao coração humano o que se procura tão intensamente: a alegria. É importante não confundir alegria com satisfação, que remete a uma sensação passageira. A satisfação, muitas vezes, é transformada em necessidade pela dinâmica da cultura contemporânea e, assim, converte-se na extenuante busca de “coisas e circunstâncias” que produzem, momentaneamente, apenas o prazer da alegria.

Essa busca alimentada e produzida como necessidade impede que o ser humano encontre a alegria que dura. A consequência é uma desarvorada procura, de maneira cega, que produz absurdos, perversidades e esvaziamentos. Na busca equivocada pela alegria, volta-se, repetidamente, ao ponto de partida. Isso gera permanente insatisfação, que produz loucuras e irracionalidades revestidas de arbitrariedades. É reforçado, por exemplo, o caráter dominador do dinheiro, patrocinador do impulso de se querer e tentar encontrar a alegria em coisas, em situações meramente prazerosas, em posses. É um erro entender que a alegria necessária está na superficialidade do que dá prazer. Nesse equívoco, a humanidade se afunda numa lógica perversa de disputas e de perda da essencialidade, do sentido da verdade e do bem. Ser alegre se torna uma louca aventura que custa alto preço, produz sérios prejuízos.

O Tempo da Páscoa é o anúncio e o convite para que se tome consciência e se torne experiência a busca pela fonte da verdadeira alegria. Essa fonte não é um “ajuntamento” de coisas produtoras de satisfações passageiras e superficiais. É a pessoa de Cristo Ressuscitado. Não são coisas que garantem a conquista da alegria. O caminho que perpassa a humanidade é desenhado e percorrido pelo Filho de Deus, Salvador e Redentor, o homem perfeito que assume sobre si as dores, dissabores e esvaziamentos da condição humana e os transformam por sua paixão, morte e ressurreição vitoriosa. Ele, Cristo, portanto, é o ponto referencial de encontro, iluminando e dando sentido a todos os outros encontros. O Mestre redimensiona tudo e garante as condições para que se busque e se encontre a alegria verdadeira.

O Tempo Pascal é oportunidade para que se compreenda, pela claridade da razão e pela singularidade do amor, o que concluiu Santo Agostinho, ao refletir sobre os equívocos que cometeu na busca desarvorada pela felicidade. Dirigindo-se a Deus, o Santo de Hipona diz, enfaticamente: “A vida feliz consiste em nos alegrarmos em Vós, de Vós e por Vós. Eis a vida feliz e não há outra. Os que julgam que existe outra, apegam-se a uma alegria que não é a verdadeira”. A alegria que nasce do encontro com Deus é terapêutica, pois a tristeza infinita que dizima o coração humano só se cura com um amor infinito. Põe-se o desafio de uma experiência pessoal de encontro com Cristo para saborear a sua amizade e a sua mensagem. Eis o caminho para configurar a busca da alegria verdadeira, que ultrapassa as satisfações momentâneas e contentamentos passageiros.

A lógica da alegria que se sustenta no encontro com Cristo Ressuscitado, sem medo de estar próximo de suas chagas e sofrimentos, que são também dores da humanidade, capacita o coração para não se acovardar diante do drama humano. Essa lógica permite avanços nas relações e uma compreensão alicerçada na alegria que dura. É antídoto para a ganância que envenena, para a indiferença que corrói e empurra a sociedade na direção de um lento suicídio, encoberto por tudo o que apenas contenta e dá prazer fugaz. A alegria verdadeira e que dura é encontrada quando se comprova que não se vive melhor ao fugir do outro, por negar-se a partilhar e por fechar-se em comodidades. O Tempo Pascal é para exercitar o coração e a inteligência em busca da alegria.
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Surpresas
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


A vida cristã passa de novidade em novidade, já que Deus não se repete e tem a oferecer a infinita criatividade do amor, com a qual aponta a bússola de nossa existência para a plenitude da eternidade. Tudo isso se encontra presente na grande virada de página da história, quando a escuridão, a morte e o pecado foram definitivamente vencidos pela Ressurreição de Jesus Cristo. Daí para frente, trata-se de anunciar a todos esta realidade e tirar todas as consequências para a vida das pessoas. Esta convicção faz com que o zelo missionário da Igreja busque os métodos adequados a cada tempo, a fim de que todas as pessoas acolham a Boa Notícia do senhorio de Jesus Cristo.

Cristo ressuscitou! Ressuscitou de verdade! É a experiência feita pelos cristãos de todos os tempos, no rastro da recomendação feita por São Paulo ao seu amigo Timóteo, "Diante de Deus e do Cristo Jesus que vai julgar os vivos e os mortos, eu te peço com insistência, pela manifestação de Cristo e por seu reinado: proclama a Palavra, insiste oportuna ou inoportunamente, convence, repreende, exorta, com toda a paciência e com a preocupação de ensinar. Pois vai chegar um tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina, mas conforme seu gosto se cercarão de uma série de mestres que só atiçam o ouvido. E assim, deixando de ouvir a verdade, eles se desviarão para as fábulas. Tu, porém, vigia em tudo, suporta as provações, faze o trabalho de um evangelizador, desempenha bem o teu ministério" (2 Tm 4, 1-5).

Já no "primeiro dia da semana", tudo começou a ficar diferente, pois o Ressuscitado se manifestou de várias formas. Uma verdadeira revolução aconteceu na vida das pessoas que o encontraram, bastando verificar suas reações. Se para alguns pareceu um jardineiro (Cf. Jo 20, 11-18), para outros um andarilho (Cf. Lc 24, 13-35) um pescador desconhecido, capaz de preparar pão e peixe para acolher amigos (Cf. Jo 21, 1-14), ou até um fantasma (Cf. Lc 24, 35-48), uma das narrativas oferecidas por São João (Cf. 20, 19-31) descreve de forma magnífica as surpresas e descobertas daquele grupo temeroso, destinado pela Providência divina a assumir a imensa tarefa do anúncio do nome de Jesus Cristo.

O ambiente era de medo! Medo dos que haviam conduzido Jesus à morte, medo das ameaças que pairavam sobre eles mesmos, insegurança total. A surpresa inicial foi que Jesus se mostrou vivo e passou pelas portas fechadas. É que todas as portas são escancaradas a partir da Ressurreição do Senhor. Não há mais problemas sem solução, nem barreiras intransponíveis. Quem se abriga debaixo dos braços da Cruz e depois faz o caminho dali para o Cenáculo das aparições do Cristo ressuscitado, vence a escuridão, o pavor da vida e dos desafios que possa oferecer.

A seguir, para aqueles homens e com eles as sucessivas gerações de cristãos vem o anúncio da paz! A humanidade desde sempre e até hoje se acostumou a enfrentar seus eventuais conflitos com violência, negociação trabalhosa, acordos muitas vezes frágeis, preparação para a guerra, ameaças e riscos para todas as partes envolvidas. E vem alguém que repetidamente diz "A paz esteja convosco". Parece fácil! No entanto, a paz é anunciada e tornada presente, diante de olhos atônitos, através das chagas gloriosas abertas e mostradas com clareza. A surpresa é que justamente quando alguém entra lá dentro das chagas existentes na vida e na humanidade, e o faz com o mesmo amor que jorra da Cruz de Cristo, brota também em sua vida e no mundo a paz (Cf. Jo 7, 38-39). Andaremos inquietos e infelizes enquanto não tivermos a coragem de olhar o mundo e as pessoas do lado de dentro das chagas de Cristo, e isso quer dizer olhar com amor. Nele se encontra nossa paz e a paz para o mundo.

Surpresa! Como na criação do mundo Deus soprou sobre a matéria inerte seu hálito de vida, a nova criação realizada na morte e ressurreição de Cristo só pode vir com o sopro do Espírito Santo! Vem de fora, do alto, como dom de Deus! E todas as pretensões humanas de vencer por própria conta, dar mil palpites sobre tudo, caem por terra e se abre o tempo do Espírito Santo, dom do Cristo Ressuscitado. Quem se deixa "soprar" com o hálito do Ressuscitado (Cf. Jo 3, 1-8) nasce de novo, começa sempre de novo, com a inesgotável coragem nascida da Páscoa de Cristo.

E ao soprar sobre seus discípulos, Jesus lhes entrega um poder que sara todas as feridas do mundo, o do perdão: "Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos" (Jo 20, 22-23). Justiceiros de plantão ficam desempregados, ardores de vingança se apagam, contas a pagar são canceladas e nasce o abraço da reconciliação! Tudo com um sopro! Perdão quer dizer superar julgamentos e não desistir dos outros nem de nós mesmos. Perdão é considerar mais importante a pessoa que caiu do que suas eventuais falhas e pecados. Perdão é acolher com um novo olhar as fragilidades uns dos outros. Numa palavra, perdão é misericórdia, coração apaixonado pela miséria das pessoas e do mundo! Neste final de semana, a Igreja celebra justamente a Festa da Divina Misericórdia! E o Papa Francisco publica a convocação do Ano Santo da Misericórdia, Jubileu especial para espalhar o perdão, a ser celebrado a partir da Solenidade da Imaculada Conceição de 2015!

Os detalhes da experiência feita pelos apóstolos não se esgotam, pois um deles, Tomé, homem ao mesmo tempo da dúvida e da fé, entrou em cena em nosso nome e conosco, para garantir o nosso assento na festa da misericórdia e do perdão. Nosso convite e o "bilhete" gratuito de entrada tem escrito assim: "Bem-aventurados os que não viram, e creram!" (Jo 20, 29). Sintamo-nos acolhidos, com todas as nossas cargas pessoais sobre os ombros. Venham conosco as situações sociais nas quais nos envolvemos, os pesos de uma sociedade marcada pelas cobranças recíprocas, para a qual perdão e misericórdia significam fraqueza. Se tivermos a coragem de fazer a experiência da presença do Cristo Ressuscitado, seremos uns para os outros e para o mundo as surpresas de Deus.

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O Senhor ressuscitou e caminha diante de nós, Aleluia!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)


A Páscoa é o Novo e definitivo Êxodo para a comunhão e a ternura do Pai, a vitória plena do seu projeto de vida abundante para todos os seus filhos/as. Quem se encontra com o Ressuscitado não pode ficar mais calado e medroso pois somos inundados pelo esplendor da sua nova presença. O velho fermento da divisão e da injustiça ficou para trás, somos novas criaturas convidadas para a dança jovial de todos os povos e seres animados da terra.

Tudo pode mudar, um mundo novo é possível e desejável, pois o Cristo Ressurgido tem poder para tornar novas todas as coisas. Chegou a hora de celebrar e viver novos relacionamentos, gerar novas estruturas mais leves e funcionais para que todos participem, enxugar as lágrimas de tantos mantidos no cativeiro da miséria e da opressão. Com Maria Madalena queremos animar e motivar a todos os cristãos ainda paralisados com a morte de Cristo na cultura materialista e laicista atual.

Com Pedro e João vamos correndo para o túmulo vazio, abrindo os corações para a nova realidade do Cristo vivo e soerguido entre nós. Com os discípulos de Emaús descobriremos que a partilha do pão com o Senhor, é compromisso e projeto de missão, para inspirar no mundo, a condivisão fraterna dos bens.

Com todos os Apóstolos sairemos da toca e derrubando as portas do medo e da tibieza, seremos a Igreja em processo de saída que o Papa Francisco almeja, destemida, profética e corajosa.Com Maria Santíssima nossa querida Mãe, tornaremos a Igreja um cenáculo cheio de alegria, abertura e serviço solidário aos pequenos e os mais pobres. Não nos conformemos mais com a velha ordem das coisas, a luz do ressuscitado é forte demais, para ficarmos nas trevas do egoísmo e da escuridão da indiferença, que sejamos como afirmava Dom Guerarguer aleluias pascais dos pés a cabeça fazendo ressoar como testemunhas íntegras e verdadeiras a maior notícia e o mais grandioso acontecimento da história humana: Cristo Ressuscitou, honra e glória! Deus seja louvado!
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Tempo de Páscoa
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


Com o domingo da Páscoa iniciamos a oitava da páscoa (oito dias de festa solene) e também o tempo pascal (cinquenta dias). Tempo de celebrarmos a certeza da vida nova em Cristo Jesus Ressuscitado.

O tempo pascal é da primavera espiritual, são os cinquenta dias – da Páscoa a Pentecostes – e que se revestem de alegria profunda e verdadeira os nossos corações, cume e fundamento de todo o Ano Litúrgico.

Tempo Pascal, momento de recordar e oferecer a todos os fiéis, às comunidades cristãs e à Igreja inteira a grande oportunidade de tomar maior consciência e de melhor integrar, na existência do dia a dia, esta dimensão fundamental da fé: Ressurreição! Páscoa! Vitória! Três palavras que dizem muita coisa a todos os fiéis cristãos, mas também podem expressar lindos sentimentos às pessoas de boa vontade e, a partir deles, possivelmente levem a algumas atitudes positivas.

Unidos ao Senhor na difícil caminhada deste mundo, reacendemos a luz da fé e aquecemos o nosso coração com o carinho de Jesus Cristo, o Homem-Deus. Tal calor e luz que muitas vezes ameaçam apagar-se e esfriar-se, nós, no entanto, fortalecemos a esperança, aprofundamos a caridade, que é o selo da perfeição. Tempo de esperança alicerçada na Ressurreição do Senhor! Jamais desanimar! A vitória de Cristo já é, irrevogavelmente, a nossa Vitória! Vitória da graça sobre o pecado e a inauguração de um novo tempo, tempo de graça, de santidade, de vida, vida plena e vida eterna. Tempo de esperança e tempo de paz no Senhor Ressuscitado!

Neste Tempo de Páscoa todas as primeiras leituras são extraídas do Livro dos Atos dos Apóstolos, uma espécie de crônicas da Igreja Apostólica, e são um convite às nossas comunidades a escuta do Espírito, e que estas deem também testemunho vivo e sejam audaciosas em sua missionariedade. Neste Ano B, as segundas leituras são extraídas da Carta de São João, quando se retoma temas fundamentais de nossa vida eclesial. Estamos em comunhão com Deus pela fé e pelo amor. Já o Evangelho são todos do quarto Evangelista, exceto o terceiro domingo, que é retirado de São Lucas.

Cada domingo é um viver a Páscoa do Senhor! O segundo domingo é o da Misericórdia, que neste ano nos prepara para o grande Ano Santo da Misericórdia. Às vésperas deste domingo iremos ouvir a Bula de Convocação do Ano do Jubileu. Tempo de graça e paz! No terceiro, O reconhecemos na fração do pão, pois Ele está no meio de nós e nos convida a estar em caminho com nossos irmãos cansados e desanimados. Em seguida temos o Domingo do Bom Pastor, dia da Jornada Mundial de Orações pelas Vocações de Especial Consagração. No quinto, a caridade fraterna, amor que une todos os fiéis e se tornará sinal de reconhecimento do amor com que Cristo nos ama. No sexto domingo temos a promessa de Jesus: ‘eis que enviarei outro paráclito’, princípio da vida pascal da Igreja e de todo cristão. A liturgia já nos prepara para o final do tempo pascal e para celebrarmos as festas a caminho de Pentecostes. No sétimo temos a Ascensão, que é também o Dia Mundial das Comunicações sociais, neste ano com o tema de comunicar a família. Daí começa a semana de preparação de Pentecostes e vive-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. No último temos Pentecostes, que é a plenitude da Páscoa de Cristo por meio da Igreja, precedido de uma vigília.

Tempo este muito especial, em que entendemos que Páscoa não se explica, mas se crê e se vivencia este grande milagre que só a fé é capaz de assimilar: milagre da nova criação nesse Dies Domini. Eis um renascer de homens e mulheres novos, livres de todo tipo de escravidão, livres para amar de verdade e na Verdade. Por meio deste itinerário das leituras de cada domingo descobrimos e contemplamos a inesgotável riqueza do mistério central da fé cristã, para que aos poucos possamos mais perfeitamente vivê-los no nosso cotidiano.

Celebrar a Santa Missa neste tempo é reconhecer as manifestações de Jesus Ressurrecto, quando cada um de nós, discípulos missionários, somos enviados pelo Pai para sermos também manifestações vivas dentro do povo sacerdotal. Enfim, celebrando o dom da vida, elevemos a Deus, o autor e restaurador da vida plena, na nova vida eterna, graças pelo dom da nossa vida, para que, configurados pela ressurreição do Salvador, possamos ser testemunho desta luz brilhante que é o Senhor Ressuscitado! Amém. Aleluia!

Vivamos com intensidade o Tempo Pascal e façamos da nossa vida uma vida Eucarística, de permanente Aleluia!
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Páscoa: felicidade total!
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Amparo (SP)


Após percorrer o itinerário quaresmal e a semana santa, chegamos ao cimo do monte e aí está Jesus vitorioso. Ele nos precede na sua vitória total sobre o pecado e seu fruto: a morte. Na liturgia que celebramos ouvimos o insistente convite: alegrai-vos! É possível? Temos motivos para nos alegrar em meio a tantos dramas e tragédias do dia a dia?

Muitos de nós somos levados a pensar que nossa fé se opõe à felicidade. A cultura moderna nasceu com a suspeita de que Deus se opõe à felicidade do homem. Mas isto não é verdade. Ninguém é mais feliz do que aquele que segue Jesus de verdade ou seja, o cristão autêntico. Jesus ressuscitado se apresenta como o amigo da felicidade. Esta felicidade que todos buscam sem crerem, muitas vezes, se é possível alcança-la de realmente.

Neste dia em que celebramos a páscoa de Jesus que é certeza também da nossa páscoa, não basta para nós saber que a felicidade eterna está garantida, após passar pelas sombras da morte. Páscoa é também certeza de que esta vitória sobre a morte já começa aqui, no hoje, no agora do meu dia a adia; E vai num crescendo até atingir seu ápice, passando pela morte e saindo do outro lado, imersos na luz de Cristo: vitória total da vida que se torna eterna.

Só podemos levar Jesus a sério se nos convencermos de que Ele e a prática de sua palavra, nos proporcionam o que nos falta para encontrar a felicidade verdadeira. E Jesus nos ensina que a felicidade não é algo fabricado por nós mesmos, mas é um presente de Deus, a felicidade provém de Deus, deste Deus que se revela em Jesus Cristo como amor misericordioso. Amor misericordioso que vence tudo e nos dá a vida plena com a qual sonhamos.

Jesus Cristo ressuscitado pode proporcionar a felicidade, não o bem estar e contentamento, o prazer e a saciedade que muitos buscam, no lugar da felicidade que é chamada de paz na linguagem bíblica. A paz que vem de Deus e que Jesus nos dá. O que Jesus anunciou e que se realiza plenamente na páscoa, é uma plenitude de verdade, de vida e de paz que se encontra no coração das pessoas. Pessoas que escolheram deixar que Deus reine em suas vidas, no percurso da existência terrena. Isto as leva à plenitude do encontro com Deus no último dia, quando a liberdade será total para sempre.

Para entendermos e viver plenamente a páscoa devemos partir do que Jesus ensinou: “Buscai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). Nós buscamos a felicidade plena através da felicidade provisória do dia a dia, proporcionada por nossa fé assumida e praticada. A felicidade do presente é semente e germe da felicidade futura que será plena. FELIZ PÁSCOA!
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A grande semana
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


"A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso, grande bem para o homem, traz também consigo uma enorme tentação. De fato, quando a hierarquia de valores é alterada e o bem e o mal se misturam, os indivíduos e os grupos consideram somente seus próprios interesses e não o dos outros. Por esse motivo, o mundo deixa de ser o lugar da verdadeira fraternidade, enquanto o aumento do poder da humanidade ameaça destruir o próprio gênero humano. Se alguém pergunta como pode ser vencida essa miserável situação, os cristãos afirmam que todas as atividades humanas, quotidianamente postas em perigo pelo orgulho do homem e o amor desordenado de si mesmo, precisam ser purificadas e levadas à perfeição por meio da cruz e ressurreição de Cristo. Redimido por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar as coisas criadas pelo próprio Deus. Com efeito, recebe-as de Deus; olha-as e respeita-as como dons vindos das mãos de Deus" (Gaudium et Spes 37).

O acontecimento primordial da fé cristã é o Mistério Pascal de Jesus Cristo, em sua Morte e Ressurreição. Acreditamos com toda a força de nossa alma que a vida humana encontra sentido justamente em Cristo. Nele todas as esperanças podem se realizar e todos os esforços pelo bem e pela verdade chegam a porto seguro. Quando professamos a fé, temos a certeza de que Jesus Cristo é caminho, Verdade e Vida para todos. Cabe-nos respeitar as pessoas que têm outras convicções religiosas e existenciais, mas não nos é lícito omitir-nos na proclamação da verdade da fé.

Em torno da Ressurreição de Cristo, toda a prática religiosa cristã se organizou, no correr dos séculos. O dia dos dias é o domingo, pois Jesus venceu a morte, o pecado e a dor no primeiro dia da semana. Assim, para os cristãos esta realidade supera os ciclos naturais, ainda que dias, noites, meses e anos sejam vividos por nós junto com as outras pessoas. Vivemos entre dois polos de tensão, "dependurados" na certeza da Ressurreição e na volta do Senhor, no fim dos tempos, quando Deus for tudo em todos. Por isso a Igreja clama com confiança: "Anunciamos, Senhor, a vossa Morte, proclamamos a vossa Ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!"

Do Domingo veio a semana cristã, dele se ampliaram os horizontes celebrativos, para que o mistério de Cristo se faça sempre presente e atual. Do dia da Ressurreição veio a Páscoa anual, celebrada com toda solenidade. Os mistérios da vida de Cristo vieram, pouco a pouco, a ser comemorados, sempre com a Santa Missa, presença e renovação do Sacrifício do Calvário, tudo marcado pela abundante proclamação da Palavra de Deus. As pessoas que escolheram seguir Jesus Cristo e o fizeram com radicalidade, que nós chamamos de santos e santas, são recordadas no dia de sua Páscoa pessoal na morte, o que levou a Igreja a celebrar, também com a Santa Missa, seus exemplos e sua intercessão orante pelos que caminham rumo à pátria definitiva. Nosso calendário é chamado "litúrgico" porque se organiza em torno do único mistério, Jesus Cristo, nosso Salvador, que morreu e ressuscitou para nos salvar. A cada ano, retornamos apenas às mesmas celebrações, mas nos encontramos crescidos e mais amadurecidos na fé, para testemunhá-la mais ainda.

Este deve ser o programa de vida do cristão. Entende-se assim porque nossas famílias incutiram em nós o gosto pelas celebrações da Igreja. Batismo, Primeira Comunhão, Crisma, Matrimônio marcam este ritmo, a que se acrescentam as devoções das famílias, ou as festas de padroeiros, Círios, Coroações, Novenas, Procissões. Parecemos agradavelmente teimosos, sem permitir que outras realidades nos engulam de vez! Olho assim para a realidade amazônica, mas quero ver mais longe, por saber que em todos os quadrantes há cristãos assim dispostos a manter viva, não só a fé, mas também uma sadia influência na cultura do tempo em que vivemos.

Entretanto, nosso calendário católico oferece ao mundo uma semana especial, e estamos às suas portas, chamada santa por causa do Senhor que se faz presente com intensidade, suscitando a conversão aos valores do Evangelho. Chegue a todos o convite da Igreja Católica para a grande missão chamada Semana Santa! Esta semana é grande porque a Palavra de Deus é oferecida com abundância. A Semana é Santa e é grande por causa do mistério de Cristo celebrado na Liturgia a partir do Domingo de Ramos, para chegar ao Tríduo Pascal, de Quinta-feira Santa, ao cair da tarde, até Domingo de Páscoa, tendo seu ponto mais alto na Vigília Pascal na Noite Santa. Não dá para sermos espectadores, pois tudo o que acontece é em vista de nossa vida cristã e de nossa salvação. Quando foi publicado o cartaz da Campanha da Fraternidade de 2015, a figura do Papa Francisco realizando o lava-pés na Semana Santa deixou uma forte impressão em todo o país. O rito não tem nada de teatral, nem mesmo de gestos do passado. É extremamente atual e provocante! E a Sexta-feira Santa traz consigo o chamado ao seguimento de Jesus, para conduzir-nos depois à Páscoa, celebrada em seu coração, da Vigília Pascal para o Domingo.

E que dizer dos grandes sermões pronunciados na Semana Santa? Em nossa Belém, o Sermão das Três Horas da Agonia, com as Sete Palavras de Jesus na Cruz, na Sexta-feira Santa, abre ouvidos e corações a cada ano. Pelas ruas, a Via-Sacra, o Sermão do Encontro, o descendimento da Cruz, tudo se torna anúncio, resposta de fé e vida nova para todos. Além das celebrações litúrgicas e dos grande sermões, os acontecimentos pascais são também encenados com capricho por uma infinidade de grupos. A Paixão de Cristo é o episódio da história da humanidade mais representada em peças teatrais. Quanta gente já encontrou emoção e conversão assistindo nas praças públicas estes espetáculos.

Permaneça em nós, na grande Semana, o apelo de Santo Atanásio, que vale como convite: "É muito belo passar de uma para outra festa, de uma oração para outra, de uma solenidade para outra solenidade. Aproxima-se o tempo que nos traz um novo início e o anúncio da santa Páscoa, na qual o Senhor foi imolado. O Deus que desde o princípio instituiu esta festa para nós, concede-nos a graça de celebrá-la cada ano. Ele que, para nossa salvação, entregou à morte seu próprio Filho, pelo mesmo motivo nos proporciona esta santa solenidade que não tem igual no decurso do ano. Esta festa nos sustenta no meio das aflições. Por ela Deus nos concede a alegria da salvação e nos faz amigos uns dos outros. É este um milagre de sua bondade: congrega nesta festa os que estão longe e reúne na unidade da fé os que, porventura, se encontram fisicamente afastados" (Das Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo).
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Aclamemos ao Rei Servo solidário e compassivo!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)


Iniciamos a Semana Santa, a Semana Maior, cenário e fonte do perdão e da misericórdia, entrando em Jerusalém com o Rei Servo solidário e compassivo. Com os jovens hebreus de então e os jovens de hoje, que neste dia celebram a jornada mundial de oração com o lema de 2015: Bem aventurados os puros de coração, por que verão a Deus, (Mt. 5,8); queremos aclamar com alegria e fidelidade ao Salvador de nossas vidas. Neste domingo os cristãos que acompanharam toda a caminhada quaresmal de conversão da indiferença para o amor, doação e da acomodação para o serviço que promove e emancipa os irmãos, deveríamos nos questionar: a quem queremos servir e como queremos servir?

Muitos neste Domingo acolheram a Jesus com Ramos e gritos de Hosana ao Filho de Davi, mas não muito depois, na sexta-feira, vociferaram crucifica-o, optando por Barrabás. Isto acontece também em nossos dias quando permanecemos numa religião de conforto e complacência, de prosperidade material e nos vemos de repente imersos no mundo da dor e sofrimento, não somos capazes de crescer nos desafios do compromisso e no testemunho que implica dar a vida, aceitar a entrega gratuita e sem retorno.

Por isso é importante responder a quem queremos realmente servir: a Jesus Cristo o Rei Servo e irmão que veio para nos reconciliar com o Pai e gerar um mundo fraterno e justo, ou as caricaturas de um Messias que anseia o poder, e que promete bonança econômica para os seus seguidores. Como queremos servir, pois muitos aceitam Jesus,mas não aceitam segui-lo através do caminho da Cruz, do serviço abnegado do amor que se esquece de si mesmo e partilha sua vida com os pobres e abandonados; ou preferimos o caminho do sucesso, do serviço que trás holofote, que tem placar garantido para a ascensão social e para o carreirismo eclesiástico?

Da sinceridade com que resolvamos estas duas questões, dependerá o nosso projeto de vida, a autenticidade do nosso cristianismo, a fecundidade de nossa missão. Que esta semana santa não se esgote num turismo religioso ou num roteiro de devoções periféricas, mas nos leve a viver e celebrar a paixão e ressurreição do Senhor com fé e compromisso, assumindo sem reservas nossa identidade cristã e nosso firme propósito de servir com amor e gratuidade ao Reino que Jesus veio instaurar na nossa vida e na história de toda a humanidade. Deus seja louvado!
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O que se celebra na Semana Santa
Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas (TO)


A Igreja Católica abre liturgicamente, com o Domingo de Ramos e da Paixão, a Semana Santa. Este Domingo, portanto, é a porta de abertura e de entrada da Semana Santa. De forma muito breve, podemos afirmar que as ações litúrgicas da Igreja são, ao mesmo tempo, ações rememorativas (fazem memória litúrgica de um evento salvífico), demonstrativas (atualizam seus efeitos salvifícos) e prognósticas (abrem as portas do futuro escatológico). No Domingo de Ramos e da Paixão os dois mistérios centrais da vida de Jesus e, por conseguinte, da vida cristã, são rememorados, demonstrados e prognosticados. Na celebração da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a Igreja faz, solenemente, o anúncio pascal da paixão morte e ressurreição de Jesus. Vejamos:

Primeiro, Paulo, na Carta aos Filipenses, descreve o esvaziamento de Jesus, ao assumir a condição de escravo, fazendo-se igual ao homem, obediente até a morte de cruz (Fl 2,6-8). Marcos completa a tragicidade desta paixão, ao afirmar que Jesus entra em Jerusalém pequeno, humilde e pobre, montado num jumento (Mc 11,1-7). E em seguida, anuncia a sua paixão com todos os detalhamentos que ela comporta (Mc 15,1-39).

Segundo, por causa disto, diz também Paulo que Deus o exaltou e lhe deu o nome que está acima de qualquer nome. E diante do nome de Jesus todo joelho se dobra no céu, na terra e nos inferno e toda língua proclama: Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai (Fl 2,9-11). Marcos completa esta informação dizendo que o povo, ao ver Jesus entrar triunfalmente em Jerusalém, estendeu seus mantos, espalhou seus ramos e gritou: Hosana (que literalmente significa: “dá-nos a salvação”)! Domingos de Ramos e da Paixão é, neste sentido, didático, catequético, litúrgico, pedagógico e propedêutico.

Ao longo dos outros dias da Semana Santa, sobretudo a partir da quinta-feira santa, nas outras celebrações adicionais, tais como a bênção dos santos óleos, o lava-pés, a adoração eucarística, a via-sacra e a encenação da paixão, o mistério da morte e ressurreição de Jesus, serão rememorados, demonstrados e prognosticados. Descaremos, aqui, de forma muito breve, somente as três Páscoas:

A Páscoa da Ceia: Na quinta-feira, celebramos a ceia do Senhor, a instituição do mandamento do amor fraterno e do sacerdócio ministerial. João, o evangelista, interpreta o sentimento mais profundo de Jesus, na última ceia, com as seguintes palavras: “tendo Jesus amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Durante a ceia, Jesus cingiu-se com uma toalha e lavou os pés dos discípulos. Em seguida, comeu a páscoa com eles. Nesta celebração, comumente chamada de “Páscoa da Ceia”, Jesus se dá no pão e no vinho. Seu corpo e seu sangue já não são mais seus. Já foram dados. Portanto, Jesus sai da ceia literalmente morto.

A Páscoa da Cruz: Na sexta-feira este sentimento de doação de Jesus chega ao seu ápice. Jesus não somente anuncia, introduz e simboliza, mas também realiza e expressa, de forma total e radical, esta sua sede de doação. É na celebração da adoração da cruz que a Igreja faz memória litúrgica da Páscoa da Cruz. Os evangelistas traduzem, com palavras muito fortes, o que aconteceu na hora da morte de Jesus, ao afirmar que houve uma celebração fúnebre, da qual participou inteiramente a criação: “uma escuridão cobriu a terra, o sol escondeu-se, o véu do templo rasgou-se em dois, a terra tremeu, os mortos ressuscitaram” (Lc 23,45; Mc 15,38; Mt 27,51-52). Importante também foi a profissão de fé do centurião romano: “verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). A morte na cruz, segundo o papa emérito Bento XVI, “é um acontecimento cósmico e litúrgico”. Depois disso, inicia-se o grande silêncio litúrgico. A Páscoa da Ressurreição: Todos os sentimentos de luto, de vigília, vividos em profundo espírito de contrição, comoção, obediência, luto e oração, são quebrados pelos brados de alegria e de aleluia, cantados nesta da vigília pascal que, segundo Santo Agostinho, é a mãe de todas as vigílias. O clima litúrgico se transforma totalmente quando a comunidade cristã proclama, solenemente, a ressurreição de Jesus. Trata-se, pois, de uma solene celebração de vigília. Destacamos aqui a celebração da luz, da água, da renovação das promessas batismais, da Palavra, em abundância, na qual se faz memória da criação, da libertação do Egito e em crescendo, se passa por todas as fases salientes da história da salvação, até chegar à glória da ressurreição. Quem chega a crer na ressurreição, crê no mistério final e sublime da fé cristã e chega ao ponto mais alto da espiritualidade cristã.

É tudo isto que celebramos na Semana Santa. Depois desta solene noite santa, tudo passa a ser páscoa, ressurreição e vida nova, até que se complete cinquenta dias.

Então, boa Semana Santa para todos nós.
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