Como uma semente


14/06/2015 - 21:43
Cardeal Orani João Tempesta Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Depois da solene Festa do Sagrado Coração de Jesus, que foi também o Dia de Oração pela Santificação Sacerdotal, e da memória carinhosa do Imaculado Coração de Maria, neste ano coincidindo com a de Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa, chegamos ao 11º Domingo do Tempo Comum. Neste domingo em que ouvimos parábolas do Reino e com comparações bem simples, somos chamados a abrir o coração para acolher o Senhor que nos convoca. Estejamos atentos, porque o Senhor nos falando do Reino de Deus, Reino que começa aqui, experimentado quando nós abrimos para o anúncio de Jesus; Reino que será pleno na glória, quando cada um de nós e toda a humanidade, com a sua história, entrar, um dia, na plenitude do coração da Trindade Santa.

O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o Reino de Deus vem de modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas. Pequenas como um grãozinho jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho frágil e sem aparente valor. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho retirado da ponta da grande árvore da dinastia de Davi... aquele brotinho pobre, da carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir. Os modos de Deus, a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de nossas expectativas!

Outra lição deste domingo cotidiano: o Reino vem aos poucos. Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo e irá crescendo como a semente, como o grão de mostarda, aos poucos. Somos tão impacientes, gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos. Mas, não! Se os pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos são iguais aos da gente! Somente perseverará na paciência aquele que souber adequar-se aos tempos de Deus. E Deus contempla o tempo na perspectiva da eternidade e não das nossas pressas. Assim vai o Reino brotando humildemente na história e no coração do mundo, de um modo que somente quem reza e contempla pode perceber.

Nós, filhos de um mundo tão pragmático e autossuficiente, temos tanta dificuldade em perceber a ação de Deus! Pensamos que nós é que fazemos, que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da história! Como estamos enganados! É Deus quem faz o Reino desenvolver-se na potência do Espírito. Que diz o Senhor? "O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece"! Nós, com a graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo trouxe. Como plantamo-lo? Plantamos quando nós nos abrimos à graça, plantamos com nosso exemplo, plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação. Mas, cuidado! É o próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino crescer: é obra D’Ele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta, outro, o que rega, mas é Deus quem faz crescer. É assim que Deus vai agindo, tomando nossas pobres sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e suavidade.

Um dia, diz Jesus, chegará o momento da colheita. Haverá um fim na história humana, caríssimos, e, então, "todos deveremos comparecer ante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito na sua vida corporal". Não adianta querer esquecer, de nada serve fingir que não sabemos: aqui estamos de passagem, aqui vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que Deus mesmo faz crescer; mas, a colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino que começa no tempo, haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve fecundar a história somente será pleno e definitivo na glória. Como seríamos mais livres, equilibrados se recordássemos essa realidade! Como teríamos o cuidado de viver de tal modo, que não perdêssemos o Reino! Não entrará no Reino quem não permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós que entramos no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino é abrir-se para o Cristo Jesus! Abramo-nos para Ele e Ele nos abrirá o seu Reino!

Uma última lição de Jesus para nós, hoje: o seu sonho é que todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai na qual há muitas moradas! É por isso que, na Primeira Leitura, pousarão todos os pássaros à sombra da ramagem da árvore que é o Messias, e as aves aí farão ninhos. O mesmo Jesus diz do Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que germina e se torna arvora frondosa. O Senhor nos ama a todos, nos quer todos felizes, nos chama a todos! Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o compasso do seu coração, experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com provações, e, um dia, haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor Jesus, dá-nos, pois, a graça de abrir as portas do nosso coração e do coração do mundo para o Reino do Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na potência do teu Espírito que habita em nós e no coração da Igreja! E que através de nós, ele se faça sempre mais presente no mundo. Que neste Ano da Esperança, o Senhor nos conduza para sermos sempre mais suas testemunhas!


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